Capítulo 16 - Nervosismo

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Faltavam alguns dias para o aniversário de Ted, e embora os ânimos não estivessem muito altos, Marian fez questão de dar uma festa em homenagem ao filho.

- Mãe – o garoto começou. – Não acho que as pessoas vão querer participar de uma festa de aniversário no meio de uma guerra. Além do mais, ainda é fevereiro, está frio. Quem é que vai querer vir pra essa festa?

- Pois você ficará muito surpreso ao descobrir que absolutamente todos os convidados confirmaram presença comigo – Marian rebateu.

Ted ficou boquiaberto.

- As pessoas gostam de você, Teddy. Deveria se orgulhar.

- Não é essa a questão – ele começou com clara insatisfação em seu tom de voz. – Eu não quero essa festa.

- Ora, por que não?

- Porque não estou num humor bom o suficiente para engajar em celebrações.

- A festa melhorará esse seu humor.

Victoria sabia que Ted não costumava gostar de aniversários, principalmente quando era o dele. O motivo por trás disso, suponha ela, que era pela tradicional ausência do pai em suas festas e na sua vida em geral. De qualquer forma, ela não o julgava por não querer engajar em celebrações, como ele mesmo havia dito. Só porque estava de volta a Willowtree Hall não significava que seus pesadelos haviam parado.

- Por que não podemos comemorar o meu aniversário do jeito que eu quero? – Ele suplicou. – Pelo menos uma vez.

- Porque nós não podemos sair por aí descalços e acender uma fogueira na floresta e comer cerejas até passar mal, Theodore. Já passou da hora de você deixar seus sonhos infantis no passado.

Victoria engoliu a seco. O espaço foi preenchido por um silêncio mortal. Marian não costumava falar dessa maneira com os filhos, nem mesmo quando precisava brigar com eles, ela provavelmente estava sobre muito estresse. Ted não disse nada, apenas desviou o olhar.

- Teddy, querido, me desculpe... Eu não queria ter dito isso.

- Tudo bem – respondeu simplesmente. – Eu vou para o meu quarto.

O rapaz se virou e subiu as escadas que levavam para o segundo andar. Victoria o seguiu imediatamente, sabendo que o silêncio, vindo de Ted, dizia muitas coisas.

Ela encontrou a porta do quarto do rapaz aberta, como sempre estava, e ele sentado na cama, roendo as unhas. Victoria sentou-se ao seu lado, retirando a mão de sua boca.

- Eu nem gosto de cerejas – ele disse.

- Eu sei – ela respondeu.

- Pra que perder meu tempo falando se ninguém me escuta? De que adianta ter dezoito anos e não poder escolher o que quer fazer no próprio aniversário?

- Se quiser gritar ou chorar... – Ela começou. – Eu não vou contar para ninguém.

Ele sorriu de lado.

- Como se você nunca tivesse me visto chorar.

- Nunca te vi gritar – rebateu. – Só de susto. Nunca de ódio ou frustração, raiva, catarse.

- Que grande catarse a minha. Dezoito anos e provavelmente vou morrer na guerra.

Victoria se levantou repentinamente, horrorizada com o que ele havia dito.

- Vic, me desculpe. Eu não devia ter dito isso. – Ele se levantou e a abraçou. – Me perdoe.

- Pare de dizer essas merdas. – Havia choro segurado na garganta de Victoria. – Isso me dá pesadelos à noite, sabia?

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