Depois de duas horas pedalando sem parar sequer por um minuto, os dois chegaram ao Colégio de Welton. As atividades já haviam começado. Mesmo do lado de fora, podiam ouvir vozes de alunos conversando animadamente enquanto se dirigiam até o refeitório, para o café da manhã. Não seria nada fácil entrarem despercebidos, na verdade, Neil duvidava até se conseguiriam entrar.
- Um pouco atrasados, não acham rapazes!? – Entoou uma voz masculina, vindo na direção deles. Estavam muito encrencados.
Mas a medida que o homem chegava mais perto, ele conseguiu identifica-lo: Professor Keating. Neil sentiu uma centelha de esperança, de que talvez não estivessem tão encrencados assim.
- Apenas algumas horas. Sabe como meu pai é, queria certificar-se de que tudo estava acertado – Explicou Neil, com um sorriso no rosto e tentando incorporar alguém confiante e despreocupado. Pela expressão de seu professor, não teve muito êxito.
- Ah sim, entendo! – Olhou para os lados, a procura de algo, ou alguém – E onde ele está? De certo não deixaria os dois voltarem sozinhos nesse frio.
Ao seu lado, Todd estava desesperado, Neil podia sentir a respiração descompassada do loiro, então ele pegou sua mão, para tentar acalma-lo. Neil estava calmo, pois entendeu, seu professor estava jogando verde, era óbvio que estava por dentro de toda a situação, só queria ver o que os meninos diriam, e depois com certeza traria algum ensinamento sobre. Mas ele não tinha tempo para esse jogo.
- Sei que o senhor sabe de tudo, só... só nos ajude, por favor – Pediu Neil.
- Tudo bem – Concordou o Sr. Keating, não parecia bravo – Entrem, antes que alguém veja vocês. Comam um pouco e se aqueçam. Depois conversamos, porque tenho certeza que há muito a ser explicado.
Antes de irem ao refeitório, decidiram passar no quarto para trocarem de roupa. Assim que abriram a porta, se depararam com Charlie Dalton; Knox Overstreet e Stephen Meeks, os três estavam sentados na cama de Todd, e estavam quietos, com um olhar sombrio e distante. Não que Neil estivesse reclamando de ver seus amigos, afinal estava com saudades, mas o que diabos faziam em seu quarto?
- Neil! – Gritou Charlie, levantando em um súbito, e colocando um sorriso no rosto – Você voltou. Nós estávamos com medo de que seu pai nunca mais o deixasse retornar a Welton.
Knox levantou e caminhou até Neil, lhe dando um abraço, e Stephen apenas sorriu.
- Pois é, consegui convencer o velho a me deixar voltar – Disse forçando um sorriso e segurando as lágrimas que ameaçavam cair. Seus amigos estavam tão felizes, ele não queria acabar com isso falando a verdade. Todd olhou para ele, com a testa franzida em confusão, Neil balançou brevemente a cabeça, e o loiro entendeu.
- Hum... Eu acho que a gente precisa se secar, a gente pegou um pouco de chuva sabem – Falou Todd. Neil sentiu uma onda de alívio, não conseguiria manter a expressão de felicidade e normalidade por muito mais tempo, não agora. Não poderia estar mais grato ao seu... namorado? O que eles de fato eram?
- Ah claro! Nós vamos pro refeitório, nos encontramos lá – Concordou Charlie, puxando os outros dois e saindo rapidamente. Em menos de dois segundos a porta foi aberta parcialmente e a cabeça de Knox apareceu.
- Todd, a gente teve que contar ao Professor Keating que você tinha ido atrás do Neil. Desculpa, mas é que você demorou muito, ficamos preocupados que algo tivesse lhe acontecido. Mas ele pareceu entender, não acho que vá contar ao diretor – Falou o garoto com a voz fraca, provavelmente se sentindo culpado.
- Está tudo bem Knox, encontrei com ele quando estávamos chegando, ele não vai contar nada. Obrigado por me acobertar – Knox acenou com a cabeça e fechou a porta novamente.
- Obrigado – Agradeceu Neil quando já eram só os dois no quarto.
- Pelo o que? Não fiz nada demais.
- Fez sim, você não precisava se arriscar indo até minha casa no meio da noite, e também...
- Cala boca seu bobo – Cortou Todd beijando-o profundamente.
- Ei! Golpe baixo – Disse Neil se afastando depois de alguns minutos – Agora nem lembro mais o que estava falando.
- Essa era a intenção – Riu Todd – Mas sério, eu não fiz nada demais, você faria o mesmo por mim.
Ele faria mesmo, faria qualquer coisa por Todd.
Apressadamente, os dois tiraram as roupas molhadas. De canto de olho, Neil viu as costas nuas do loiro, foi tomado por uma vontade repentina de percorrer com os dedos cada centímetro de pele, de ir descendo com a língua até... não, foco, precisava focar em se trocar, descer para o café da manhã e conversar com o Professor Keating, tinha muita coisa com o que se preocupar, afinal, agora era um sem-teto, não poderia permanecer no colégio por muito tempo, seria o primeiro lugar que seu pai o procuraria.
- Merda! – murmurou Neil, não tinha pensado que seu pai iria imediatamente procura-lo no colégio, provavelmente até já estava a caminho, ele não teria tempo para o desjejum, precisava se apressar. Começou a colocar todas as suas coisas na mala, para completa-la. Ele deixava metade de seus pertences em casa, e metade no colégio.
– Meu pai com certeza está vindo para cá, já deve estar a caminho. Desculpe, mas acho que não tenho tempo para comer, preciso falar com o Professor Keating imediatamente – Falou para Todd.
- Nossa, claro! Não tinha pensado nisso. Hum... vai indo até o Professor, eu pego alguns sanduíches pra você, acho que você deve estar morrendo de fome.
- Estou mesmo. Muito obrigado! – Agradeceu saindo do quarto, carregando sua mala pesada, ali estava tudo o que tinha, de repente a realidade o atingiu. Tinha dezessete anos, não tinha onde morar, não tinha dinheiro e não fazia a menor ideia de como iria sobreviver. Mas daria um jeito, tinha que dar, desistir estava fora de cogitação.
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É que... e se?
RomanceE se? E se Neil Perry não tivesse se matado no final de Sociedade dos Poetas Mortos? E se no exato momento momento em que fosse dar o tiro fatal em si mesmo, alguém o impedisse? O que aconteceria com o professor Keating, com a sociedade dos poetas...