Lady de York

Prólogo

Londres, 1750.

Os passos apressados de Richard Birtwhistle ecoavam por todo o corredor perfeitamente decorado da residência dos Beauchamps, indo direto ao escritório de Frederick, seu padrinho de casamento e melhor amigo.

O homem de cabelos negros e olhos tempestuosos adentrou abruptamente a pequena sala, revelando seu semblante cansado e olhos que imploravam por ajuda. Frederick, que estava atarefado e imerso nos diversos documentos que cobriam sua mesa, ergueu o olhar rapidamente, dando de cara com um homem totalmente diferente do Richard que conhecia desde a infância.

— Pela rainha, homem! — exclamou o Conde ao se levantar — Espero que a causa desta visita desavisada seja a morte de alguém, senão eu mesmo te mato por me assustar desta maneira.

Richard buscava recuperar o fôlego antes de prosseguir. Estava cansado após subir tantos lances de escada e caminhar apressadamente.

— Preciso... falar com você — respondeu o Duque, ainda cansado.

— E não podia simplesmente mandar uma mensagem antes? — repreendeu Frederick, só agora parando para olhar com atenção o amigo — Céus, você está horrível... Sente-se, conte-me o que aconteceu para te fazer vir até aqui com tanta pressa.

Infelizmente Frederick estava certo, alguém realmente iria morrer.

Richard havia sido nomeado Duque de York há cerca de cinco anos pela própria rainha, mas este fato não agradou muita gente, principalmente amigos do rei, que esperavam ansiosos por tal título. Isto havia iniciado uma verdadeira caça ao Duque desde o dia em que pisara em Londres para receber as honras. Todos os irredutíveis e inconformados lordes da cidade torciam para que o jovem homem jamais viesse a ter um herdeiro homem até o fim de sua vida e, bem, para a felicidade da oposição ele, de fato, havia tido apenas uma filha. Uma jovenzinha que herdara toda a beleza da mãe, além dos cabelos dourados como o sol, porém os mesmos olhos tempestuosos do pai. Era por ela que estava ali, para implorar por ajuda.

Mesmo rodeada por luxos, festas e bebidas caras, a sociedade londrina podia ser cruel com suas damas, ainda mais se estas fossem meras ladys, sem uma família de renome ou, como em breve seria o caso, com o sobrenome manchado.

— Frederick, sabe que não te pediria tal absurdo se não fosse necessário, mas minha esposa e minha filha correm grande perigo e temo não estar aqui para protegê-las.

O homem de cabelos castanhos que era o Conde estava pensativo, quase tanto quanto deveria. Ponderava a ideia e, mais ainda, os termos.

— Richard, sabe que daria minha vida se fosse necessário, mas...

— Não quero sua vida, quero sua palavra. A mesma que me deu cinco anos atrás quando me foi dado esse miserável título.

— Céus, Richard... por que estes homens querem tanto que seja destituído? Se ao menos eu compreendesse, poderia te ajudar definitivamente e assim não deixaria sua família ao acaso.

— Frederick... eu irei morrer esta noite, minha mulher ficará com o título, mas sem um herdeiro homem acabará sem recursos e sem poder comandar as finanças.

— Eu sei, não me oponho em ajudá-la, mas...

— Minha filha não terá nada. Nem herança, nem títulos, será uma lady e nada mais. Minha derrota irá desgraçá-la para sempre, não posso... ela não merece um destino tão cruel.

— Eu sei, Richard, e entendo, mas...

— Eu faria o mesmo se fosse você em meu lugar, amigo.

Era impossível dizer que não há uma súplica daquelas. Sim, seu filho receberia um belo dote, mas jamais pensou que isso viria de um casamento arranjado. Embora quisesse negar, sabia que devia muito a Richard e, mesmo com tantas condições, ainda era o mínimo que poderia fazer.

— Está bem — respondeu o homem, por fim — Cuidarei de Vivian e de Beatrice, irei casá-la com meu primogênito e ela será Condessa quando chegar a hora. Farei isso por você e pela nossa amizade.

Chegava a ser cruel decidir o destino de duas crianças que sequer sabiam daquela conversa, mas, neste caso, os fins justificavam os meios.

Aliviado, Richard finalmente pode voltar a respirar com calma, sabendo que partiria sem deixar sua família desamparada.