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Detroit, Michigan

Clarissa passava o pano pelo balcão, tirando as migalhas de comida que caiam dos pratos dos clientes. Trabalhava naquela lanchonete desde os 14 anos, único lugar que aceitou contratar uma garota daquela idade, estava ali há dois anos. Ergueu o olhar quando o sininho ressoou.

-Boa noite. - ela sorriu.

-Olá. - o garoto sorriu de volta. Devia ter entre dezoito e dezenove anos, os cabelos eram loiros claros e os olhos eram de um verde claro, que podia ser confundido com azul claro. - O que a senhorita recomenda para um garoto faminto?

-Você provavelmente é um daqueles chatos para comer. - ela sorriu provocando. - Recomendo o sanduíche número 4. É o mais próximo de algo saudável.

-Então, um número 4, por favor. - ele sorriu. Clarissa anotou o pedido e passou para o cozinheiro. - Sou Simon.

-Clarissa. - ela se recostou no balcão.

-É um belo nome. Aposto que ainda não tem dezessete anos, o que faz trabalhando aqui?

-Preciso sustentar minha mãe. - disse. - Irônico, não? Deveria ser o contrário.

-Sinto muito por isso. - falou. Naquela época, Clarissa realmente acreditava. - Trabalha aqui todos os dias?

-Todas as noites, sim. - ela concordou.

Depois daquela noite, ele passou a vir todos os dias, ficavam conversando quando estava mais tranquilo. Clarissa sentia alguma coisa ardendo dentro dela, achava que era o amor que ela tanto esperava, mas era seu corpo gritando para que ela corresse, só que ela não percebeu naquela hora.

*

Clarissa e Simon estavam juntos há cerca de dois meses e meio. Durante as primeiras semanas, foi tudo um mar de rosas. Simon era um cavalheiro, a melhor pessoa que Clarissa poderia conhecer. E então tudo virou de pernas para o ar.

Ele não era muito diferente de Amanda. Era agressivo, viciado, dependente de drogas e abusivo. Ele fez Clarissa desenvolver uma dependência nele nos primeiros dias, uma dependência emocional, assim como ele tinha planejado desde o início. Portanto, sempre que brigavam, Cissa não conseguia ficar afastada dele por muito tempo, precisava dele por perto, todos os momentos que podia. Tinha se acostumado a disfarçar os roxos espalhados pela pele durante o tempo em que o corpo usava para se curar.

Os professores começaram a perceber antes mesmo dos colegas. Clarissa sempre foi uma aluna excepcional, mesmo com todas as dificuldades que passava em casa. As notas dela caíram, ela já não sorria mais, em nenhum momento, e a aparência dela tinha adquirido um aspecto terrível. Tentavam conversar com ela, mas a garota sempre afirmava que estava bem, só tinha dobrado o horário na lanchonete.

E quando ela estava sozinha, queria ligar para Leah, pedir ajuda de alguma forma, mas não sabia como, tinha medo do que poderia acontecer em relação a Simon. Ele tinha razão em um assunto, ninguém nunca poderia gostar de uma garota como ela, com problemas mentais e o psicológico fodido.

-Eu estou fazendo um favor a você. - ele disse durante uma das brigas.

-Claro. Foder ainda mais meu psicológico é um imenso favor. - ela bufou.

Simon olhou para ela e a mão acertou a lateral do rosto dela. Sentiu gosto de sangue na boca.

-Eu sou a melhor pessoa que você vai achar na vida inteira, Clarissa. Deveria me agradecer por tudo que estou fazendo com você, livrando-a das garras da sua mãe até seu aniversário de dezoito anos, e a vida inteira depois disso. - ele vociferou, apertando o rosto dela.

Wolf Girl // J. HaleOnde histórias criam vida. Descubra agora