Capítulo II

2.6K 152 7
                                    

Quando me dei conta, todos estavam no meu quarto. Abri os olhos, que pesavam, mas fiquei aliviada por entender que tudo não havia passado de um sonho. Na verdade, de um pesadelo. Horrível.

— Meu bem, o que foi? — Minha mãe estava claramente apavorada. Ela sentou-se ao meu lado e colocou a mão na minha testa. — Está com febre?

— Não — respondi, tentando me erguer.

— Filha — disse meu pai —, eu cheguei a pensar que tinha entrado alguém aqui. O grito que eu ouvi era... — ele não completou a frase.

— Já passou, pai. Foi só... um pesadelo.

— Mas você sonhou com o quê? — ele quis saber.

— Não lembro direito. — Preferi mentir, ainda estava com muito medo e uma sensação estranha no peito, como se tudo que tinha sonhado fosse verdade.

Vivian estava do outro lado da minha cama, me olhando com olhos arregalados.

— Desculpe ter assustado vocês, eu...

— Não foi nada. Foi só um sonho. Quer água?

— Não, mãe. Obrigada. Vou dormir de novo. Está tudo bem agora. — Percebi que minha voz não tinha muita convicção, mas eu queria descansar, sentia-me exausta.

Depois de terem a certeza de que eu estava bem, eles saíram. Deixei a luz do abajur acesa, não me sentia confortável para dormir no escuro. Para falar a verdade, estava com medo. Tentei não pensar no sonho, mas era impossível. Tudo era muito nítido, muito real, me fazendo duvidar de que não tivesse acontecido de verdade.

Eu me via caminhando sobre um refrescante gramado verde. Por todos os lados ouvia-se o som de pássaros cantando lindas melodias. O sol brilhava intensamente, tornando a paisagem ainda mais bela. E eu caminhava, caminhava, observando tudo com alegria, pensando em como o mundo era pleno de beleza e harmonia em meio à natureza.

O gramado estendia-se a perder de vista, e nas laterais, margeando a grama, havia florestas. Eu sabia que eram muito antigas, podia ver pela altura das árvores, pelas suas copas gigantescas e troncos imensos. O gramado, na verdade, parecia uma estrada verde, que cortava aquela floresta milenar.

Subitamente, algumas nuvens pesadas cobriram o sol e na mesma hora um vento frio começou a soprar, arrepiando a minha pele e desarrumando meus cabelos. Olhei para o céu e vi que estava completamente escuro, repleto de pesadas nuvens de chuva. O frio aumentou muito e eu fui obrigada a procurar abrigo. Corri na direção das árvores para me esconder, pois logo cairiam as primeiras gotas de chuva.

Quando finalmente entrei na floresta, percebi que o vento estava ainda mais forte, formando redemoinhos que levantavam as folhas do chão em um balé enlouquecido. O vento uivava de tal forma que coloquei as mãos sobre as orelhas. Era um som apavorante. Na tentativa de me proteger e sem saber como sair dali, abaixei-me por trás das raízes de uma daquelas árvores imensas e fechei os olhos. Foi quando ouvi um estranho som, que se misturava aos uivos do vento.

Ergui um pouco a cabeça e olhei na direção do gramado. Pareciam centenas de vozes falando ao mesmo tempo, e o que vi foi tão bizarro que comecei a arfar. Havia uma multidão de pessoas mascaradas correndo atrás de alguém. Eu não conseguia ver nada com muita clareza por causa da chuva, que já caía torrencialmente, mas eu sabia que alguém estava sendo perseguido, correndo pelo gramado, na direção da floresta.

Eu me encolhi entre as raízes da árvore, esperando não ser vista. As figuras que corriam me faziam lembrar dos famosos bate-bolas que se vê no carnaval. Eles estavam completamente cobertos com uma espécie de túnica escura e no rosto tinham máscaras, também escuras. Não era possível reconhecer ali nenhuma fisionomia. E a pessoa que fugia deles era ainda mais rápida, como um elfo, tão rápida que eu não tinha conseguido ver nenhum detalhe. Sabia apenas que não usava máscara alguma.

Prometidos - Um para o outro (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora