Capítulo VI

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(Música: Drunk in love, Beyoncé.)


Eu não sabia o que fazer, mas, meio atrapalhada, decidi continuar andando à procura do banheiro. Na verdade, o que eu tinha visto poderia ter sido apenas fruto da minha imaginação misturado com a cerveja que eu já tinha bebido, três boas doses duplas. Mas eu estava plenamente consciente de que não iria mais alimentar a paixão, ou lá o que fosse que Carlos sentia por mim. Não seria justo com ele, acima de tudo. Nem honesto. Por isso, continuei andando, ligeiramente adiantada para que ele não tivesse a chance de continuar me tocando. Não sei se ele percebeu isso porque não olhei para trás.

A sala estava quase vazia, com exceção de umas três pessoas. Todo mundo queria ficar do lado de fora, curtindo a bela e quente noite de verão. Eu também...

Estava prestes a entrar no corredor que levava ao lavabo quando inacreditavelmente ouvi:

 — Foi você que salvou o cachorro, não?

Nem em mil anos vou esquecer aquele instante, que me pareceu uma pausa no tempo e no próprio desenvolvimento do universo. O impacto que senti foi tão forte que me vi obrigada a parar onde estava, a respiração acelerada e o coração saltando no peito. Deus, por que eu estou reagindo assim? Isso é uma loucura...

Lentamente, com todo cuidado, eu me virei e olhei para trás. Precisava tomar cuidado para não transparecer meu nervosismo. Primeiro, porque era ridículo. Segundo, porque não queria demonstrar qualquer fraqueza. E terceiro, porque instantaneamente me dei conta de que estava esperando por aquele momento desde o dia em que o vi sem o capacete pela primeira vez. O brilho daqueles olhos verdes me perseguia, tinha de confessar, pelo menos para mim mesma.

Quando finalmente me voltei, consegui olhá-lo de frente e, para meu desespero, até a minha pulsação ficou acelerada. Senti que enrubescia, o que não era possível controlar. Ele certamente pensaria que eu era uma tonta...

— C... como? — consegui perguntar. Pelo menos minha voz não tremeu. Falhou, mas não tremeu.

Ele se aproximou devagar, como se tomando cuidado para não me assustar. Ou para ser educado, talvez. A única coisa que eu sabia é que, se a terra tremesse lá fora naquele momento, eu demoraria muito a perceber.

— O cachorro, o filhote que você salvou. Foi você, outro dia, na rua. Lembra disso? — Pelo seu tom de voz e pelo modo como me olhou, ele não tinha dúvida alguma de que aquela pessoa era eu mesma.

— Claro. É verdade... fui eu... sim. — O que mais eu poderia dizer?

— E você conseguiu mesmo salvar o animal? Deu tudo certo? — A voz dele era profunda, máscula, um pouco rouca. Sua simples presença era tão forte que eu não sabia como poderia manter aquela conversa por mais tempo sem parecer uma criancinha de cachos. Por isso, me esforcei muito para tomar as rédeas de mim mesma.

— Ele está ótimo, minha irmã está cuidando dele. — Pronto. Firme, clara e objetiva. Estava melhor.

— Ah... Muito bom. — Ele balançou a cabeça ligeiramente e parecia realmente satisfeito. Estranho... Não era uma reação comum.

— Vamos? — disse Carlos de súbito e foi só então que me dei conta de que ele também estava ali assistindo a cena. Nossa, eu havia me esquecido completamente da presença dele! — Acho que o banheiro está vago.

Ao mesmo tempo ele colocou as mãos nas minhas costas, como se estivesse me conduzindo. Mais uma vez eu fiquei irritada com aquela atitude e gentilmente me desvencilhei, o que não passou despercebido ao olhar do outro, que finalmente olhou para Carlos. Havia uma espécie de petulância em sua expressão, algo assim, e eu acho que Carlos ficou muito incomodado com aquilo e também com a presença daquele estranho entre nós, que o havia ignorado solenemente o tempo todo. Era algo que estava mais do que claro para nós três.

Prometidos - Um para o outro (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora