Capítulo 12

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Uma rajada de vento bagunçou os cabelos de Elias e esvoaçou a túnica preta do ceifador como uma cortina negra para um espetáculo macabro. Os dois encaravam-se em silêncio, paralisados como se o mundo ao redor estivesse em câmera lenta. Elias tinha o pavor pintado em seu rosto e o assassino mantinha o semblante apático em sua máscara brilhante, com lágrimas ferrugentas escorrendo dos olhos negros e sem vida.

Um arrepio percorreu o seu corpo e o jovem pressentiu que, mesmo com toda aquela fantasia teatral de um filme de terror, a postura do assassino e a maneira como ele estava estacado, fitando-o, era muito familiar.

As mãos enluvadas do ceifador abandonaram o cabelo molhado de Thomas, deixando o corpo débil do rapaz cair contra o chão do terraço. Thomas soltou um gemido quando embateu, cuspindo sangue. Elias, iluminado pela luz vermelha da escadaria, pressionou os dedos contra o cabo azul do machado como se aquilo fosse o seu bem mais precioso.

O mascarado aproximou-se, mas deteve-se assim que a arma cortou o ar em sua direção, com a lâmina passando de raspão a poucos centímetros do seu ombro. Para um aluno de engenharia que passava a maior parte do seu tempo desenhando componentes eficazes e vetores, ele até tinha algum tempo de fazer musculação, mas aquilo não era o suficiente para detê-lo, era como se o assassino conhecesse cada ataque, prevendo o próximo logo de seguida.

Esquivando-se uma vez mais do golpe de Elias, a mão enluvada fisgou o cabo do machado, e o garoto já não tinha força para puxá-lo. O ceifador chutou a sua perna e Elias nem teve tempo de ver a arma ser arrancada das suas mãos, quando voltou a levantar o olhar, a bota do assassino desferiu outro chute, acertando-o precisamente ao peito.

Elias perdeu o equilíbrio e cambaleou para o lance de escadas atrás de si, ele tentou agarrar-se aos corrimãos, mas já era tarde demais. O seu corpo rolou os seis primeiros degraus e depois bateu com a cabeça contra a parede, tendo a sua queda travada. O ceifador encarou-o uma última vez, selando Elias na escadaria e trancando a porta de emergência com o cabo do machado para imobilizar a trava metálica.

O assassino virou-se para o corpo de Thomas, encolhido como um bebê, completamente vulnerável e dilacerado, passando os seus últimos instantes de vida agonizando e esvaindo-se em sangue. Aquilo encheu-o de satisfação. Ele aproximou-se da mureta, sacando a sua adaga e triste pelo fato de que o sofrimento de Thomas acabaria ali com um último golpe.

Mas ao aproximar-se, as luzes das sirenes refletiram na superfície da sua máscara e ao olhar para o horizonte nebuloso de Tommenhan, avistou o rápido aproximar dos camburões da polícia sendo guiados pela viatura da inspetora. Ela não voltaria para casa sem a máscara do assassino em mãos e o culpado atrás das grades. A bota da mulher pisou no acelerador e disparou em direção ao hospital da universidade das Santas Luzes.

Eles avançaram para o jardim do hospital, deixando marcas dos pneus por todo o gramado. Os agentes saltaram para fora das viaturas. Trajavam coletes a prova de balas e capacetes pretos reforçados. A inspetora subiu os degraus da fachada às pressas e depois de sinalizar para as duas colegas, chutou as portas de entrada do hospital que se abriram num estrondo.

Os agentes apontaram as armas e lanternas para a recepção vazia e a inspetora, com pistola em mãos, foi a primeira a adentrar o recinto lúgubre. As caixas de som dos corredores tocavam "You Don't Own Me" da Lesley Gore. Na parede principal do saguão, a frase "todos aqueles que pecaram, cairão" escorria em sangue. As lanternas iluminaram a parede enquanto a inspetora aproximava-se, descobrindo o caminho escarlate que descia pela parede e respingava por todo o chão, em direção a sala de vigilância.

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