Antes que o dia termine (Zurena)

Não é apenas uma coincidência

(...)

Zulema sai do bar, as pressas, chamando um táxi;

- Rua Mackenzie, por favor - avisa e entra no carro.

- Ok, Sra - o motorista avisa, dando partida no carro.

Ela não tinha percebido de imediato, mas quando o motorista a olha pelo retrovisor, ela toma um susto, era aquele mesmo homem do sonho;

- Eu não acredito nisso - diz, assustada.

- Como Sra? Não entendi.

- Você. É o motorista de ontem!

- Tudo é possível- a olha mais uma vez pelo retrovisor.

- Ontem o senhor sabia algumas coisas sobre a minha vida.

- Sobre a sua vida amorosa?

- É, isso mesmo.

- É como dizem por aí, taxistas são como os barmans, conhecemos os problemas do coração.

- Nossa! - se exalta -  E disse exatamente essa mesma coisa! Além de quê, você é identico ao homem de ontem. Se esse táxi é o mesmo, então hoje vai ser tudo idêntico. No final do dia a minha namorada vai pegar esse mesmo táxi e o semáforo vai fechar, vai ter um acidente e ela... ela... - pausa, não consegue terminar de dizer a frase - É isso que vai acontecer?

O motorista apenas a escuta, sem dizer uma palavra sequer, a olhando de 10 em 10 segundos pelo retrovisor.

- É isso? É isso que vai acontecer? - ela aumenta o tom da voz - E se eu não deixar ela pegar o táxi? E se a gente sumir de Madrid? Quem sabe, se ficarmos em casa? - queria chorar, o coração estava apertado - Me diga o que fazer! Tem que ter alguma coisa que eu possa fazer para evitar tudo? Que droga!

- Só há uma coisa, Sra.

- Me diga, por favor!

- Aprecie-a. E aprecie tudo o que você possui - se vira para ela - Apenas ame-a, com todo seu coração.

Zulema se exalta, tentando abrir a porta do táxi sem sucesso, estava trancada.

- Deixa eu sair - se desespera - Deixa eu sair, por favor!

- Com certeza, senhora.

Zulema abre a sua bolsa, procurando algumas cedulas de dinheiro para pagar o motorista e ele percebe, sorrindo de lado.

- Não precisa me pagar.

- Ué, por quê não?

- Você já me pagou ontem. - se vira - E é melhor se apressar, não tem muito tempo.

Zulema não fala nada, desce do carro no meio da avenida e sai, correndo em disparada.
Não sabia onde a Macarena estava, ligava incessantemente para ela mas só dava caixa postal. Já estava começando a se desesperar...

Corre até a escola onde a Macarena lecionava. Entra em todas as salas, perguntando por algum aluno chamado Oliver;

- Olá! Oliver, por favor?

- Tem três aqui e três em uma outra sala. Você está bem? - um dos professores diz, notando o estado desesperado dela.

- Não, mas obrigada - sai.

Rodou a escola toda em busca do tal Oliver, mas não o encontrou. Era algo frustrante. Saindo da escola e falhando na missão, corre até sua casa, onde Macarena também não estava.

Passava a mão pelos cabelos sem parar quando se lembra de Rizos, talvez sua loira poderia estar no apartamento dela.
Cachinhos morava no ultimo andar do edifício, e é desesperador a demora em que o elevador se move até la.
Chegando, bate na porta inúmeras vezes. Nunca esteve tão impaciente.

- Kabila! - grita - Você está aí? - bate novamente na porta e dessa vez mais forte.

Um zelador que estava limpando o corredor ao lado, escuta o barulho e vai averiguar o que está acontecendo;

- Posso ajudar, moça?

- Ah... Oi, sim. Talvez você não me conheça mas eu sou namorada da amiga da Kabila e isso pode parecer estranho mas... mas eu preciso entrar nesse apartamento.

- É. Eu nunca te vi por aqui - ri

- Eu sei, sou namorada da melhor amiga dela. Conhece a Macarena? Uma loira, mais baixa do que eu.

- Ah! Claro! Eu a amo! Todos a amam! ah... se eu fosse alguns anos mais novo...

Se assusta. Ela já tinha escutado aquela frase antes, não tinha? Ao olhar para a roupa dele, havia um crachá com suas informações e o nome dele estava em destaque... Oliver.

Não poderia ser. A visão dela começa a ficar embaçada, tropeça alguns passos para trás. Não. Não. Não... Ela corre em direção a saida do apartamento sem dizer mais nada, não conseguia mais ficar ali. Tinha que ter um jeito!

- Pensa, Zulema, pensa! - dizia para si mesma - A Cachinhos trabalha numa loja... 'Zinc'! - tinha se lembrado de quando a Maca mencionou o nome da loja da amiga no sonho - É isso! - sai correndo mais uma vez, já tinha perdido muito tempo.

(...)

- E aí Rizos, a gente vai comer alguma coisa? Eu estou morta de fome, mal tomei café da manhã - Macarena, que estava sentada, fala.

- Aí, não seja tão reclamona, Maca.- brinca e ambas riem.

- MACA! - Zulema entra do nada na loja - Meu Deus, que bom que você está bem - a beija.

- O que você ta fazendo aqui?

- Desculpa. A gente vai ter que sair daqui agora mesmo.

- Quê? O que te deu hoje, amor? - pergunta, confusa.

- Olha, não sei, mas você tem que confiar em mim. Tá acontecendo alguma coisa desde ontem. Tá tudo misturado mas de alguma maneira, tá acontecendo - diz tudo, num fôlego só.

- Zule, a gente já falou sobre isso, lembra?

- É. Eu sei, eu sei. E talvez você tenha toda a razão. Pode ser apenas stress meu, mas tudo que eu sei é... que temos que sair de Madrid. Imediatamente!

- Eu.. prometi pra Cachinhos que a ajudaria hoje, Zule! - sussura.

- Mas você já me ajudou bastante, Maca! Pode ir - Kabila fala e Macarena a olha, fazendo cara feia.

Zulema sai em busca dos pertences da loira colocando tudo em sua bolsa, apressada.

- Vamos, Maca! - a puxa para fora da loja.

- Espera, tchau Rizos, falo com você depois - mal se despede e é carregada pela namorada - Mas ei, espera aí, Zulema, a minha audição é hoje, eu não posso perder!

- Eu te trago de volta a tempo, eu prometo! Só temos que sair daqui agora....

Enquanto dizia isso, um quase acidente acontece a poucos metros de onde elas estavam.

Zulema se assusta, estava acontecendo. Puxou o braço da Macarena, fazendo ela andar rápido, quase correndo.

- Vamos, agora! Eu preciso te tirar de Madrid. Confie em mim.

- Tá bom, eu hein!

(...)

Caminharam a pé até uma estação de trem. Zulema não queria andar de avião e muito menos de carro. Tinha que ser algo diferente.

- Amor, compra duas passagens para gente, você pode escolher o lugar! - Zulema diz entregando o dinheiro para a mais nova.

- Posso escolher qualquer lugar mesmo?

- Sim. Sua preferência.

- Tá. Me espera aqui.

Zulema então se senta em um dos bancos de espera, observando de longe Macarena indo comprar as passagens. Não podia tirar um segundo sequer os olhos dela, estava mais aflita que tudo.

(...)

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Finjam que esse sumiço não aconteceu e tá tudo bem ✨🙃