Capítulo 1

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Dias atuais

Pov. Ingrid

A música Way down we go do Kaleo explode os auto-falantes do meu celular e me viro de um lado para o outro na cama com uma preguiça enorme de abrir os olhos, parece que não dormi nem duas horas na noite passada.

Mesmo morrendo de sono me obrigo a levantar, devo ter menos de uma hora para me arrumar e ir para o primeiro emprego do dia, esfrego os olhos e tento lembrar tudo o que tenho que fazer hoje, mas a verdade é que ando tão sobrecarregada que mal consigo lembrar meu nome. Enquanto foco minha visão na porta do quarto, para não acabar batendo nela pela terceira vez nessa semana, pego meu celular da mesinha de cabeceira e desligo o maldito despertador e sua música maravilhosa.

Tudo o que eu mais queria era uma noite de sono completa, dormir as sete horas e meia que os especialistas recomendam, mas a verdade é que se eu dormir por tanto tempo perco pelo menos um emprego, e no momento não posso me dar a esse luxo.

Vejo que no relógio marca seis horas da manhã, o que me deixa sem opção de lavar meu cabelo decentemente, mal consigo me lembrar qual foi a última vez que os hidratei, os fios loiros embaraçados e quase sem movimento me desanimam mais ainda para começar o dia, sem muita opção apenas os penteio rapidamente e os prendo em um coque.

Saio do meu quarto e caminho até o banheiro, tomo um banho super rápido e ao sair já coloco o uniforme do hotel em que trabalho pelas manhãs assim consigo economizar pelo menos alguns minutos para tomar um café decente com minha mãe.

Me olho no espelho e mesmo com as horríveis olheiras abaixo dos olhos não vejo necessidade de escondê-las com maquiagem ou algo do tipo, o lado bom de ter um emprego como esse é que passo despercebida aos olhos de todos os ricos e poderosos clientes do hotel, quase como se fosse invisível, e o fato de estar acima do peso também não é um atrativo para que me olhem mais de uma vez.

Com certeza é uma realidade bem diferente da que imaginei enquanto terminava a faculdade e as especializações em enfermagem, mas não me arrependo de nada, essa é a melhor forma que tenho de controlar o meu tempo.

Saio do banheiro já sentindo o cheirinho do café recém-passado da minha mãe, um sorriso toma conta do meu rosto e meu coração fica repleto na hora, é sempre assim, quase que instantaneamente os meus problemas somem ao sentir esse cheiro e ouvir ela cantarolando pela cozinha, o som da sua cadeira de rodas são a única coisa que destoa de tudo isso.

- Bom dia, abelhinha. - ela também me recebe com um sorriso e é impossível não retribuir. Deixo um beijo na sua testa e me sento a sua frente.

- Bom dia mamãe, como passou a noite? Quando cheguei a senhora já estava dormindo e não quis te acordar.

- Fiquei bem, Carine ficou comigo quase a noite toda, pedimos uma pizza e jogamos baralho, ela não aguentou perder e foi embora toda rabugenta. - Carine é minha tia, a irmã mais velha de minha mãe e o anjo de nossas vidas.

Ela dá risada enquanto imita a irmã com gestos exagerados e a acompanho, desde que nos mudamos e de que o acidente aconteceu, ter minha tia morando na mesma rua foi como se um pouco de luz voltasse a sua vida, meu tio morreu há alguns anos e minha tia nunca teve filhos então uma faz companhia a outra, como se tivessem voltado a juventude, é até engraçado, quem olha as duas juntas não julga que já estão chegando na casa dos cinquenta, parecem duas crianças.

- E as dores? Tomou todos os seus remédios direitinho? - pergunto mesmo contra a minha vontade, sei que a única coisa que a faz murchar é quando falamos sobre suas dores e os remédios que são a nossa infinita fonte de dívidas.

- Sim querida, não se preocupe demais, sua tia é ainda mais chata que você nesse aspecto e sabe disso.

- Mamãe, sem tentar me enganar viu, precisa seguir a risca o que o médico disse e na semana que vem a senhorita tem mais uma sessão de fisioterapia também.

Duas Vezes AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora