Capítulo sete - O despertar

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Passei a noite em claro, o coração apertado, ver aquele bebê chorando, sentindo a falta da mãe, fez eu me sentir um monstro. Até onde eu estava disposta a ir pela minha vingança? Fiquei pendurada no telefone, esperando a notícia da prisão de Eric, para que eu pudesse devolver aquela criança. Kalina, de vez em quando, cochilava sentada na poltrona verde musgo perto da prateleira de livros, também estava exausta. Mal trocou uma palavra comigo, agora deve estar me odiando mais ainda. Percebo que ela está esperando isso tudo acabar para que me coloque na cadeia. Eu não irei resistir, mesmo tendo convicção de que não fiz nada de errado. Eu voltei de Minas Gerais certa de que colocaria um ponto final em tudo, mas parece que não vou ter essa chance.

A criança chorou de novo, fazendo Kalina despertar um tanto desnorteada e descabelada. Ela olhou para mim com desprezo e foi para a cozinha preparar um café, o sol começava a surgir. Nenhum sinal de Eric ou Débora.

Kalina volta da cozinha com duas xícaras saindo fumaça e coloca uma na mesa de centro na minha frente.

― Espero que isso acabe logo e que dê em algo. Porque eu não quero ser presa por sequestrar essa criança ― deu um gole no café. ― E arruma um jeito de fazê-lo parar de gritar.

Dei um longo gole, peguei o bebê, o levei até a janela e o balancei enquanto cantarolava qualquer coisa. O telefone tocou, passei a criança para ela e corri para atender.

― Eu não posso fazer isso, minha família precisa de mim ― Eric desembuchou.

― A última coisa que eles precisam é de um psicopata de aluguel como você ― disse entre os dentes.

― Você matou a única pessoa que tinha os nomes dos nossos clientes, eu só fazia o trabalho pesado. Eu não posso fazer nada com que eu sei.

Meu corpo estremeceu de raiva, apertei a xícara com tanta força que estourou na minha mão.

― Só me ligue de novo se estiver pronto para se entregar. Você conviveu com todas as vítimas, quero nomes, endereços, se vira. Quero tudo o que você sabe e, depois, quero ver sua cara estampada em todos os jornais, seu filho da puta. Então, eu devolvo o filho da Débora ― dei o ultimato e desliguei.

Kalina ia dizer algo, mas levantei a mão a repreendendo, sinalizando para que não começasse o sermão, eu seria capaz de devolvê-la o tapa que havia me dado no passado. Fui para o banheiro fazer um curativo no corte.

Passado algumas horas, recebi outra ligação, mas agora era Débora.

― Ele não quer me contar sobre o que fez com você, mas eu o conheço, sei que ele está mentindo.

― Pode ter certeza que você não o conhece, do contrário, você não estaria com ele.

― Eu estou com medo de ficar aqui, ele está nervoso e falando comigo com tom de ameaça, mas tenho que recuperar meu Bryan ― ouvi quando ela começou a chorar.

― Nós podemos te trazer para cá, assim, você fica segura e com seu bebê ― sugeri.

Ela aceitou, sem pestanejar.

― Você está louca? Quer mais uma vítima na nossa ficha? Pra você não vai fazer diferença, já que tem tantas que nem seria capaz de contar.

― Na verdade, sei exatamente quantos foram. Mortos ou que me pagaram por sexo. Tenho uma espécie de livro da vingança ― impliquei.

― Que porra é essa? Você faz algum tipo de coleção?

― Digamos que sim ― sorri, em tom de brincadeira.

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