UM PRESENTE DO PASSADO

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POV LANDON

Como alguém que já morreu mais de uma vez, acho que tenho propriedade para definir níveis de dor. Já tive meu pescoço quebrado; já fui apunhalado; meu coração já foi arrancado e, da última vez, meu corpo se incinerou. Mas, aquilo que senti antes de tudo escurecer foi, de longe, o pior jeito de morrer. Pelo menos eu achei que estivesse morrendo outra vez, já que nada de bom poderia resultar daquela sensação horrível de estar sendo sugado e esmagado ao mesmo tempo. Era como se eu estivesse sendo puxado por um buraco negro, como se meu corpo estivesse sendo comprimido, átomo a átomo, par caber em uma caixa pequena. Lembro de sentir muito medo. Em um instante eu estava vendo a Hope ir embora; viver momentos felizes com o Julio; ficar triste ao chegar em casa e, então, apenas escuro, uma gravidade reversa e dor. Lembro que a última coisa que vi, ou pensei ter visto, foi seu rosto enquanto ela corria tentando me alcançar.

Quando eu acordei, deitado em um chão de terra no que parecia mais uma caverna, ainda estava confuso. Como fantasma, eu nunca dormi. Quando não estava com a Hope, bom, não sei explicar, era como se eu não existisse. Sentir o contato com o chão depois de não sentir nada por cerca de sete meses, foi no mínimo estranho. Havia algumas velas iluminando o lugar e eu me levantei. Demorei para readquirir o equilíbrio e me lembrar como se fica em pé. Não vi saídas, apenas paredes, pouca luz e eu ali. Cheguei a pensar que estava no meu inferno pessoal, sozinho em um lugar fechado e escuro. Me perguntei se o fato de a Hope ter seguido em frente com a vida dela e com o Julio teria me condenado a uma eternidade de solidão. Se minha paz era ela, e agora eu a havia perdido, foi a única coisa que passou pela minha cabeça. Eu conseguia ouvir alguns sons, nada muito nítido ou alto, mas havia sons. Resolvi chamar por alguém, talvez eu não fosse o único ali.

LA: - Olá ?! – Disse dando alguns passos na minha bolha pré-histórica. – Tem alguém aí?

Nenhuma resposta. Eu não sabia quanto tempo havia se passado desde que eu achei que estivesse morrendo depois da morte até eu acordar naquele buraco, mas reparei que estava sentindo sede e um pouco de fome. Era oficial, eu estava assustadoramente confuso. O tempo que passei em paz me fez querer muito estar vivo, embora tivesse aceitado o fato de que morri, mas acho que tive que fazer muita força para não deixar meu subconsciente me iludir com a possibilidade de ter voltado ao mundo dos vivos. Aquilo era impossível! Se nem a Hope se atreveu a tentar, como alguém menos poderoso do que ela conseguiria essa proeza ? Quem além dela teria esse interesse ? Não, eu não podia me deixar levar pelo meu desejo de poder estar com ela outra vez, pela minha vontade de ter outra chance de viver.

Tateei a parede áspera mais próxima, para ter certeza de que podia tocar coisas de verdade, e estudei o lugar mais um pouco. Havia nove velas ali, alguém as tinha deixado acesas, mesmo uma delas estando apagada. Não soprava uma brisa sequer, então o que a teria apagado? Reparei que elas formavam o círculo dentro do qual eu acordei. Isso tinha que ser magia, vivi tempo o bastante com a Hope na escola Salvatore para saber reconhecer sinais de que haviam feito bruxaria em algum lugar.

LA: - Tá legal, não sei que lugar é esse ou quem me trouxe aqui, mas deve ter havido algum engano! – Disse alto esperando que o autor daquilo tudo respondesse.

Nada. Estava começando a ficar perturbado. Se eu estivesse certo, o que as vezes acontecia, eu havia voltado à vida. Algum feitiço poderoso me arrancou da minha paz e me colocou novamente no mesmo plano astral que ela. Minha nossa, Ela! Se eu estava mesmo vivo, se aquilo estava mesmo acontecendo, eu poderia vê-la de novo! Uma alegria enorme começou a tomar conta de mim só de pensar em encontrá-la mais uma vez, afastando meu medo de estar totalmente ferrado. Caminhei mais um pouco pelo lugar com passos firmes, só para ter certeza de que não iria atravessar o chão, mas não havia saída. Não havia nada além de paredes velhas e o escuro longe das velas. Como eu disse, minha noção de tempo era zero. Meu medo irracional de lugares fechados começou a vir à tona outra vez, com menos desespero e mais angústia. Se eu estava mesmo vivo, seria uma tortura ainda maior não poder sair dali e ter a chance de ver a Hope pelo menos mais uma vez antes de morrer de novo, mas dessa vez por inanição.

II - A Décima Vela | II - The Tenth CandleOnde histórias criam vida. Descubra agora