Cartas De Suicídio

Pavor

As vezes penso que morrer seria realmente um alívio, mas aí imagino as pessoas que amo indo embora, e o que seria libertador se torna cortante, destrutivel, amargo... uma pausa no tempo, um devaneio incongruente, uma perda arrebatadora, uma peça cortada ao meio que agora não completaria mais o quebra-cabeça, pra sempre.

Somos luz, escuridão, peso e sentido
Navalha, corte, cicatriz e perigo

Alucina-te com o mundo para ver-lhe com bons olhos, desperta-te com o mesmo e tenha para si os medos.

Pureza
Leveza

Linhas vitais tecendo o destino, fios da raiz arrepiando o instinto.

O vago sentimento de pertencer à alguém, fascina-te o desejo de ser.

Quando penso no meu eu que está perdido, como um jovem forasteiro em uma floresta desconhecida, desbravando todos os conflitos que o espera, imagino que este eu, parece livre, desempedido, corajoso... mas logo vejo a verdade, ele se sente perdido não só por não achar a saída da floresta e a solução dos confrontos pavorosos que enfrentaria, ele está perdido dentro de si, no seu inconsciente, pelos seus sentimentos e outros eus.

Acalhenta-me o querer, ver-me-ei liberto quando souber o porquê.

Preciso de realidade, me comprometo, não vivo a incerteza, sou ninguém procurando alguém pra me segurar.

Amor
Ódio

Consulto-me e tenho certeza de acometer-te com meus sentidos, preso por um fio, terei de vê-lo se arranhar para fugir da verdade, dos motivos.

Sou um andarilho, tu és um paladino, envolvo-te em meu caminho, me deixe lutar contigo.

Agora sou tudo, ainda que muitas vezes nada, percebo que muito de mim temia o futuro pois teria de lidar com a voracidade da perda, da dor, do momento belo de apego, que prende, mas acolhe, me recolho, te vejo, me sente, nos perdemos, tu me encontra, eu te vejo, nós vivemos.

Pavor.