3 - Convocação

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O barulho noturno da avenida foi cessado quando Igor atravessou a entrada do edifício

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O barulho noturno da avenida foi cessado quando Igor atravessou a entrada do edifício. Foi cumprimentado pelo recepcionista, e devolveu o cumprimento.

— Ele está esperando o senhor no escritório principal.

— Muito obrigado.

Enquanto o elevador subia os infinitos andares, Igor aproveitou para checar o celular. Confirmara a viagem que pretendia fazer. Já fazia muito tempo que vinha adiando aquilo. E sentia que estava na hora de retomar planos esquecidos. Apenas precisava descobrir por que o pai tinha pedido — ordenado — para que ele fosse até ali.

E era aquilo que o inquietava, o deixava agitado de um jeito desconfortável.

Por que seu pai o convocara àquela hora da noite? Por que ainda estava ali? O que tinha para dizer, que não poderia esperar até o outro dia?

Mas, ao longo dos seus trinta anos de vida, aprendera a não questionar o general Carbone.

As portas do elevador se abriram para ele.

Igor desceu, guardando o celular e seguindo pelo caminho familiar que fazia garras corrosivas se contorcerem dentro dele.

Quanto mais se aproximava do seu ponto de destino, mais os passos ficavam lentos.

Empurrou os planos da viagem para o lado, inspirou fundo e abriu a grande porta, sendo recebido pela visão elegante do escritório trabalhado em tons frios e minimalistas.

Seu pai estava sentado na mesa de carvalho, fazendo alguma anotação em sua agenda com capa de couro escuro. Não ergueu os olhos enquanto Igor se aproximava.

— Você está dois minutos atrasado.

Igor não perdeu tempo tecendo desculpas. Nenhuma delas serviria para o General Carbone. Amaldiçoou-se pelo atraso. Não imaginava que se depararia com um engarrafamento na avenida principal; não àquela hora.

Deixou que seu olhar caísse discretamente para a mesa impecável do pai, focalizando o envelope próximo das mãos dele.

Um alerta soou baixinho no fundo da sua mente.

— O que é isto?

Sentado na cadeira, com os ombros eretos e o queixo erguido, o pai sequer moveu um músculo face. Mas Igor entendeu. Jogou os braços para trás do corpo, ajeitou a postura e devolveu o olhar.

— Sobre o que se trata esse envelope, senhor?

Novamente, o pai não alterou uma linha do rosto. Estendeu o envelope para Igor. Seus olhos atentos se focaram no logo central; um papel em chamas, onde as letras EQA ardiam.

O coração dele acelerou embaixo do semblante congelado.

EQA.

Aquilo só podia significar uma coisa.

— Você foi convocado. Apresente-se até o final da semana para assumir seu posto.

O envelope não era nada mais do que um papel fino e leve. Mas Igor tinha a sensação de que, se o segurasse, estaria carregando uma barra de ferro nas mãos.

Ele puxou o ar, se armando para rejeitar a convocação e colocar sua viagem em primeiro lugar. A viagem que levara meses planejando. Entreabriu os lábios. Seu pai endireitou os ombros, os olhos quietos adquirindo um brilho mais selvagem, a boca curvada. Igor conhecia aquela expressão. O que quer que fosse falar, o que quer que pensasse em falar — já sabia que não era o que seu pai queria ouvir.

E aquele sentimento corrosivo e encarcerado dentro dele fez mais barulho do que qualquer outra vontade.

Talvez pudesse jogar a viagem para o outro semestre.

Igor anuiu, aceitando o envelope.

— Irei me apresentar até o final da semana, senhor.

— É um posto de liderança, de um trabalho que deverá ser realizado no sigilo, conforme o desejo do nosso governo. — Havia uma nota afiada, sublimada, no tom do pai. — Finalmente poderá me mostrar que não perdi meu tempo ao investir dinheiro em cima de alguém como você.

Igor manteve o semblante impassível.

— Não o decepcionarei, senhor.

O pai baixou o rosto, voltando a atenção para as anotações em sua agenda. A caligrafia do general era impecável, como tudo o que o rodeava.

O silêncio foi o sinal de que estava dispensado.

Sem relaxar a postura, Igor se virou e começou a rumar para fora do escritório. Havia um gosto amargo na boca, uma sensação arenosa na mão que segurava o envelope.

— Não espero nada menos do que o sucesso da missão.

Igor não respondeu. Continuou andando até sair do escritório. Até as portas se fecharem atrás dele.

Mas, mesmo enquanto entrava no elevador, mesmo enquanto saía do prédio sem olhar por cima do ombro, a sensação de estar sendo vigiado pelos olhos do pai permaneceu queimando em suas costas.

            Mas, mesmo enquanto entrava no elevador, mesmo enquanto saía do prédio sem olhar por cima do ombro, a sensação de estar sendo vigiado pelos olhos do pai permaneceu queimando em suas costas

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