Capítulo V

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(Música: Give me love, Ed Sheeran.)


Eu já não sabia mais como impedi-lo, porém o que mais ouvi em casa foi:

— Filha, estou tão orgulhoso de você!

Meu pai fez uma verdadeira festa quando soube da história do "salvamento" da dona Guilhermina. Antes mesmo de ele entrar no prédio, os vizinhos e o porteiro o cercaram e contaram tudo, alguns narrando exatamente o que tinha acontecido, mas a maioria aumentando tanto os fatos que eu estava a ponto de achar que, em breve, aquela seria mais uma lenda urbana do bairro, e justo comigo no papel principal — coisa que eu detestava, ainda mais quando havia fofocas no meio. Por isso, fiz questão de contar a ele e a minha mãe a verdade, até porque eu não havia feito nada de mais, na minha opinião.

— Nós sabemos muito bem — disse meu pai, exibindo um incontrolável sorriso feliz — que a maioria das pessoas hoje em dia não se preocupa, nem se ocupa de ninguém, muito menos de uma pessoa idosa. Então...

— Pai — fui obrigada a interrompê-lo —, eu fiz o que deveria ter feito. Não foi um ato de heroísmo. Foi um gesto automático quando vi que ela ia ser atropelada pelo ciclista. Então...

Ele não me deixava mesmo falar e me abraçou.

— Não adianta negar, Bia. Você é mesmo muito especial, eu sempre soube disso.

Ergui os olhos para o teto, mas o abracei com carinho. O que mais eu poderia fazer? Minha mãe entrou na sala, sorriu ao nos ver ali e estendeu o telefone na minha direção.

— Bia, você agiu muito bem, eu também acho. Atende aqui, é a Carol. Daqui a pouco vamos jantar, não demora muito, tá?

Ela passou por mim e afagou meus cabelos. Minha mãe não é tão efusiva como meu pai, o carinho dela se manifesta de outro jeito, geralmente por meio de palavras, nem sempre de gestos. Eu sorri e balancei a cabeça, pegando o telefone. Por fim, meu pai me largou e foi atrás da minha mãe, na intenção de desdobrar o assunto. Por isso, corri para o meu quarto e fechei a porta.

— Oi, Carol. Não brigue comigo, por favor. Se eu te contar o que me aconteceu, você não vai acreditar!

— O que foi? Fala logo! Você só disse que não ia poder vir aqui e mais nada. — Eu quase podia vê-la roendo as unhas.

Contei tudo, do início ao fim, inclusive sobre a chegada de Little Thor, mas tomando o cuidado de repetir a mesma história e não falar nada sobre a moto.

— Nossa, quantas emoções! Eu bem imagino o estado de espírito do seu pai.

— Não, você não imagina... — Eu ri.

— É. Talvez. — Ela também riu. — Mas, posso mudar de assunto? — E já emendando outra frase: — Temos que falar sobre a festa de sábado. Tenho mil detalhes para discutir com você.

— Carol, será que não devemos deixar isso para depois? Já é quase Natal e...

— De jeito nenhum! — ela me cortou. — Festas de Natal não são organizadas por nós, mas pelas famílias. Então, não precisamos nos preocupar com isso. Mas essa festa, sim, é nossa responsabilidade. Precisamos reunir as pessoas logo, até porque eu decidi fazer o réveillon aqui em casa este ano. Estou no Leme, esqueceu? É quase que o olho do furacão. Já falei com meus pais que vou trazer amigos e eles limitaram o número, claro, mas concordaram. Vamos todos para a praia antes da meia-noite, vai ser ótimo. A festa de sábado, na verdade, vai ser uma preparação desse evento, uma prévia. Precisamos resolver uma porção de coisas, você tem que me ajudar, faltam apenas três semanas e meia para o ano acabar e além do mais...

Prometidos - Um para o outro (livro 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora