Slytherin H.P.

48 5 1
                                    

P.O.V. Harry Potter

Mal acabou de proferir aquelas palavras as nossas roupas mudaram das cores usais para lilás com toques de bege. O símbolo estampado já não era um leão, mas sim o símbolo de Hogwarts completo.

-Os do 8 ano não farão parte da Taça das Casas e também não poderão jogar nos torneios de Quidditch. No entanto, quem quiser poderá dar aulas aos mais novos.

Aquilo deixou-me um pouco embaixo. Eu adorava jogar, sentir o vento no meu cabelo a despentear-me, a sensação de liberdade como se eu fosse um pássaro que tinha acabado de aprender a voar. Pelo menos poderia passar alguns dos conhecimentos do que aprendi ao longo dos anos.

Como se algum tipo de magnetismo se apoderasse de mim, olhei para a casa das cobras, onde agora um ex-slytherin olhava para as suas roupas admirado. Era incrível como apesar de todos os muros, de todas as fortalezas que ele criou para esconder as suas emoções e os seus sentimentos estes apareciam sempre estampados nos seus olhos tempestuosos. Como se sentisse o meu olhar em si, ele ergueu o olhar e percebeu que eu o estava a observar. Ao invés de afastar o olhar como pensei que faria, ele o manteve. Por um segundo pareceu que o mundo tinha parado. Os alunos tinham desaparecido e com eles o barulho do Salão Nobre, só conseguia ouvir o som do meu próprio coração a acelerar os batimentos cardíacos.

Fui tirado do meu transe quando Ginny chegou, abraçando-me de lado, sentando-se do meu lado e começando a falar da Luna. Eu gostaria de ter algo como o que elas tinham, alguém que apenas ao falar o nome os meus olhos brilhavam, alguém para me abraçar, para me acolher e para dizer que vai correr bem, mesmo quando o mundo está a ruir. Antes tinha os meus melhores amigos, porém, agora eles tinham parado de ser idiotas e namoravam. Eu estava muito feliz por eles, a sério que estava, mas custava-me ser sempre deixado de lado. Às vezes eles falavam e esqueciam-se que eu estava ali, acabando por eu ter de sair por ficar desconfortável. Eles também tinham piadas internas que eu não entendia, e magoava pois antes eu sabia sempre do que é que eles estavam a falar.

Eu passei a minha vida até ao 11 anos sozinho, afinal nenhum vizinho se aproximava de mim e os miúdos da minha escola tinham sido ameaçados para não falarem comigo. No entanto, tudo isso mudou quando eu vim para Hogwarts e conheci o Ron e a Hermione. Claro, nós tínhamos as nossas discussões, principalmente eu e o Ron devido ao complexo de inferioridade dele, mas resolvíamos sempre tudo. Eu nunca tive muito tempo para me aproximar de outros estudantes. Eu conheci o Neville, o Dean, e o por ai vai, mas apenas , porque eles dormiam no mesmo dormitório que eu. Amizade como eu tinha com a Mione e o Rony eu não tinha outra. E habituado como eu estava a te-los por perto, custava-me ficar sozinho outra vez, no entanto iria fazer isso por eles e tentaria arranjar outra pessoa. Talvez Cedric. Ficámos muito próximos depois de quase termos morrido no Torneio Tribruxo.

Antes que eu me desse conta, o jantar tinha terminado e começaram a seleção. Decidiram inverter a ordem este ano, porque o comboio tinha-se atrasado e os primeiristas jantaram a bordo.

Vários alunos foram para Hufflepuff, Gryffindor e Ravenclaw. Todos eles saíam do pequeno banquinho com um sorriso estampado no rosto. Mas o mesmo não acontecia para os que eram selecionados para a casa verde e prata. Pelo canto do olho, vi o olhar triste que Draco mandava para os novos Slytherins que se sentavam lançando comentários como: "A minha mãe vai-me deserdar", "Será que eu sou assim tão cruel?", "Como assim Slytherin? Eu não sou mau!". A diferença era considerável entre o número de alunos que tinham ido para cada casa. A mesa das cobras estava quase vazia, pois muitos antigos alunos não conseguiram voltar, porque os pais estavam aliados a Voldemort e não entraram muitos novos.

Aquilo era ridículo! Era estúpido aquelas crianças sentirem-se tristes por terem calhado na casa verde e prata. Decidi dar um basta na situação.

Levantei-me e dirigi-me para a Slytherin, na zona onde os novos alunos estavam juntos. Todos começaram a olhar para mim e a sussurrar. Quase conseguia ouvir o que estavam a pensar, e os meus pensamentos foram confirmados quando ouvi alguém da minha antiga casa a dizer:" O grande Harry Potter vai colocar os vilões finalmente no lugar".

Colocá-los no lugar?! Se eu não estivesse tão comprometido com o meu objetivo eu teria parado e discutiria com aquele ser ignóbil desprovido de cérebro.

Cheguei perto dos alunos novos e vi medo na sua face. Eles pensavam mesmo que eu iria falar mal deles. Suspirei antes de começar.

-Vocês não tem de se sentir envergonhados ou tristes por terem calhado na Slytherin. Vocês calharam nela, não porque são maus ou vilões como alguns vos podem dizer, mas sim porque tem as características que a definem. São ambiciosos e astutos, como alguém que eu conheço, que apesar de ser o segundo melhor aluno do meu ano, é muito inteligente, especialmente em Poções. Também tem uma grande capacidade de liderança como um grande homem que conheci. Vocês têm de se orgulhar da vossa casa e ignorem aqueles que falam mal dela.- disse eu. Então baixei o tom de voz, não muito mais alto que um sussurro, no entanto, com o silêncio que estava à minha volta sabia que todos ouviriam.- Aliás, eu próprio quase calhava na Slytherin, mas por causa de algumas opiniões externas eu decidi ir para Gryffindor. Não se envergonhem do que são.

Voltei para a minha mesa e comi a comida que ainda tinha no prato, ignorando os olhares lançados para mim. Não sabia se isso era possível, mas parecia que estava ainda mais silencioso.

...

-Gostei de como tu defendeste os Slytherin, Harry. Estou orgulhosa de ti.- elogiou Hermione, enquanto eles seguiam os corredores até ao seu novo dormitório.

-Eu simplesmente disse a verdade, Mione. Eu estou cansado desta rivalidade infantil da Gryffindor e da Slytherin. Nós passamos por uma guerra, lutámos a sério, com perdas verdadeiras. Temos de aproveitar a vida que ainda temos pela frente, e aqueles miúdos iriam sentir-se mal. Sabias que enquanto a guerra estava a acontecer prenderam os Slytherin nas masmorras? Não é justo. Tratam-os como se fossem monstros, devido às atitudes de outros.

-Tens razão.- concordou Hermione.

-Tenho um dúvida. Quando tu disseste que não foste para a Slytherin por cause de atitudes externas, de que atitudes estavas a falar?- perguntou Ron.

-Bem, tu foste um dos primeiros bruxos com quem eu estive e disseste com tanta segurança e repugnância que quem fosse Slytherin tornar-se-ia mau, que eu não quis ir, especialmente depois de saber que era a casa do homem que matou os meus pais. Mas agora, olhando para trás, acho que não faria grande diferença.

-A sério?! Bem, eu não fazia ideia.

E tivemos de interromper a conversa, pois finalmente tínhamos chegado ao nosso destino.

Amor É Mais Que Uma Palavra De 4 LetrasOnde histórias criam vida. Descubra agora