Capítulo dez

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A culpa era pesada, como uma correnteza que me arrastava mais para o meio de uma teia de mentiras. Mentiras são fáceis de contar, mas tão cortantes quanto lâminas afiadas, rasgando a pele, impregnando sofrimento quando se descobre a verdade.

O jantar estava pronto, uma mesa repleta de comidas deliciosas foi posta. O cheiro de especiarias exalavam pelo local. O pai de Nathan preparou uma receita de família, um tradicional ravióli italiano.

Um lustre acima da mesa deixava tudo mais claro, dando para ver as obras de artes estampando as paredes cinzas.

Sentei ao lado de Nathan, de frente para Verônica e Miriam, Ruggero sentou-se na ponta da mesa.

— Como vocês se conheceram? — perguntou a madrasta de Nathan. Nos olhamos e ele segurou minha mão por baixo da mesa, como se não soubesse a resposta ou se não quisesse expor a verdade, já que foi no incidente da piscina. Surrei em seu ouvido "tudo bem".

— Ele me salvou! — falei, fazendo que todos nos olhassem apavorados, ansiosos pelo resto da história. — Quando nos conhecemos eu estava me afogando em uma piscina... — fiz uma pequena pausa e olhei para ele, que apertou de leve minha mão. — então ele simplesmente pulou e me salvou. Não estaria aqui se não fosse por ele. — falei com a voz embargada, nunca o agradeci como deveria, talvez hoje, revelando para sua família que seu ato de coragem havia salvado minha vida, fosse a melhor forma de agradecê-lo.

— Então meu filho te salvou? — perguntou seu pai com uma voz orgulhosa.

— Sim, Sr. Castelli! Nate é meu herói. — disse e vi os olhos de Nathan brilharem, como estrelas na imensidão da noite.

A noite foi leve, a família Castelli era maravilhosa, o pai de Nathan um pouco mais reservado, mas muito educado e parece ter gostado de mim, o que me deixava feliz. Tomávamos um café depois do jantar, quando ouvimos um trovão que fez até as janelas da casa rangerem. O mês de março era assim, em um minuto um céu estrelado e em outro nuvens carregadas de chuva.

— Parece que vai chover. — comentou Verônica indo até uma das janelas enormes da sala.

— Deveria dormir aqui hoje. — sugeriu ela. Era uma péssima ideia. Provavelmente eu ficaria no quarto de Nathan e isso já seria demais para mim. — Não é bom sair em meio a uma tempestade. — finalizou.

— Acho uma ótima ideia, mãe! — concordou Nathan. Eu o encarei, desejando cortar sua garganta. Ele percebeu a fúria em meus olhos e sorriu provocativamente.

— Posso ligar para seus pais se quiser, meu amor. — sugeriu, colocando a mão sobre minha perna. Neguei gentilmente, tentando manter a personagem.

— Posso pegar um táxi para casa! — sugeri.

— De maneira alguma! — contestou o patriarca da família de forma suave. — Podemos arrumar o quarto de hóspedes.

— Não precisa, pai. — negou Nathan, agora segurando minha mão. — Ela dorme comigo! — se não tivesse testemunhas, eu o teria esganado.

Fiz uma breve ligação para meus pais, que também achavam melhor eu não sair no meio da chuva, que começou a dançar fortemente sobre o telhado, como dançarinos de flamenco pisando forte sobre o assoalho de madeira.

Subimos para o segundo andar, onde ficava o quarto de Nathan. Parecia um castelo, cada degrau até o andar de cima, me deixava ansiosa pelo que veria a seguir, os corrimãos feitos de algum tipo de madeira, sua tinta branca com rupturas, uma marca concedida pelo tempo, mas nada acabava com o encantamento da casa que apesar de grandiosa, conseguia sentir o acolhimento de um lar. Com tantos cômodos e espaços vagos pensei que seria fria e silenciosa, mas não, a casa transmitia calor e aconchego, como a risada de uma criança feliz.

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