A Luta (PT 3)

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Acordei e parecia que um caminhão havia me atropelado e dado rê de volta em cada um de meus membros. Sem contar que eu parecia um zumbi, fazendo tudo no automático e com uma lerdeza sem igual. Alícia veio de tarde e conversamos sobre que tudo aconteceu. Minha amiga já não tinha mais o que me falar. Eu já não tinha mais alternativas. Era tantas coisas envolvidas, tantas coisas acontecendo

Ficamos conversando sobre mais algumas coisas e depois Alícia abriu uma garrafa de vinho e pós-se a escolher uma comédia barata para nós assistirmos. Terminamos o filme e logo enchi a banheira e entrei. Permiti que a água quente relaxasse meu corpo a ponto de quem sabe me fazer dormir sem medicações essa noite. Pensei em Sérgio e instintivamente olhei para o celular novamente

Não pensei duas vezes. Chamei o número que dava acesso a escuta de sua casa

"Me fale ao menos que você não bebeu antes de tomar esse calmante, Sérgio"

Era a voz de Andrés, seguida do chacoalhar de alguma coisa, penso em comprimidos em um pote dado o contexto

"Não, não se preocupe. Y tú, hombre? E essa cara?"

Me arrepiei inteira quando ouvi a voz de Sérgio. Andrés caminhou um pouco e parece que sentou ao seu lado no sofá

"Bonita, né? É a única que eu tenho, irmãozinho"

A voz de Andrés veio em seguida um pouco mais ao fundo. Quase chamo Alícia naquele momento, mas estava ocupada demais ainda digerindo os efeitos que a voz de Sérgio me causou, e pensei que não a faria bem e já bastava eu própria me fazendo mal os escutando. Eles riram baixo com o comentário de Andrés

Eles conversaram sobre algumas coisas que eu não consegui ouvir porque a escuta estava fazendo ruídos. Quando a escuta parou de fazer ruídos, ouvi a porta de Sérgio batendo e nenhuma voz no entanto. Andrés tinha ido embora. Mas não ouvi novamente sua voz. Apenas algumas músicas que ele colocava para tocar quando estávamos juntos e alternando playlists descobrindo nossos gostos enquanto cozinhavamos ou ficávamos apenas de preguiça na cama. Alguns rocks antigos e músicas brasileiras que eu pouco entendia, porém muito me tocavam

Essa noite consegui dormir sem medicamentos. Eu me sentia um grande nada. Um grande oco. Vazia. Não sentia absolutamente nada. E esse sentimento era pior que a dor, a angústia ou a saudade. Eu sabia que era o indício que uma fase depressiva se aproximava. Igual tantas outras vezes na vida passei momentos como esse

Já pela tarde, Alícia havia saído para comprar algumas coisas. E eu me vi sozinha novamente naquele lugar onde tudo me lembrava ele. E nem mesmo sabia se era culpa da casa ou dos momentos únicos que passei com ele ali. A necessidade de ter notícias suas me fez sentir uma inquietude. Eu simplesmente precisava ter qualquer ínfima migalha sua para sanar um pouco meu vício. Corri para meu telefone e me pus para escuta-lo. E novamente tocava no ambiente um rock leve antigo seguido de músicas desconhecidas por mim, provavelmente brasileiras. Barulho de algum objeto pesado e de vidro se chocando outro material de vidro. Ele estava bebendo...Porra. Como me partia o coração saber que Sérgio estava se afogando na bebida novamente

E então sua campainha tocou e ele parou ter ficado mais surpreso de que eu. Não consegui ouvir bem o que aconteceu ali em diante por segundos por mais que forçasse meus ouvidos a entender os poucos ruídos que saiam da gravação. Mas pouco depois veio o barulho de duas pessoas se sentando no sofá

"Bebendo?"

Puta que me pariu, era a voz de Júlia!

"E...parece que sim..."

Comecei a chorar por tão somente em pensar que aquele reencontro significava que Sérgio havia corrido de volta para os braços de Júlia tão logo me deixou. Meu peito apertou em uma dor até então desconhecida. Me senti traída e facilmente substituível

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