Capítulo 6

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Marília:

Após tomar um banho demorado, passei o resto da noite no quarto trancada e lembrando de algumas coisas. Sempre fui uma pessoa que não ligava para a aparência, isso porque eu acreditava que os homens deveriam se apaixonar pela personalidade, jeito ou suas qualidades interiores. Porém isso mudou quando eu realmente me apaixonei de verdade, no início me recusava a vê-lo dessa forma, porque sempre foi tão carinhoso comigo e pensei estar confundindo as coisas, que era só amizade e que eu estava fantasiando uma paixão adolescente, resolvi deixar de lado esse sentimento, mas quando comecei a presenciar as mulheres que ele se envolvia, magras, lindas e deslumbrantes, a minha aparência começou a me incomodar... Afastei esses pensamentos quando começamos a nos envolver nessa história doida, e ele começou a querer a controlar minha vida, minhas roupas, meus amigos e até minha família, se tornou literalmente meu dono, como disse tínhamos um relacionamento nada saudável e completamente abusivo, o mais engraçado é que ninguém nunca quis se intrometer nisso.

Por um período de tempo, enquanto era ingênua me sentia nas nuvens com tanto controle, tanto cuidado. Aí quando ele me mostrou o mundo, comecei a me tornar rebelde e desaforada, pelas atitudes dele também, e os problemas e brigas começaram a aparecer, comecei a me relacionar com outras pessoas, estava cansada de ser feita de trouxa e decidi viver em pé de igualdade com ele, virei a versão feminina dele, pegando geral e isso deixou ele furioso, pois a maioria das mulheres que ele se envolvia era submissa e fazia de tudo para agradá-lo e eu fazia tudo ao contrário, e me fez duvidar que algum dia ele iria mudar e assumir um relacionamento sério comigo.

Henrique dizia que me amava, mas não conseguia ficar sem um rabo de saia e aquilo me magoava muito, comecei a fingir que não me incomodava, era uma forma de sofrer menos. Mas aquele sentimento de que a minha aparência era a causa do problema, me assolava de vez em quando, ele nunca me fez eu me sentir desse jeito, sempre exaltou minha beleza natural, dizia que adorava tudo em mim, mas a minha pergunta era: Por quê as namoradas dele eram tão magras, isso claro comparado a minha pessoa é claro?

E quando resolvi mudar, não só por isso, mas também pela minha saúde que estava a beira do precipício, fiz as recomendações médicas e consegui emagrecer 20k, não vou mentir, isso aumentou minha autoestima, e o Henrique surtou de vez, eu nunca tinha usado um cropped na vida, resolvi experimentar a sensação na gravação do dvd "menos é mais", depois que finalizou a gravação e ele me arrastou para casa principal para conversar comigo, pensa num homem possesso de raiva, lembro até hoje do que ele disse:

_Você quer que eu cometa uma loucura agora e volte lá e fale para todo mundo que a Marília Mendonça que tanto me desdenha? Na verdade esconde um relacionamento comigo há anos e não quer expor? Você ficou maluca ? Não me provoque, que não está preparada para as consequências._ Disse apontando o dedo para mim. _ Sabe Marília , tenho te observando nos últimos anos e a verdade é que você quer guerra comigo, isso se tornou uma competição, mas vou deixar uma coisa bem clara aqui, isso não vai terminar bem e mais uma coisa você vai perder e vai ser doloroso. Estou cansado disso já, você sempre escondendo esse relacionamento, parece que o motivo é que você não me ama o suficiente para se jogar nesse amor comigo._ Disse com raiva.

Henrique estava puto comigo, tinha noção disso, eu provoquei o incêndio quando decidi colocar aquela roupa que era o principal motivo do surto, o que ele não sabia é que eu agi assim por ciúmes, era a última noite de gravação, e depois de saber que a atual atração dele do momento, estava circulando por lá e ainda tive que fingir amizade e irmandade, confesso que fiquei possessa de raiva também, porque outra vez ele estava me fazendo de trouxa, só que ouvir aquelas palavras me deram medo, senti um aperto no peito ao ouvir ele falar daquele jeito, mas não deixei barato, como sempre.

_É assim que você diz que me ama? Trazendo suas peguetes para sua casa, e eu tendo que conviver com essas biscates? Sabe Henrique você tem um jeito estranho de amar você não acha? Questionei. _ E o que foi aquele papel ridículo de ciúme doentio na frente de toda aquela gente? _ Falei pelo fato de que ele praticamente me expulsou do palco quando as pessoas começaram me chamar de "gostosa".

