Outro dia eu estava organizando algumas caixas velhas no sótão da minha casa, porque queria me livrar de uma boa parte daquelas tralhas que lá estavam completamente empoeiradas. O terror da minha rinite alérgica. Nada como uma bela limpeza para tudo com o aspecto “novo”, pois, gostaria muito de tirar um bom dinheiro vendendo aquelas coisas velhas.Lembro-me bem de, no fim daquele dia, estar completamente intoxicado por conta da enorme quantidade de poeira que havia ali. Infelizmente o trabalho árduo durou pouco mais que duas semanas porque eu não conseguia passar mais de uma hora lá dentro por isso precisava dar pequenas pausas durante o dia e essas pausas às vezes duravam horas. Eu não era um homem de muitos amigos e também não queria ser evasivo ao pedir ajuda aos vizinhos. Eu mal conversava com eles, era sempre o básico bom dia, tarde ou noite e não desenvolvi intimidade forte suficiente para me sentir a vontade em pedir ajuda sem sentir que estava incomodando, sem deixar de pensar que eles poderiam estar fazendo algo mais importante invés de me ajudarem. Estar sozinho sempre foi minha melhor companhia, por isso, sozinho, iniciei e finalizei aquela tortuosa limpeza.
Sobre as coisas velhas? Vejamos. Tinha de tudo. Quadros, livros, roupas, brinquedos (não eram os de criança), alguns lubrificantes e várias revistas de conteúdo duvidoso que eu imagino que vocês já saibam que se trata. Eu era um homem solitário e tinha minhas necessdiades. Então por favor, sem julgamentos.
Além de todas essas coisas, haviam várias pessoas de móveis velhos, alguns ainda inteiros, que eu simplesmente não usava mais e deixara guardados ali, na esperança de um dia encontrar utilidades para eles.
O fato é que isso não tem importância nenhuma para esta história, porque a merda acontece justamente quando estou no meu último dia de faxina e encontro algo que eu nunca havia visto em toda minha vida.
Em baixo de uma caixa estava um livro preto de couro duro de aparência antiga. Não tinha título, nem nome de autor, nada. Apenas uma enorme capa de couro preto que revestia todo encarte daquele estranho livro. As folhas ultrapassavam o aspecto de velhice devido ao exagerado tom amarelo-queimado, com um estranho cheiro de mofo que, por algum motivo, embelezavam o objeto.
É óbvio que eu fiquei curioso sobre o conteúdo daquele livro. Ao longo da faxina fui encontrando coisas que mal lembrava da existência e pensei que aquele livro era apenas mais um achado perdido. Eu tinha um diário na minha adolescência onde eu escrevia absolutamente tudo o que se passava na minha vida. Desde sonhos lúcidos e incomuns até experiências com ex-namoradas e ex-namorados. Todos os meus segredos obscuros estavam ali. Não que eu tivesse segredos tão grandes assim, mas tem coisas que não quero que o mundo saiba. Tipo quando meu tio entrou no meu quarto uma noite e…
NOSSA MAS POR QUE EU ESTOU FALANDO TANTO DA MINHA VIDA PESSOAL???
QUE MERDA!
Enfim.
Perdão, caros leitores.
Continuando.
Na minha cabeça, eu havia queimado aquele diário há anos junto com os outros. Porque eu tinha mais de um, não lembro ao certo quantos, mas passaram de 10. Eu tinha uma vida complicada, não tinha muitos amigos e escrever naqueles cadernos pequenos eram muito mais que minha terapia, eram meu motivo para continuar vivendo.
Eu tive a decência de escolher um modelo único para os diários. Eu sempre comprava um modelo simples, daqueles com capa que se assemelha à couro (sintético, obviamente) preto que dava a eles o aspecto “antigo”. Eu sempre adorei coisas vintage. Por isso foi automática a associação daquele livro aos meus diários. Imaginei que algum deles tivesse ficado para trás, porque, novamente, eu não sabia ao certo quantos tinha.
E, sem sombra de dúvidas, aquele não era um diário perdido. Descobri isso ao abrir aquela porcaria.
Eu sei que vocês devem estar me achando um idiota agora, mas, convenhamos, eu não estava em condições de imaginar que poderia ser um livro amaldiçoado. Porque, francamente, livro amaldiçoado? Por favor. Se vocês estivessem no meu lugar vocês teriam aberto o livro da mesma forma. Então não sejam hipócritas, beijos.
A princípio imaginei que fosse algum livro que eu comprei em algum momento da minha vida, porém, logo descartei ao ler o conteúdo. Era como se aquele estranho livro conversasse comigo. Como se fosse uma descrição da minha vida. Como se meus medos tivessem sido usados como inspiração para aquelas histórias ali presentes. E eu me identifiquei com cada uma daquelas palavras.
Naquele momento eu senti que precisava mostrar aquelas histórias para o mundo. Seja la quem escreveu, queria que eu as publicasse. E assim o fiz. Nunca me imagino publicando um livro antes, mas resolvi arriscar. Pelo menos a minha parte já estava feita.
Antes de prosseguirem com a leitura, eu gostaria de avisar a todos sobre o conteúdo que vem a seguir. Quero que estejam cientes que estão lendo isso por sua conta e risco e eu não irei me responsabilizar por qualquer dano psicológico que você venha a desenvolver após finalizar. De todo meu coração, se você não se sente confortável com histórias perturbadoras, NÃO LEIA ESTE LIVRO.
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Contos Noturnos - onde seus sonhos não existem
HorrorJá parou pra pensar no seu futuro? No seu final feliz? Já se imaginou cavalgando em um cavalo branco - clichê? - ao lado de seu Príncipe Encantado? Então deveria parar. Esqueça tudo o que você sabe sobre finais felizes porque eles NÃO existem. Em "C...