1 - Dívida

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Dezessete anos depois

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Dezessete anos depois


Apoiada em um local estratégico do telhado, Maju monitorava as proximidades dos cortiços, ao mesmo tempo em que mantinha um olho atento em seu alvo.

O desgraçado não podia escapar daquela vez.

Era o pescoço dela que estava em jogo.

Calculou, esperou, aguardou.

Seu alvo era previsível demais. Ele sempre ia até os cortiços naquele dia da semana. Maju se moveu pelo caminho formado pelos telhados, observando o alvo passar dinheiro para o traficante e enfiar o pacotinho de cocaína no bolso da calça.

Ela trincou o maxilar, controlando a respiração raivosa.

Seu alvo avançou uma quadra antes de Maju subir o zíper da jaqueta e cair silenciosamente ao lado dele.

— Ainda não tenho o dinheiro — ele falou entredentes, sem fitá-la.

— Víbora cansou de esperar, Ravi.

Ravi trincou o maxilar, mas continuou avançando para dentro dos cortiços. Dava para ver que ele tentava esconder o tremor das mãos. Maju não cedeu, examinando as ruas dormentes, encobertas pelo manto da noite.

Eles pararam em um vão entre duas casas que caíam aos pedaços.

Maju ignorou o cheiro do lixo e do esgoto, encarando duramente os olhos de Ravi.

— Você precisa pagá-lo.

— É muita grana. Ainda não tenho o dinheiro. Os negócios que planejei deram errado!

— Não importa! Te apresentei para o Víbora! — Maju deu um passo à frente, Ravi deu um passo para trás. — Eu o convenci a emprestar dinheiro para você! Não me ferre agora! Pague o que deve!

Ravi ergueu os braços.

— Não tenho o dinheiro!

— Fale isso para o Víbora, não para mim. E, por sinal... — Maju se inclinou, puxando o saquinho de cocaína de dentro do bolso da calça dele. — Não tem dinheiro para pagar as dívidas, não é? Mas, para sustentar seu vício, a grana está sobrando.

Ravi engoliu em seco. Aquela era a hora em que ela sacava uma arma ou faca e transformava a ameaça em algo mais real.

Mas, droga, Ravi não era só um devedor qualquer de Víbora.

Maju se odiou por quebrar uma de suas regras. Não devia misturar negócios e prazer. As coisas tendiam a dar merda quando seguiam por aquele caminho.

— Peça mais tempo ao seu chefe.

— Meu trabalho não é implorar. É cobrar dívidas. Víbora está cansado de te dar tempo. De me dar tempo para te fazer pagá-lo. Ele gosta de perfeição nos negócios dele.

Código Nísis | DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora