P.O.V Draco Malfoy
Tentei ficar o mais quieto e silencioso possível. Talvez ele pensasse que tinha sido apenas imaginação sua e voltasse para a cama.
Senti um farfalhar das mantas que o cobriam e logo ele estava de pé, ligando a luz que iluminou o nosso quarto.
Ok, Draco. Está na hora de fazeres uma boa atuação.
-O que é que pensas que estás a fazer Potter?- perguntei, como se tivesse acabado de acordar.
-Pareceu-me ouvir qualquer coisa desse lado.- respondeu, os seus olhos percorrendo o meu corpo, logo parando na pequena mancha que cobria os lençóis perto de mim.- Não me digas que te tornaste mulher?- disse em tom de gozo. No entanto, conseguia captar alguma seriedade no que ele dizia.
Ele sabe.
-Muito engraçado Potter. Agora se não te importas podes deligar as luzes? Eu quero dormir.- pedi, sem olhar no seus olhos, porém eu conseguia senti-los a fuzilar o meu braço, tapado com a manga do meu pijama, onde começava a aparecer uma mancha avermelhada.
Ele sabe.
-Draco, o que é que se está realmente a passar?- o uso do meu nome foi um gatilho. Olhei para ele, pensando ver raiva ou fúria ou qualquer outra emoção que eu costumava causar nele, no entanto o que vi foi algo que apenas tinha vistos em duas pessoas na minha vida inteira.
E eu sei que ele sabe.
Preocupação. Os olhos verdes cintilavam, cheios desse sentimento tão raro dirigido a mim.
Quase me deixei levar, mas tinha de permanecer forte. Não deixaria que ele descobrisse.
-Não se está a passar nada.- eu queria chorar, fugir e sorrir, tudo ao mesmo tempo.
Queria chorar, pois estava cansado de manter aquele peso apenas sobre mim.
Queria fugir, pois não queria que Harry me visse daquele jeito.
E queria sorrir, porque... foi a primeira vez que vi preocupação no rosto dele, a primeira vez que alguém além da minha mãe e da enfermeira da escola, olhava para mim assim.
Ele aproximou-se e eu não notei, concentrado como estava nos meus pensamentos. Assustei-me quando os seus dedos frios tocaram a manga do meu pijama levantando-a, expondo as minhas cicatrizes, as velhas e as novas que ainda escorriam.
Sem dizer uma palavra, começou a cuidar dos meus ferimentos. Sentia a sua magia a fluir sobre mim, fechando os cortes e cicatrizando-os.
Por mais envorgonhado que eu estivesse( não queria que ninguém me visse naquele estado) , fiquei maravilhado com a facilidade com que ele fazia aquilo. A concentração na sua face era adorável e os seus olhos brilhavam com uma inteligência...
Espera lá, eu acabei de chamar o Harry Potter de fofo e inteligente?! O que raio se passa comigo? Devia saber que partilhar o quarto com ele seria uma má ideia!
Harry olhou para cima, vendo o olhar intrigado que eu lhe lançava. Fazendo um sorriso tímido disse:
-Aprendi com Hermione, quando fomos em busca das Horcruxes.
Sabia do que ele estava a falar. A divisão de Voldemort que o tornava imortal, mas foi destruído por 3 adolescentes. Às vezes eu duvidava da inteligência que o meu pai dizia que o "grande Lord" tinha.
Tremi com o simples pensamento do meu pai. Felizmente eu estava livre, enquanto ele estivesse em Azkaban.
-És bom nisso. Obrigado.- agradeci, depois dele fechar a última ferida.
-Nunca pensei que iria viver o suficiente para ver o Draco Malfoy a dizer obrigado.- respondeu ele, sorrindo para mim. Devolvi-lhe, um pouco mais contido.
De repente o seu rosto ficou sério.
-Queres falar sobre o que aconteceu hoje?- questionou. Vi que ele queria que que dissesse sim, mas se ele queria as coisas ao jeito dele, ele fez errado ao perguntar-me.
-Não.- disse, deitando e fechando os olhos, o cheiro a sangue desaparecido graças a Harry .
Ouvi um suspiro pesado, antes de as luzes se desligarem e eu apagar.
P.O.V. Harry Potter
Draco precisava de ajuda. Ajuda que eu estava disposto a dar, mas que ele não queria receber.
Tudo bem, se ele não queria falar, então eu esperaria o tempo dele sem fazer perguntas. A minha dúvida era quanto tempo se passaria.
...
Um mês se passou.
Os alunos começavam a estranhar a nossa falta de lutas, que eram tão conhecidas pela escola toda e que acabavam sempre na enfermaria.
Alguns queriam que voltassem a lutas, outros, como a Hermione, achavam sensato e maduro da nossa parte.
Todos achavam que era por a professora Minerva ter nos colocado juntos, e por isso obrigou-nos a dar bem.
A verdade é que eu já não via mais sentido naqueles disputas. Eu sempre me defendia, mas sem ninguém para me atacar isso deixou de acontecer.
Draco também se afastou e desde aquela noite nem me dirigia a palavra.
Chegava tarde para não ter de falar comigo e levantava-se super cedo. Nem sei como ele conseguia aguentar as aulas assim tão cansado.
Mas um dia algo mudou.
Durante o jantar, vi que ele se abraçava aos amigos como se fosse uma despedida. Eles olharam confusos para ele, sem entenderem, mas retribuiram o gesto.
Quando cheguei ao dormitório, tentando ignorar aquela sensação estranha de que algo ia acontecer, encontrei uma carta na minha cama.
Rapidamente a abri, e deparei-me com a caligrafia de Draco.
Harry,
Sei que não há pedido de desculpa que nos faça esquecer o passado. Sempre fica aquela insegurança ou um pé atrás. Sei que um pedido de desculpas não nos garante a construção de uma nova amizade com quem nós humilhamos e magoamos, porém liberta-nos da culpa, pelo menos um pouco.
No entanto quero pedir-te desculpa com a esperança de que tu aceites.
Tratei-te mal a vida toda, desde aquele dia em que não aceitaste a minha amizade. Parece um pouco infantil da minha parte ainda me lembrar disso, mas realmente me marcou.
Tu foste a primeira "coisa" que eu queria e que não consegui.
Também quero pedir-te desculpa por todo o transtorno que te causei a ti e aos teus amigos. Sei que não tem desculpa, mas foi assim que eu fui ensinado e nunca ninguém me ensinou outra maneira.
Um pedido de desculpas sincero vem acompanhado de um desejo de mudança.
E a partir do momento em que tu me salvaste de Azkaban eu tentei, eu juro que tentei, mas devido ao à Marca Negra, ninguém quis ver a minha mudança.
E eu juro que se tivesse mais tempo eu iria mostrar-te o quanto mudei. Porém o meu tempo acabou.
Adeus Harry.Draco
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Amor É Mais Que Uma Palavra De 4 Letras
FanficConcluída -Amor é mais que uma palavra de 4 letras. Amor é amar alguém, mas não aquela pessoa perfeita. Não existem príncipes, princesas, cavaleiros andantes. Existem pessoas normais, com defeitos e qualidades. E amar é enaltecer as qualidade, sem...