Capítulo 32 - Adeus

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Victoria limpou suas lágrimas mais uma vez, sozinha, trancada dentro do banheiro. Não era como se ela fizesse esse tipo de coisa para fugir da realidade, mas sim para tentar encará-la. E essa realidade era dura, de fato. Além de Charlie, Ted e Peter também haviam sido convocados para se juntar à luta na guerra. Segundo a carta que receberam do exército britânico, os dois irmãos mais novos tinham uma semana para se apresentar em Londres. Talvez esse fosse o grande acontecimento que a garota esperou durante toda a sua vida, por ansiedade ou pessimismo, que fosse destruí-la de vez. Ela não sabia se conseguiria se recuperar desse baque.
Por outro lado, não podia passar o restante dos sete míseros dias de despedida dos rapazes trancafiada num banheiro tentando se recompor. Os seus pensamentos a perseguiam até um local escuro, úmido e perigoso. A morte pairava sobre a sua família eminentemente, e sobre seu amor também. A ideia de perder Ted para as mãos cruéis da guerra lhe dava náuseas. Era tanto enjoo, que Victoria foi obrigada a vomitar.
Limpou a boca e sentiu nojo de seu próprio vômito. Não era a primeira vez que se sentia enjoada nessas semanas. O estresse estava realmente a corrompendo por dentro e por fora.
Ouviu duas batidas na porta do banheiro, cortando-a de seu transe.
- Victoria, você está bem? - Era Peter. - Escutei você vomitando. Precisa de alguma ajuda?
- Eu estou bem. Obrigada.
- Tem certeza?
- Eu disse que estou bem, Peter! - Ela gritou.
Um silêncio se seguiu.
- Está certo, vou te deixar em paz. Se precisar de mim estarei arrumando minhas malas.
A fala de Peter trouxe uma nova onda de vômito para Victoria.

Decidida a encarar a realidade de frente, a garota saiu do banheiro. Para o seu infortúnio, ela esbarrou em Ted.
- Por Deus, Vic, que susto - ele resmungou.
- Me desculpe - ela sussurrou. - Eu estava distraída.
Ele a olhou e a garota sentiu como se seu olhar a atravessasse.
- Você não está bem - ele afirmou. - Estava passando mal?
Não havia mais porque mentir, então ela simplesmente assentiu.
- Eu não consegui dormir desde ontem, e agora estou sofrendo com umas náuseas horríveis.
- Por que você não tenta descansar?
- Eu não posso descansar - ela o cortou rapidamente. - Não posso me dar esse luxo. Se eu dormir, mesmo que por pouco tempo, será menos tempo que passarei com você e com Pete... Será menos tempo que terei com vocês antes de vocês irem embora...
Ted a puxou subitamente para um abraço reconfortante que a acolheu por inteiro. O calor que o corpo dele emanava sempre a acalmava, e aquela vez não era uma exceção, porém o pensamento de não tê-lo por perto a deixava a ponto de explodir.
- Nós ainda temos uma semana - ele disse, beijando a testa da garota. - Uma semana inteira para nós dois. Não é e nunca seria suficiente, mas é o que temos, e vamos fazer bom proveito dela, eu prometo.
Victoria se conformou, ao menos por hora. Era difícil não se conformar com as palavras doces de Ted e sua voz suave.
- Posso te ajudar a arrumar as malas?
- Claro. Eu nem sei o que se coloca na mala de um soldado, então você será de grande ajuda.
Os dois andaram até o quarto em que Ted estava ficando. Victoria se surpreendeu ao ver uma quantidade enorme de desenhos presos na parede com alfinetes. Ela se aproximou dos mesmos.
- E o que são esses aqui? - Ela questionou. - Eu não sabia que você gostava tanto de desenhar.
- Não sou tão bom quanto você, obviamente, mas sim, eu gosto.
- Ora, não diminua as suas habilidades. Você desenha muito bem. - Ela apontou para um dos desenhos. - O que é isso?
Era um desenho que retratava algo como um pequeno povoado em ruínas, coberto de musgo, com a aparência bem antiga.
- É um lugar que eu acho que criei. Ele vem na minha mente as vezes, quase como uma memória, mas muito distante para que eu me lembre de fato. Eu já sonhei que passeava por esse local, mas o sonho era bem turvo, como se estivesse se escondendo atrás de muita fumaça - ele esclareceu. - Não conseguia parar de pensar sobre isso, então desenhei.
- Desenhe o que você conhece - Victoria comentou. - Era isso o que meu professor de desenho costumava me dizer. Se eu desenhasse o que conheço, não sei se conseguiria dormir novamente.
Ele ficou calado enquanto ela se moveu até o próximo desenho que lhe chamou a atenção. Era uma jovem mulher, com cabelos lisos e trançados na frente do rosto e o olhar penetrante.
- Quem é ela?
- Eu não faço a menor ideia. Novamente, eu a vi em um sonho. Ela sempre tenta falar comigo, mas eu nunca consigo escutar o que ela diz. É bem frustrante.
- Eu deveria ficar com ciúmes dessa garota misteriosa dos sonhos? - Victoria brincou.
- Pare com isso - ele disse. - Se bem que...
- O que?
- Ela me lembra você. Especialmente os olhos. Deve ser por isso que eu sempre presto atenção no que ela tenta me dizer, mesmo sem conseguir ouvir.
Victoria sentiu um aperto no peito.
- Você deveria tomar mais cuidado com os sonhos, especialmente esses sem muita explicação.
Ted franziu a testa.
- Por que? Que mal um sonho pode fazer?
- Sonhos podem virar pesadelos muito rápido.
- E qual o problema?
Ela o olhou direto nos olhos azuis.
- Alguns pesadelos são memórias.

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