Garota de Madrid.

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(...)

30 minutos depois, Macarena desperta, só então se dando conta de que ainda estavam nuas e deitadas no chão perto da lareira. Zulema ainda dormia serenamente e ela apreciava a beleza da namorada dormindo. Como poderia alguém chegar tão perto da semelhança de um anjo? Não que ela já tivesse visto algum, mas sabia com toda a certeza do mundo que Zulema se assemelharia com o mais bonito deles. Após segundos apreciando a beleza da mais velha, ela decide acordá-la, precisavam continuar conhecendo a cidade;

-Zule, acorda, a chuva parou, você ainda quer ir até o topo do morro? - sussurrou.

- Não. Quero te levar para outro lugar. - coça o olho, o cochilo tinha revigorado suas forças.

- Ai, a gente vai ter que escalar outro morro? - pergunta, fazendo cara feia.

- Não - ri e beija o topo da cabeça dela.

- Então vamos esperar mais um pouco aqui.

- É uma boa ideia.

(...)

Minutos depois, após estarem devidamentes vestidas, Zulema decide levar a Macarena para um local que marcou sua infância/adolescência; Um pequeno bar antigo, que seu pai trabalhava e ela frequentava diáriamente.

(...)

Ainda tinham alguns retratos dele e de sua esposa, em cima de uma das prateleiras do bar e Macarena analisava todas, atenta e silenciosamente. Pareciam uma família feliz.

- É... O seu pai era realmente bonito. Bom, então eu acho que você puxou a sua mãe pelo visto - brinca e a mais velha ri.

- Vem cá, senta aqui - Zulema a chama.

- Ele passava muito tempo aqui?

- Aham. Passava. Depois de se aposentar, em 1983. Ficava aqui o tempo todo. Ele era o herói da minha infância - ri, recordativa - Eu achava que ele era o homem mais forte do mundo. Ele era tão orgulhoso... O seu trabalho na fábrica não era qualquer um pra ele, sabe? Todo mundo amava ele lá. E a nossa familia, venerava ele.

- Ele parece ser maravilhoso.

- Ele é. - olha para o teto, triste - Ele era. E daí, o dono daqui resolveu se mudar e todo mundo perdeu o emprego. Ele nunca trabalhou de novo. Aqui era o segundo lar dele. - ela lutava contra as lágrimas que teimosamente queriam descer de seus olhos - Depois dos meus 16 anos, eu nunca mais consegui ver ele sóbrio. E coloquei na minha cabeça que isso jamais aconteceria comigo... Tipo, de viver a minha vida pelos caprichos alheios - desabafa.

- Você não tem que viver assim, Zule- a loira coloca uma mecha de cabelo que estava caindo em seu rosto, por trás da sua orelha.

- É. Eu sei disso agora... Eu queria poder ter ajudado ele, sabe?

- Você era apenas uma pequena garota.

- Eu sei. Mas ver o seu pai... ver o seu héroi se dissolver na frente de seus olhos foi muito...

- Você ama mesmo o seu pai, não é?

- Sim, muito. E eu queria que ele soubesse o quanto.

- Onde quer que ele esteja eu aposto que ele sabe disso. Zulema, a morte não coloca um fim no amor.

- Você acha? - diz, derramando algumas lágrimas.

- Eu tenho certeza disso - passa o polegar embaixo dos olhos dela, enxugando suas lágrimas. - Porque você nunca me contou isso antes?

- Acho que eu não queria sentir nada disso de novo, sabe? Mas eu.... E-eu to muito feliz por você estar aqui.

- Eu também. Eu também. - encosta sua testa na dela firmemente, fechando os olhos e acariciando a bochecha dela.

Macarena sentia de longe a dor da namorada e isso estava a matando por dentro. Mas não disse nada, Zulema precisava apenas por aquilo tudo para fora. Apenas ser ouvida. E foi o que ela fez.

(...)

Após sairem do bar, começaram a andar juntas e de mãos dadas pela pequena cidade. Aprenciando a vista, que era incrível.

- Sabe, Zule, eu não queria ter que voltar...

- Voltar pra onde? - para no meio do caminho.

- Para Madrid. A minha audição de formatura, ainda não caiu a ficha?

- Esquece. A gente não tem que voltar. A gente só pega um trem e... sai por ai.

- Que? Deixa eu ver... Eu toco violino há seis anos. Estudei por três anos e irei me formar na melhor faculdade de música da Espanha. Muita coisa, não acha? Então eu acho que... nós vamos para casa! - anda, deixando a namorada um pouco para trás - Você não vai vir?

Zulema continuou parada, pensando que nada do que diria iria fazer Macarena mudar de ideia e isso estava lhe machucando muito. O seu semblante era sério e ela apenas olhava para sua namorada, observando seus cabelos loiros voarem por causa do vento forte que fazia ali.

- O que foi? - Macarena estranha.

- Nada. Vamos. - e continua a andar.

(...)

Algumas horinhas depois, já estavam saindo do trem. Haviam chegado em Madrid antes de anoitecer completamente. Andavam juntas calmamente por uma praça, quando Zulema avista uma coisa mais a frente, tendo a ideia de levar sua namorada para um pequeno passeio numa famosa roda gigante que tem em Madrid.

- Eu tive uma ideia e acho que você vai gostar.

- O que é?

- Vamos dar um passeio.

- Onde? - responde, confusa. Elas tinham acabado de voltar de um.

- Ali, na roda gigante - a puxa, começando a correr na direção do lugar.

- Olha, eu acho que a gente não tem mais tempo, posso me atrasar.

- Deixa de ser boba, Maca - ri

- É melhor a gente voltar para casa - grita.

- Que nada.

Zulema compra e paga as duas entradas. E corre em direção a cabine da roda gigante, entrando nela mas antes de entrar, Macarena para e se vira de costas, respirando fundo e Zulema percebe.

- Ué? Porque você não vem? Se sempre quis andar numa dessas.

- É. Mas o motivo maior pelo qual eu nunca andei, é que eu tenho medo de altura!

- Amor! - ri - Não fica com medo não. Eu estou aqui com você. Estará segura em meus braços. - a puxa devagarzinho para dentro da cabine.

- Ah não, as portas.. elas vão se fechar!

- Não tenha medo. Eu estou aqui.

(...)

Já no alto, Macarena observava a grande Madrid. O céu já estava escuro e a cidade estava sendo iluminada pela lua gigante e pelas luzes das casas e prédios dali.

-Zulema! É tudo tão lindo daqui de cima!

- Gostou? Ainda está com medo?

- Não. Só é esquisito ver todas as pessoas lá em baixo. Mas acho que superei - ri.

- Tá vendo só? O medo só está nessa sua cabecinha linda.

-Zule, me desculpa se eu pareci uma bebezona, tá? - ri envergonhada, olhando para os seus pés.

Zulema ri alto.

- O que foi? Porque você está rindo? Me fala!

- Onde que você aprendeu a ser assim?

- Assim como?

- Agindo feito uma criança de seis anos.

- Com a Cachinhos. Fiz certo? - brinca

- Fez sim. Não poderia ter feito melhor.

- Obrigada - para de rir, ficando séria.

- Pelo quê?

- Pelo dia perfeito.

- Ah, não foi nada... Espero que tenha gostado.

(...)

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Antes que o dia termine (Zurena)Onde histórias criam vida. Descubra agora