_ EU TE AMO, PORRA! Não entendi isso? _ Falou me encurralando na parede do quarto, o que me deixou assustada pelo grito. _ Estamos nos destruindo nesse relacionamento, Marília. Eu quero estabilidade, casar, ter filhos e você parece que não está afim disso, eu cansei de tentar._ Disse balançando a cabeça negativamente, saiu do quarto me deixando sozinha.

Na minha cabeça ele tinha planejado tudo isso, por qual outro motivo ele iria acertar tanto assim, em dizer que naquele jogo eu iria perder e ia ser doloroso? Dali uns meses veio a bomba que ele seria pai, mudei essa ideia quando atendi sua ligação e ele chorou muito desesperado, para tentar explicar o que tinha acontecido, mas eu não queria ouvir, meu coração estava destroçado, e só brigamos e discutimos naquela noite do dia 07 de novembro de 2018, por causa da forma que eu recebi a notícia.

Na semana seguinte, após diversas tentativas de falar comigo sem sucesso, ele apareceu completamente bêbado na minha casa, implorando para mim falar com ele, no início me neguei, mas minha mãe ao vê-lo naquela situação, pediu para trazê-lo para dentro de casa e ajudá-lo. Quando o coloquei no meu quarto, ele falava coisas desconexas, tirei a sua roupa para lhe dar um banho frio, reclamou muito quando a água fria entrou em seu corpo, após secá-lo e colocar a roupa, minha mãe trouxe um café preto forte e quente. Confesso que foi difícil, ficar tão próxima dele me deixava vulnerável.

_ Me perdoa, eu não planejei isso, eu não queria isso, isso aconteceu e fui um inconsequente, mas eu te amo, não quero que esqueça disso. _ Disse com lágrimas nos olhos, seu semblante era abatido, parecia que tinha bebido muito e chorado muito também, aquilo me desarmou.

_ Está doendo._ Falei já chorando novamente, o que tinha se tornado uma rotina diária.

_Eu sei meu anjo, eu estou destruído, não foi essa a vida que eu sonhei, não foi o futuro que eu planejei e o que mais está me matando é o fato que eu fui culpado e machuquei o amor da minha vida._ As lágrimas já desciam por seu rosto.

_ Henrique, porque está aqui? _ Falei com o rosto em lágrimas, _Eu preciso que você se afaste de mim, para poder seguir a minha vida._ Disse óbvia.

_Marília, diz que me perdoa!_ Ajoelhou na minha frente, segurando as minhas mãos.

_Não pode me pedir isso, sabe disso. _

_Por favor, eu preciso que me perdoe. _

_Henrique, na verdade acho que foi melhor assim, nunca daríamos certos como casal. Somos muito sanguíneos, isso não daria certo _ Falei tentando encontrar motivos para estancar o sofrimento.

_Perdi você não é?_

_Acho que você já está melhor, seria bom você ir para casa._ Disse levantando em direção a porta, mas Henrique me abraçou e ali eu desabei, queria guardar na memória esse cheiro para sempre.

_Meu amor, eu te amo. te amo tanto, tanto. _ Disse chorando comigo.

Após alguns minutos me acalmei saindo do seu abraço, mas nossos rostos estavam próximos e Henrique roçou o nariz no meu e me olhou nos olhos como se pedisse permissão e eu concedi, sabia que iria tocar aqueles lábios pela última vez.

E foi a última vez mesmo.....

 Na mesma proporção que brigamos, também nos amamos muito. A nossa agenda sempre lotada , mas Henrique sempre fugia para me encontrar nos hotéis que eu estava hospedada, então não posso ser hipócrita, teve muita briga? Sim. Muita discussão? Sim. Crise de ciúmes? Sim. Estresse? Sim. Mas também teve amor e sentimento e faria tudo de novo , se fosse possível....

Percebi que já passava das 00:00 h quando resolvi ir até a cozinha procurar algo para comer, minha mãe ainda estava na sala com o meu padrasto, mas levantou num salto quando ouviu barulho na cozinha.

_Marília, o que aconteceu? Bahia me disse que você acordou irritada e chegou a quebrar um perfume._ Falou como se tivesse chocada.

_Mãe, eu agradeço a preocupação, mas não estou a fim de falar disso._ Falei pegando um sanduíche natural que com certeza Mazé sabia que eu iria querer comer algo.

_Te amo tá? Boa noite!_ Disse beijando o rosto da minha mãe e voltei para o quarto.

De volta ao passadoOnde histórias criam vida. Descubra agora