Capítulo 4

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Joana havia chorado a noite toda, mas tinha medo de continuar chorando, principalmente na presença da inspetora. A mulher de pele escura vestia branco naquela manhã, ela aproximou-se da mesa pousando um notebook.

— Encontramos os ficheiros dos vídeos pornográficos gravados por Rowland Mayfair. – Falou a inspetora. — Mas alguém danificou os arquivos, deixando para trás apenas fragmentos e títulos.

Joana sentiu um peso sair das suas costas.

— De forma alguma tento desculpar o comportamento de Rowland... - A inspetora sentou-se de frente para a jovem. — Entretanto, isso faz de você uma excelente suspeita.

A universitária parecia abismada, sentiu o estômago contrair como se fosse vomitar, mas manteve-se firme, encarando-a nos olhos.

— Sei que isso não vai me ajudar, mas confesso que a notícia da sua morte e a maneira como morreu foi extremamente satisfatória.

A inspetora arqueou uma sobrancelha e inclinou-se sob a mesa.

— Este comentário pode te trazer problemas.

Joana abriu um sorriso.

— Ele também me matou várias vezes nas noites em que eu fui violada sexualmente e psicologicamente, mas ninguém o avisou que as ações dele poderiam trazer-lhe problemas, mesmo com duzentas queixas no gabinete do diretor.

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Elias sentou-se ao lado de Samanta, ele vestia o blusão da Pitágoras, entretanto era justo demais, apertando-lhe os músculos, como se a roupa tivesse encolhido. Seu perfume era adocicado e Samanta só percebera a sua presença por causa da fragância.

— Senhorita Lewis. – Falou ele com o seu tom bem-disposto. — Tem planos?

— Tenho aula de sociologia daqui duas horas.

— Perfeito! Viria comigo até o palanque das eleições?

O palanque acontecia todo ano após a festa de boas-vindas, as irmandades e alunos seletos eram convidados a comparecer ao auditório da universidade para elegerem a nova irmandade líder. Todos os anos, a chave dourada da universidade era disputada entre a Pitágoras, a Shakespeare e a Hércules. Apenas os seletos alunos poderiam votar, quem poderia ser um seleto? Qualquer aluno sem qualquer envolvimento com as irmandades.

— Mas eu sou sua amiga, não é contra as regras? – Perguntou ela fechando os seus livros.

Ele soltou uma risada irônica.

— Ninguém precisa saber! Por enquanto, eu sou apenas o seu guia e seria de boa-fé te mostrar o auditório no dia das eleições, não acha?

— Você é tão espertinho. – Samanta guardou os livros em sua bolsa e colocou-se de pé ao lado de Elias. — Me leve para votar então, guia.

Saíram da biblioteca e seguiram pelo caminho cinzento em direção ao prédio da diretoria. O dia estava ensolarado, mas o frio já se fazia presente, fazendo Samanta enrolar o cachecol que a avó fizera ao redor do pescoço.

Àquela altura, Samanta já estava arrependida de ter aceitado o convite do amigo, não pensara se teria de enfrentar um auditório cheio de alunos. Mas não havia razão para estar nervosa. Pensou ela. Eles adentraram o prédio, penduraram os casacos e cachecóis num cabide próximo das portas de vidro.

Havia uma fila de alunos na porta do auditório, Samanta sentiu o estômago congelar.

— Você tem de esperar aqui, nós nos vemos lá dentro. – Falou Elias.

Alter Ego (Em Hiato até Agosto de 2024)Onde histórias criam vida. Descubra agora