Capítulo III - Helena

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Me agarrei com força na barra de segurança, após o motorista efetuar uma manobra brusca. Ainda com o meu coração disparado batendo contra a minha garganta com o susto, por um instante tive a impressão de ver uma figura sombria no fundo do ônibus, entretanto em um piscar de olhos a figura de peculiar singularidade, desapareceu como se fosse feita de fumaça.

– Mas, quê...? – arfei encarando o espaço entulhado de gente, onde outrora o homem de sobretudo negro estava.

Balancei a cabeça com força e respirei fundo, dizendo para mim mesma silenciosamente que aquilo não se passava de algo vindo das estranhas da minha imaginação, provavelmente devido a enxurrada de informações sobre o sobrenatural que eu havia acabado de absorver.

Puxei a mochila delicadamente para frente, tentando não cutucar as pessoas a minha volta. Deslizei o zíper e ao resgatar o meu celular, imediatamente liguei para o meu porto seguro. – Olá docinho! – Exclamou euforicamente, ao atender o telefone na minha terceira tentativa.

– Oi tia! Tudo bem, por aí? – ouvi o som do seu riso agradável e a tensão em meus músculos se atenuou.

– Muito melhor agora querida, ouvindo sua voz! Como foi a aula de piano?

– Foi tranquila – murmurei dando uma rápida olhadela para o fundo do ônibus. – Você está na cidade?

– Por quê? – inqueriu apreensiva. – Você está com algum problema?

– Não, titia – respondi tentando manter a calma ao entrever a criatura sombria se movimentando no fundo do ônibus novamente. – Está tudo bem.

– Querida, você sabe que pode contar comigo para o que precisar, né? – reconfortou-me passionalmente ao perceber a tensão em minha voz.

– Eu sei – inclinei a cabeça tentando diminuir meus pensamentos vertiginosos. – Você demorou para atender o telefone, está ocupada? – perguntei apreensiva.

– Eu estava com as mãos sujas de tinta – respondeu de modo risonho.

Senti uma pontada aguda e excruciante em meu peito e gemi.

– Querida o que está havendo? – exigiu saber.

Um murmúrio atroz e indistinto rasgou os meus tímpanos, me obrigando a instintivamente soltar o telefone e levar as mãos aos ouvidos.

– Ahhh! – grunhi ao sentir que minha cabeça iria explodir.

Dedos descarnados e frios ergueram o meu rosto, obrigando-me a mirar os seus olhos de órbitas vazias.

– Ecce ancílla cælestis – sua voz soou como metal rasgado.

Subitamente meu corpo foi tomado por um frio invernal e a criatura me atravessou como um espectro feito de névoa. Instantaneamente as minhas pernas amoleceram como se meus ossos tivessem se liquefeito.

Anjos de pedra - Volume IOnde histórias criam vida. Descubra agora