Capítulo 1: O Despertar

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  Sei que ninguém acreditaria em mim se eu contasse, me chamariam de louco, então estou aqui escrevendo tudo o que me aconteceu, quem sabe essa anotações sejam úteis para alguém que as encontrar, ou sirva apenas para o entretenimento dos mais céticos. Em uma noite nada peculiar, cheguei em casa muito cansado de um dia de trabalho. Tomei um banho, pensei em comer algo, mas desisti, porque me sentia muito esgotado, então fui direto para a cama. Despertei com uma forte dor de cabeça, como nunca havia sentido, parecia que a minha cabeça explodiria, gritei um pouco por causa dessa dor, até que ela foi diminuindo. Me sentei e percebi que não estava na minha cama, olhei ao redor e me assustei, eu estava no meio de uma  densa floresta. Não acordei com as mesmas roupas que eu havia vestido quando fui dormir, estava vestido com peças que não eram minhas, uma calça preta que estava um pouco larga, tênis pretos e uma camisa simples branca. Pensei que estava em um sonho, mas para minha infelicidade não era, me desesperei naquele momento, muitas dúvidas vieram a minha mente, precisei de um tempo para me acalmar, eu não iria conseguir descobrir o que estava acontecendo deixando o desespero me dominar.

  Comecei a me afastar do ponto onde despertei, e mesmo com muitas perguntas, eu tentava me manter calmo e observar o local com muita cautela. Encontrei algo semelhante a uma pistola na cor preta, nunca tinha visto esse tipo de arma na minha vida, mais tarde descobri que era uma arma de plasma com carregamento a luz solar. Achar esta arma só me fez ficar ainda mais preocupado, porque me lembrei de filmes em que pessoas são jogadas em ilhas para se matarem até restar apenas uma, tentei ignorar essa especulação, e me focar em continuar tentando descobrir o que estava acontecendo. Adentrei um pouco a mata, tomando cuidado para perder de vista o caminho que me levaria de volta ao local onde acordei, não encontrei mais nada de peculiar, só árvores, samambaias, palmeiras e tudo mais que há nessas matas. Quando começou a anoitecer, consegui, com muita dificuldade, fazer uma fogueira. Eu já possuía um conhecimento básico sobre sobrevivência na natureza, porque era algo que me interessava, mas isso não quer dizer que eu havia passado pela experiência de sobreviver em uma mata tão densa como aquela, nunca havia passado por algo parecido, no início encontrei muitas dificuldades.

  Sentei perto da primeira fogueira que fiz na minha vida, me sentindo orgulhoso por pelo menos ter conseguido fazê-la. Com o passar do tempo comecei a sentir fome, pensei em caçar algum animal, porém já era noite, a mata estava muito escura, eu não conseguiria encontrar nada, então desistir. Me deitei e fechei os olhos tentando dormir, mas não consegui, estava com medo, muito preocupado e cheio de dúvidas, tentava não pensar nas piores hipóteses possíveis, mas foi completamente em vão, é nessas horas que sempre tendemos a pensar no pior. Me levantei e resolvi subir em uma árvore para olhar a área em minha volta, ver se encontraria algo ao longe, mas estava tão escuro que desisti e voltei para perto da fogueira. Assim que me sentei, ouvi um uivo que me fez estremecer. Não era um uivo normal, era muito alto e de uma maneira estranha demais para um animal. Logo escutei mais outro e em seguida vários vindo da mesma direção, isso me fez sentir muito medo, um medo como nunca havia sentido, eu parecia uma criança assustada com o escuro. Levantei rapidamente e olhei em volta, mas como estava muito escuro, me perturbei ainda mais, pois parecia que, pela altura do som horripilante dos uivos, esses animais estavam bem perto do local aonde eu estava.

