Já tinha se tornado rotina as visitas dele todas as noites. E hoje não seria diferente. Apesar de acreditar que isso possa ter fim um dia, minha esperança não vai morrer aqui. Mas talvez eu morra.
Joey, é como eu o chamava, ele veio como um amigo. Encheu o vazio que eu sentia por dentro e fez meus dias florescerem de felicidade. Eu consegui sobreviver aquele inferno chamado escola por causa dele, do meu melhor amigo. Eu aprendi a sorrir através da dor que me causavam, porque sabia que Joey ia estar em casa para me salvar. Para me ajudar.
Tudo era flores até Joey mostrar quem ele era de verdade.
O relógio marcava 22h:32. Não queria dormir. Eu não quero dormir. Mas sei que o sono vem a qualquer momento. Cheguei num ponto em que apenas aceitei meu destino, pois o contrário seria inevitável. Mas esta noite vai ser diferente. Eu sei que vai ser diferente.
Deitei na cama, fechei meus olhos.
Sim, eu fechei meus olhos.
Ele estava lá me esperando.
“Vamos brincar?” ele disse.
Não, Joey, eu não quero brincar. Mas não posso te deixar triste, por isso minha resposta é sim. Minha reposta sempre vai ser sim. Eu sempre vou dizer sim pra você, Joey.
“Do que vamos brincar?” ele perguntou.
Nós gostávamos de brincar de pique-esconde. Na verdade, eu gostava. Ele dizia que estava cansado da mesma brincadeira todos os dias. Mas ele sabe que é minha favorita.
Eu disse que ele tinha que contar de um até cinquenta, pois, daria tempo de procurar um ótimo lugar para me esconder. Ele fechou os olhos e começou a contar.
Está quase amanhecendo lá fora. O tempo passa diferente quando estou de olhos fechados. Consigo ouvir os galos cantarolando. Eu sei que é lá fora porque este lugar está vazio.
A cada noite que passava, sempre que fechava os olhos, eu viajava para lugares diferentes. Esta noite viajei até um vilarejo. Lindo. Mas como sempre, vazio. Nunca tinha alguém nesses lugares além de mim e Joey.
Tem uma igreja nesse vilarejo. É pra lá que eu vou.
Joey me conhece muito bem. Mas existe uma coisa que Joey não sabe: eu estou triste.
Eu apenas quero ir embora. Só quero que tudo isso acabe de uma vez. Eu só quero ir para casa. A quantidade de lágrimas que ja cairam do meu rosto formou uma pequena poça de água no chão e nela vi meu reflexo. Um garoto completamente quebrado por fora e por dentro.
Eu olhei para o outro lado. Olhei para o chão. Eu vi um papel. E vi uma caneta. Eu peguei o papel e a caneta. Eu escrevi no papel com a caneta. Eu dobrei o papel. O papel voou como um pássaro. Alguém lá fora vai ler o que eu escrevi naquele papel.
Não adiantou me esconder dentro da igreja. Parecia ser uma escolha tão óbvia e tão previsível. Mas não estava em possibilidade de pensar muito. Eu estava com medo, sempre estou com medo. Joey está la fora me procurando. E ele me achou.
Joey entrou na igreja. Joey disse “te achei”. Joey veio até mim. Joey pegou na minha perna e disse “vamos brincar de novo?”.
Não, Joey, eu não quero brincar de novo. Mas não posso te deixar triste, por isso minha resposta é sim. Minha reposta sempre vai ser sim. Eu sempre vou dizer sim pra você, Joey. E a partir dessa noite, eu vou brincar com você para sempre.
Mas, você. Você que está lendo esse bilhete. Você pegou o papel que voou. E se você está lendo esse bilhete, significa que eu nunca mais vou abrir meus olhos.
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Contos Noturnos - onde seus sonhos não existem
HorrorJá parou pra pensar no seu futuro? No seu final feliz? Já se imaginou cavalgando em um cavalo branco - clichê? - ao lado de seu Príncipe Encantado? Então deveria parar. Esqueça tudo o que você sabe sobre finais felizes porque eles NÃO existem. Em "C...