Capítulo cinco

10.1K 1K 184
                                    


Meus pensamentos estavam misturados, em um momento meu coração apertava pelo beijo de Lucas com outra garota, e em outro, um frio na barriga apenas de lembrar dos lábios de Nathan nos meus.

O sol entrava pela janela, anunciando que já havia amanhecido e teria que enfrentar meus demônios, não é apenas a noite que eles surgem, como dizem para as crianças. Quando adultos é mais costumeiro encontrá-los à luz do dia, junto de nossos sonhos.

Pegando o celular do criado mudo, vejo uma mensagem, de Nathan. Dizendo: "Bom dia! Espero que esteja bem."

Mesmo com meus olhos inchados pelo choro da noite passada, ele conseguiu me tirar um sorriso, somente com algumas palavras.

Para começar o dia eu precisava de um banho, uma xícara gigante de café, junto de um livro muito meloso.

A água morna que deslizava sobre minha pele, acalmou meus pensamentos, mas não o peso em meu coração, os dois beijos ainda eram nítidos em minha memória, mas um novo dia requer memórias novas.

Ainda com a toalha enrolada no cabelo, revirava meu guarda roupa, como era final do verão, fazia dias equilibrados, propício para uma calça jeans, tênis e manga curta, um look muito costumeiro da minha parte.

Vestida, com o cabelo seco e depois de muita base para esconder as marcas do meu choro, fui em direção a cozinha.

Senti o cheiro delicioso que tomava o lugar, panquecas carregadas com calda de chocolate, feitas pela minha mãe, com café passado, com certeza o remédio para qualquer ferida.

— Bom dia! — falei, dando um beijo em minha mãe, meu pai lia o jornal, mas o botou de lado, assim que me viu.

— Bom dia, querida! — respondeu ele.

Minha mãe me segurou pelo braço, antes que eu pudesse escapar.

— Está tudo bem, filha? — ela parecia preocupada.

— Claro, mãe! — menti, bom, não era uma mentira, estava mais para uma meia verdade, me sentia bem, apenas meu coração se encontrava partido.

— Parecia que te ouvimos chorar ontem a noite. — foi a vez do meu pai falar. Apenas neguei com a cabeça. — Vamos acreditar em você, sei que contaria se tivesse algo errado. — esses eram meus pais, preocupados, mas respeitavam minha privacidade.

— Claro que contaria. — recebi um tapinha de conforto da minha mãe, ela sabia que havia algo errado, mas não insistiria, pois na hora certa eu contaria.

— Mudando de assunto, quem era o garoto ontem? — minha mãe expressava um sorriso, como se dissesse "por favor seja seu namorado".

— Meu... namorado! — a resposta saiu pulando de minha boca, não queria decepcioná-los, de qualquer forma teria que fingir para os pais dele, não gosto de mentir para os meus, mas até conquistar Lucas, eles poderiam ir treinando com Nathan.

Meus pais pareciam contentes, se não estivesse no local, provavelmente eles estariam aos pulos de alegria. Mas só o que ouvi foi.

— Ele é lindo, filha! Estou feliz por ter encontrado o garoto do seus livros. — comemorou minha mãe. Mal sabe ela, que Nathan não passava do namorado falso e que o garoto dos livros possuía outro nome, Lucas.

— Obrigada, mãezinha! — sorri sem graça.

Meu pai se aproximou, dando um beijo em minha testa.

— Se ele partir seu coração, eu acabo com ele. — disse, esboçando um sorriso.

— Avisarei de sua ameaça! — falei, rindo.

O destino foi generoso comigo, tinha seis anos quando, Susana e Fernando, adotaram uma garotinha ruiva, eu. A vida não poderia ter me presenteando com pais melhores. Não temos o mesmo sangue, mas temos uma ligação que vai além. Família não é aquela na qual nascemos, mas sim, aquela que escolhemos e que nos amam incondicionalmente, mesmo com nossas imperfeições.

As únicas que sabem sobre minha adoção são Isa e Nanda. Não é um segredo, mas é doloroso lembrar que fui abandonada.

Espantando esses pensamentos. Depois do café da manhã, meus pais foram para cafeteria e eu pegaria um ônibus para faculdade.

Caminhando pela rua até o ponto de ônibus, observava as folhas nas árvores rodopiando no ar, caindo ao chão, avisando que o outono se aproximava, o céu com nuvens, o sol envergonhado, um vento fresco soprava, causando arrepios em minha pele, por estar sem casaco. Era meu tipo de clima, perfeito para edredom, café e um romance bem açucarado.

O mundo poderia desmoronar, mas se eu tivesse um romance em mãos, não notaria o caos. Estranhamente, ontem a noite, senti o mesmo, quando Nathan envolveu-me em seus braços, como se destroços de prédios caíssem ao meu redor, mas não me atingiria, pois ele impediria que meu mundo ruísse.

Voltei para realidade, quando uma moto estacionou em minha frente, revelando os olhos verdes de Nathan, meu coração pulou, com uma mistura de surpresa e felicidade, o que naturalmente não combinavam com a presença dele, surpresa sim, mas não felicidade.

— O que você está fazendo aqui? — perguntei rápido, cruzando os braços, o vendo descer da moto e colocando o capacete em cima da mesma.

— Nem um "Bom dia", já vai tacando pedras em mim? — disse sorrindo de uma forma divertida.

— Bom dia, Nathan! — cumprimentei, ironizando. — Melhorou agora?

— Achei um pouco falso! Mas aceito. — ri soprado. — E respondendo sua pergunta, vim te levar para faculdade.

Meus braços que antes se encontravam cruzados, caíram ao meu lado, surpresa. Ele teria vindo até aqui apenas para me levar para faculdade?

— Por que faria isso? — indaguei, tentando recuperar a pose.

— Porque sou seu namorado e a mentira pareceria verdade, se chegarmos juntos. — por um lado ele está certo, mas nunca diria isso em voz alta.

— Está bem! — concordei, recebi um sorriso do garoto. Por um instante, eu não acreditava que era apenas esse o motivo dele ter vindo me buscar, mas servia por ora.

Peguei o capacete de suas mãos.

— Espera! — pediu, ele retirou sua jaqueta de couro, que o deixava com um ar misterioso e muito atraente. Agora olhando de perto, entendo o motivo do apelido, "destruidor de corações", qualquer uma ficaria destruída, até mesmo, eu. Por mais que doesse admitir. — Coloca, o vento vai te dar frio! — fiquei sem reação, então ele me ajudou a vestir, senti seu cheiro doce, e mais uma vez meu coração acelerou.

— Obrigada! — agradeci, um pouco sem jeito. Estávamos próximos o suficiente para sentir nossas respirações misturadas, o olhar dele intercalava entre minha boca e meus olhos, que inconscientemente se fecharam, desejando os lábios de Nathan nos meus.

Um acordo infalívelOnde histórias criam vida. Descubra agora