Desejo

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Magnus estava parado como sempre, esperando que seu assistente tivesse a decência de ir até ele ao invés de ficar com conversinha a tarde inteira com Alexander. Era pedir demais que alguém trabalhasse direito? Já não bastava Lorenzo, que não parava de ficar no seu pé desde que descobriu que seria o responsável por fazer toda a decoração do restaurante, o que deveria ser o suficiente para ele pedir um adicional por insalubridade por ter aquele idiota prepotente o dia inteiro falando sobre o quanto ele era incompetente, que deveria buscar outro escritório que fosse capaz de oferecer um profissional melhor. Reclamava de tudo o que ele fazia, de todas as ideias que levava, e de cada rascunho que entregava. Aquilo estava atrasando sua vida, seu trabalho - e consequentemente suas férias - e tirava sua paz, porque ele poderia aceitar qualquer coisa que Lorenzo falasse, menos questionar a qualidade do seu trabalho.

Até mesmo durante a primeira reunião, na presença de Underhill, Lorenzo já havia começado as provocações, insinuando coisas sobre seu passado. Seu chefe, felizmente, ignorava todas as investidas, e ele então pode fazer o mesmo, lamentando apenas por Alexander e Maia terem que lidar justamente com aquele homem no trabalho que seria possivelmente o mais importante de sua formação.

E ainda tinha que supervisionar o trabalho dos estagiários.

Tentava não ficar muito em cima deles, tanto por Alec quanto por si próprio, mas ainda era difícil ficar perto dele sabendo o que tinha feito. Ainda precisava se forçar a não olhar ou sorrir ou comentar com ele alguma coisa que achava divertida, ou quando via algo que interessaria a ele. E mais do que tudo, tinha que tentar ao máximo não deixar o desconforto entre eles muito evidente para que ninguém percebesse e aquilo acabasse prejudicando Alec; tinha que controlar seu rosto sempre que via Alec à distância, porque ir até ele era quase instintivo. Seria muito fácil se deixar levar e, em um momento de descuido, se aproximar dele sem perceber.

No último mês, considerando o atraso de vida que Lorenzo tinha se tornado, seu trabalho se resumia a analisar o trabalho dos outros. Sequer tinha liberdade para trabalhar porque o "dono do restaurante" só aceitava o que Maia ou Alexander propunham, e mesmo quando a contragosto aceitava alguma sugestão sua, precisava estar de acordo com os planos deles.

Em partes, tinha que reconhecer que seu trabalho - que era planejar e decorar - era era menos complexo, já que se voltava integralmente sobre estética - no que ele era ótimo, aliás - enquanto Alexander e Maia deveriam pensar na funcionalidade dos móveis - além da aparência, é claro - texturas, aproveitamento do espaço e tudo o mais. E eles também precisavam exercitar um pouco de intuição antes de começar a trabalhar efetivamente. Agora mesmo observava pelo canto de olho quando Alexander tirava pela terceira vez as medidas do espaço em que ficaria o caixa do restaurante, enquanto ao lado dele, Eric, o assistente, falava sem parar. Alec ria às vezes, ou só sorria, então não estava incomodado, o que o deixava ainda mais irritado.

Mesmo que Eric estivesse lá para dar palpites e levar para Magnus as intenções dos jovens estudantes, evitando que precisassem estar o tempo todo juntos, e assim lhe tirava de uma enrascada com Etta - que havia ficado aborrecida, mas que ainda assim reconheceu depois de algum tempo que era uma necessidade de trabalho - aquela proximidade ainda o incomodava. E ao mesmo tempo sentia orgulho de ver Alec trabalhando, tão dedicado e eficiente, tão seguro em relação às suas habilidades e conhecimentos.

Viu pelo canto do olho quando Eric segurou o braço de Alec, chamando a atenção dele, então Alec levantou o rosto e os olhos azuis faiscaram rapidamente em sua direção antes de se focarem em Eric pela centésima vez naquele dia. Bufou em desagrado e se afastou, ouvindo os próprios passos ecoando pelo grande salão vazio. Tinha que conhecer que era uma bela arquitetura. Mas quando se aproximou o suficiente da porta, percebeu que tentar sair para pegar um ar foi uma péssima ideia. Lorenzo tinha acabado de entrar.

Let You Go - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora