Capítulo quatro - Sangue aos milhões

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John e eu passamos toda a madrugada entre risos e doses de uísque caro. Ele me contou que veio da Croácia para o Brasil a trabalho com esposa e filha, há três anos. Se divorciou da esposa e está esperando ela resolver as coisas para voltar ao país de origem. A filha, Kalina, ficará até concluir a faculdade de direito. Me perguntou meu nome de verdade, sem pensar, falei.

― Infelizmente preciso ir, mas a noite foi muito agradável ­― apertou minha mão e me passou um papel.

Depois que ele se foi, olhei, uma nota de quinhentos euros. Fiquei olhando sem acreditar. Fui verificar na internet quanto valia, dois mil quinhentos e setenta e cinco reais.

Subi para o quarto e descobri por Vera que o dividiria com outra menina, Marcela. Uma moça de cabelos pretos e longos que cada movimento que fazia, parecia estar de saco cheio com a vida. Arrumava suas coisas bufando e revirando os olhos, uma típica patricinha mimada.

― Vou ficar com a cama da janela ― decidiu sem sequer me olhar. ― Espero que você não seja porca e barulhenta ― concluiu.

Soltei uma gargalhada, peguei sua mala, olhando dentro de seus olhos e joguei na outra cama.

― Eu acho bom você não se meter comigo, porque eu vou dormir bem aqui do seu ladinho ― ameacei.

Sem dizer mais nada, pegou sua toalha e foi para o banheiro. Exausta, deitei e dormi.

Na noite seguinte, Felipe me avisou que todas as meninas tinham que fazer pelo menos um show durante a semana. Fui para o camarim e escolhi minha fantasia, um macacão de couro com um zíper na frente e uma bota de cano alto.

Durante o show, três nova iorquinos pararam em frente ao palco e jogaram dezenas de notas de dólar para mim. Com eles, tinha uma moça com roupas masculinas e boné sentada à mesa assistindo. A chamei com um aceno, deite-a no palco e dancei em cima dela. Os amigos gritavam e jogavam mais e mais dinheiro, ao todo foram trezentos e dezessete dólares. A gringa quis subir comigo para o quarto, fomos.

Quando voltei, John estava lá na companhia de uma das meninas. Sorri para ele e sentei em outro lugar. Ele a dispensou e me chamou. Depois de uma curta conversa, decidiu subir comigo. No quarto, ele não quis fazer nada, comentou que estava na andropausa e não conseguia fazer sexo. Só queria tomar uísque, cheirar cocaína e conversar. Pagou por seis horas. Acabamos dormindo duas horas depois. Quando o tempo acabou e nos chamaram, ele perguntou se eu tinha uma casa, respondi que não, ele sorriu, se despediu e foi embora.

Quando fui para meu quarto, Marcela estava na minha cama, mexendo no celular. Todas as minhas coisas estavam jogadas no chão. Aquela cena me deixou com um ódio incontrolável. A agarrei pelos cabelos e a arrastei pelas escadas, até estarmos na rua. Não queria correr o risco de ser expulsa. A deitei na calçada e a golpeei com dezenas de socos no rosto, ela gritava, mas eu não parava, mesmo depois que ela desmaiou, continuei batendo. Fui erguida pela cintura por um guarda de trânsito que me deu voz de prisão. Uma viatura veio me buscar e fui algemada para a delegacia. Contei o ocorrido para o delegado, prometi que não ia acontecer de novo, mesmo assim passei a noite em uma cela. Fui liberada quando o dono da boate, Seu Armando, foi me buscar. Todos os donos de boate têm contatos sólidos nas delegacias. Quando cheguei, Marcela e suas coisas não estavam mais lá. Seu Armando, por algum motivo, me tratou bem e sorriu ao me deixar na porta do quarto. Mais tarde, Arlete me contou que John era o cliente mais rico e importante da boate e que antes de mim, nunca havia saído com nenhuma garota de lá. Então, eu virei uma espécie de protegida milionária pelo dono.

John me ligou e perguntou se eu poderia encontra-lo no shopping, aceitei. Lá, me levou em uma loja chique e pediu que eu escolhesse um vestido para jantar com ele no Copacabana Palace. Escolhi um vestido vinho e longo, com uma grande fenda na perna. À noite, fomos ao nosso jantar. Ele foi um perfeito cavalheiro. Ao sairmos, deu uma nota de cem reais ao garçom.

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