Decisões Erradas

43 11 76
                                    

Estávamos celebrando nosso primeiro mês de namoro. Ele disse que seria especial e eu estava contando com isso.

Fomos a um restaurante clássico. Caríssimo. Nada que eu já não estivesse acostumada, mas aquela noite seria diferente — se eu ao menos soubesse que aquela “diferença” não seria boa eu teria pulado fora.

Depois da sobremesa ele pediu a conta e se assustou com o valor final. Cômico, se não tivesse sido tão trágico. Esqueceu a carteira. Ah! O velho truque do “oh, esqueci minha carteira”. Eu deveria ter me afastado dele assim que descobri que ele estava comigo apenas pelo dinheiro. Não me importo com o fato dele ser um pilantra interesseiro idiota, eu estava encantada.

Era algo passageiro, preciso admitir. Se ele estava me usando, também estava usando ele. Eu me apaixonei por ele, sim, porque estava sofrendo. Acabara de perder meu marido quando ele apareceu. Preencheu um vazio que eu nem sabia que tinha. Com suas cantadas imbecis, com as noites de sexo maravilhosas. Ele me fez feliz quando ninguém mais pode.

Hoje me arrependo. E Muito. De tê-lo levado para dentro da minha casa, de mostrar minhas fraquezas, de ter ido a boate com minhas amigas. Nos conhecemos naquela maldita noite. Ele me fez prometer que eu não ia contar nada sobre nosso encontro picante no banheiro porque ele era tímido. Sonso. Eu devia ter comentado sobre ele, talvez não naquela noite, mas nos dias seguintes.

Porém, é tarde demais para qualquer arrependimento. Todas as minhas decisões após a morte do meu marido me levaram a isso. Não posso culpar ninguém além de mim mesma. Eu causei tudo isso. Eu procurei por isso.

Quando saímos do restaurante, depois da anta aqui pagar pela janta — que custou mais R$ 1.500,00 —, decidimos passear um pouco pelas calmantes ruas de Londres. Me recordo de ouví-lo dizer “o que acha de namorarmos um pouco ali naquele beco?”. Minha resposta foi sim, obviamente. De todos esse foi meu maior erro. Gostava da aventura, da adrenalina. O medo de ser pega no ato me deixava excitada. Não se pode julgar uma mulher por seus fetiches.

Não lembro de muita coisa, apenas sei que hoje estou morta. Há pouco mais de um ano. É horrível caminhar pelo plano etéreo. Dizem que quando se morre de forma trágica, sua alma continua vagando pela Terra em busca do seu corpo, na tentativa de encontrar a paz. Outros dizem que sua alma é impossibilitada de seguir em frente por conta dos tais assuntos inacabados. Eu já aceitei minha morte e não consigo sair daqui de forma alguma. É como uma força que me impede de ir mais longe, uma corrente invisível.

Única coisa que me restou foi viver ao lado de meus irmãos, é como passamos a nos chamar. Eles foram as vítimas dele antes de mim. Nós somos seis. Ele disse que 7 era seu número favorito. Estamos observando ele fazer sua próxima e última vítima. Porque todos nós estamos presos a ele para sempre.

Contos Noturnos - onde seus sonhos não existemOnde histórias criam vida. Descubra agora