  Passei toda aquela noite aterrorizado, qualquer som me assustava, a fome e o cansaço me castigavam. Uma semana se passou e eu já conseguia me virar um pouco, caçava alguns animais, mas em alguns dias não conseguia achar nada para comer, isso me fez acostumar com a fome, em um dia comia, em outro não, e assim eu vivia. Vagava sem rumo na mata, pensando em maneiras de sair dela, encontrar pessoas, qualquer sinal de civilização, mas não encontrei nada. Com o passar dos dias, percebi que não havia estrelas no céu, isso me incomodou muito, mas com o tanto de coisas que aconteceram depois, o céu não ter estrelas era um de menos. Em certo dia, enquanto caçava para comer, escutei alguém  chorando, fui me aproximando para perto do local de onde vinha esse choro, e lá encontrei um garoto, ele estava muito assustado, se levantou e quase saiu correndo quando me aproximei, mas antes que ele corresse, falei:

— Ei, ei, não corra! Não vou te fazer mal — falei enquanto me abaixava para ficar da mesma altura dele, o garoto ficou me olhando ainda assustado e chorando — Está tudo bem! Qual é o seu nome, garoto? Como chegou aqui? — perguntei, ele ainda soluçava muito, estava visivelmente muito assustado, com um olhar muito triste e desesperado.

  Continuei tentando fazer ele se acalmar, até que ele conseguiu ficar um pouco mais calmo. Então ele falou:

— Eu… eu… eu quero minha mãe! Por favor, me leva para minha mãe, por favor, por favor!

    O garoto começou a chorar novamente. Nessa hora veio um aperto tão grande no meu coração, que fiquei tentando imaginar o que esse menino deve ter passado naquele lugar, sozinho. Me aproximei mais um pouco do garoto.

— Calma, eu vou te ajudar a encontrar sua mãe, está bem? — falei calmamente para ele.
— M… mesmo? — perguntou gaguejando um pouco.
— Claro que sim! Vamos encontrá-la — respondi dando um sorriso
— Obrigado mo… moço! — respondeu ele.

   Ele parou de chorar e parecia bem mais calmo, pensei em fazer perguntas a ele, para saber como ele veio parar naquele lugar, mas isso o deixaria desconfortável, ele tinha acabado de se acalmar e havia parado de chorar, até o olhar dele já não estava tão assustado. Então evitei esses tipos de perguntas naquele momento.

— Você está com fome? — perguntei preocupado.
—Sim, muito! — respondeu o garoto.

   Quase não ouvi o responder, porque ele estava muito fraco. Quem poderia ter feito isso com ele? Largar um adulto no meio de uma mata já é crueldade, como conseguiram fazer isso com uma criança. Nesse dia consegui caçar algo para comer, era um pequeno animal, fiz uma fogueira para assá-lo, e dei para o garoto para comer. Por estar com muita fome, ele comeu muito rápido. Depois nos alimentarmos, preparei um lugar para ele dormir, e não demorou para que logo pegasse no sono, porque estava visivelmente muito cansado. Fiquei me perguntando a quantos dias ele estava nesta mata, era impossível acreditar que foi no mesmo momento que eu despertei, porque já havia se passado mais de duas semana, o garoto embora cansado e com fome, mas não aguentaria ficar tanto tempo nessas condições. Ele dormiu por bastante tempo, o calor da fogueira deve ter contribuído muito para isso. Fiquei todo o tempo acordado, não conseguia dormir, não conseguia esquecer aqueles uivos horripilantes, aquilo não era nem um pouco normal. Quando o menino acordou, dei comida a ele e fiz algumas perguntas bobas.

— Dormiu bem garoto?
— Sim, mas não gosto de dormir aqui — respondeu.
— Eu também não, mas isso não vai durar muito, logo vamos estar em camas bem confortáveis — falei tentando animá-lo. — Qual seu nome garoto?
— Peterson! E o seu? — perguntou ele
— Seu nome é bonito, Peterson! O meu é Cornélio! — respondi.

  Saímos do lugar onde estávamos e seguimos mata adentro. O menino sempre perguntava se iria demorar para encontrarmos a mãe dele. Assim, tentei obter algumas informações com ele, sobre como ele apareceu aqui.

— Tem muito tempo que você despertou aqui garoto?
— Não muito! — respondeu.
— Não?! Quantos vezes você viu o sol se pôr  enquanto estava nessa mata? — perguntei, surpreso com o que ele disse.
— É… eu acho que dois! — respondeu um pouco confuso.

  Fiquei pensando bastante sobre o que ele havia dito. Muitas dúvidas surgiram em minha mente. Será que estão mandando mais pessoas? Outras pessoas foram trazidas antes de mim? Perguntas como essas não paravam de brotar em minha mente, mas não havia respostas para elas. Eu me sentia em algum jogo doentio, idealizado por uma mente perturbada.

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