Quando fica difícil

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Magnus dirigia ansiosamente através das ruas movimentadas de Nova York. Estava atrasado, mas aquele trânsito infernal não permitia que ele chegasse rápido e ele levaria uma bronca do chefe, com certeza. As vezes ser o único decorador de um escritório imobiliário era exaustivo. Ele tinha que se responsabilizar por decorar - obviamente - todos os imóveis que o escritório vendia. Era sua função deixar tudo perfeitamente perfeito para seus clientes. A maioria deles adorava a forma como ele trabalhava, confiavam no seu bom gosto. Poucas eram as situações em que reclamavam de algo, e quando acontecia, aquilo o estressava a níveis homicidas. Ainda tinha dificuldade para aceitar que nem todos tinham bom gosto como ele.

Parou no sinal vermelho - o quarto - exatamente em frente ao prédio em que sua namorada - mais ou menos - morava. Tecnicamente estavam "dando um tempo". Ele a conheceu quando ela comprou um dos imóveis do escritório em que ele trabalhava e ela reclamou das cores do carpete, chamando o decorador pessoalmente para encher sua cabeça de ideias. No fim, só tinha enchido sua cabeça de dor. Sua cabeça ainda latejava em lembrança aquele dia. Se não tivesse acabado atracado com ela no chão da cozinha ele teria considerado aquele dia como um completo desperdício, já que no fim ela preferiu mudar a cor das paredes e não do piso. E por pouco, novamente, ele não perdeu o emprego.

Esfregou a testa e o pescoço, tentando aliviar um pouco da tensão.

Se assustou quando a buzina de um carro soou atrás dele. O sinal estava aberto e ele sequer percebeu. Precisava dar um jeito de se concentrar ou faria besteira no trabalho e seria o fim do seu emprego dos sonhos. Seu chefe não aceitaria mais erros por causa de sua vida pessoal e ele não aguentava mais todas as crises da namorada. Elas tiravam-lhe o foco e ele não conseguia fazer nada direito. Ele só tinha até aquela noite para escolher antes que enlouquecesse completamente.

Nem sabia exatamente porque ainda se esforçava, mas já tinha passado tanto tempo que ele e Etta estavam juntos que sequer lembrava como era a vida antes dela. Certamente não era nada boa também, já que ele vivia de bar em bar, pulando de cama em cama, e tinha se metido em bastante confusão por causa disso. Talvez o que sentia por ela já não fosse mais amor, mas se fosse pensar dessa forma, ele também não sabia se já tinha amado alguém antes, e ele gostava dela. Era uma boa pessoa na maior parte do tempo, ela realmente gostava dele, e ele... bem, tinha um grande carinho por ela. Ele já estava prestes a fazer 30 anos de idade e eles estavam juntos há quase 8. Estava na hora de crescer, assumir responsabilidades. Já não era mais um jovenzinho que podia se dar ao luxo de viver a vida do jeito que queria, como se não tivesse consequências.

Viu de longe a entrada do estacionamento e mudou de pista, mas quase acertou um motociclista. Praguejou baixinho. Ele tinha que dar um jeito naquilo logo.

~

Alec estava em um dos computadores da sala que dividia com Maia. Ela era simpática e não falava muito quando percebia que ele estava concentrado demais. Era melhor assim, já que ele não gostava de fazer amizades no ambiente de trabalho. Era cordial e educado com todos, mas todas as relações eram de trabalho. Exceto uma.

Viu pelo canto do olho quando Magnus entrou com o rosto vermelho e ansioso; a tensão tirava um pouco do brilho da maquiagem e das roupas que usava. As sobrancelhas estavam juntas e ele olhava o relógio fixamente, como se não conseguisse compreender as horas, ou não quisesse acreditar que realmente tinha atrasado uma hora inteira. Ele estava ferrado.

Nem ele acreditava que Magnus tinha conseguido se atrasar tanto. Era como se ele já estivesse fazendo de propósito. Olhou para as costas dele até que Magnus desapareceu através da porta da própria sala e torceu para que o chefe não notasse aquilo. Era a terceira vez só naquele mês;

Let You Go - MalecOnde histórias criam vida. Descubra agora