Capítulo 4

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10 anos antes

Pov. Ethan

- Oie Boo - cumprimento Ingrid assim que ela passa pela porta de sua sala, ela se assusta levemente e quase derruba os livros que carrega nos braços, o que acontece quase todos os dias.

- Oi Ethan! - sua voz sussurrada não é alta o suficiente para ser ouvida por seus colegas que passam ao seu lado, se já não estivesse tão acostumado ao seu tom de voz, quando está na multidão, também não a ouviria.

Pego os livros de sua mão e ela finalmente me olha, seus olhos castanhos me encaram por alguns segundos e pequenas rugas se formam nos cantos quando ela sorri para mim, lhe lanço uma piscadela e consigo ver o tom rosado que eu adoro do seu rosto antes que ela abaixe a cabeça envergonhada.

Começamos a andar em silêncio até a saída da escola, Ingrid normalmente não é de conversar muito quando os corredores estão todos lotados de alunos loucos para se verem livres de mais um dia na escola, mas excepcionalmente hoje ela está ainda mais quieta, parece até mesmo nervosa, tropeçando de vez em quando nos próprios pés, o que me faz ficar ainda mais alerta, já que coordenação motora nunca foi seu forte.

Algumas meninas acenam e chegam até a me chamar quando passo por elas, eu reconheço uma ou outra, mas não paro para falar com nenhuma, se estivesse sozinho talvez até pararia e ficaria com alguma, mas quando estou com Ingrid, ela tem meu foco total.

Nos conhecemos desde sempre e ela é minha melhor amiga, acho que sabemos praticamente tudo sobre o outro, mas um assunto que não era muito abordado por nós era relacionamento, ela não perguntava sobre as meninas com quem eu ficava e parecia incomodada quando o assunto surgia ou quando alguma delas achava que tinha liberdade o bastante para sentar com a gente no intervalo das aulas, por isso eu evitava ao máximo essas situações.

Já ela nunca me contou sobre alguém de quem gostava ou que estivesse interessada e não ia nas festas que os outros alunos organizavam, não que algum dos imbecis que haviam na escola fossem bons o suficiente para ser namorado dela, por isso ficava feliz toda vez que ela recusava os convites de Gabriel para ir as suas festas, ele é apenas mais um dos imbecis da escola e parecia até mesmo que gostava um pouco de mais dela, a ronda o tempo todo, e como eles estudam na mesma sala fica impossível eu afastar esse urubu de cima dela.

Assim que chegamos a rua os alunos começam a dispersar para todos os lados e finalmente consigo respirar mais aliviado, odeio multidões e lugares apertados. Ingrid que até então não tinha falado nenhuma palavra me olha e parece tomar fôlego para falar alguma coisa, ela morde o lábio pensativa, o que atrai meu olhar para sua boca, ela demora alguns segundos, mas logo desisti e abaixa a cabeça, seu cabelo loiro cobrindo o rosto de novo.

- O que quer fazer agora?

- Podíamos ir a sorveteira do seu Juca né?! Nessa cidade não tem muita coisa pra se fazer mesmo. E eu... Queria mesmo conversar com você. - de novo o seu nervosismo parece aflorar e não gosto da sensação que isso me causa.

- Pode ser. - tento fingir desinteresse para não deixá-la mais nervosa, mesmo queimando de curiosidade por dentro.

Como a nossa cidade é praticamente um ovo de tão pequena, vamos a pé mesmo e não demoramos nem dez minutos para chegar, alguns alunos parecem ter tido a mesma ideia que nós e estão sentados na pracinha que fica há apenas alguns metros da sorveteria, outros estão comprando sorvete e indo se juntar a eles, nos sentamos na nossa mesa habitual, um pouco mais afastada da entrada e dona Ana, esposa do seu Juca e a única garçonete do lugar, vem logo nos atender. O sorriso em seu rosto se amplia quando nos vê, ela já deve ter na casa dos cinquenta anos e sua estatura baixa dá a ela uma figura de avô muito acolhedora, sempre vínhamos aqui e quando estávamos de bobeira a ajudávamos em uma coisa ou outra. 

Duas Vezes AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora