Capítulo três - Nem sempre eu venço

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Ei. Olha pra mim. Tá me ouvindo?

Estou presa no meu antigo quarto. Ouço minha voz na sala, estou discutindo com Eric. Olho para meu corpo sujo em cima da cama. Como eu poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo? A porta abre. Vejo minha própria imagem em pé, sorrindo para mim. Ela se aproxima. Não consigo me mexer. Ela vira de costas, abre os braços e se joga, seu corpo atravessa o meu. Ela faz parte de mim agora.

― Giselle ― a voz de Kevin explode em meus ouvidos. ― A polícia voltou, você precisa se controlar ― cochichou, segurando meus ombros.

Os policiais e repórteres discutiam no meio da rua. Um disparo ecoou no céu. Um dos militares apontava a arma para cima.

― Acabou o circo, porra. Quero todo mundo caçando teu rumo ― gritou.

Aos poucos a rua foi ficando vazia. Vi um policial falar no ouvido de Kevin, ele mandou todo mundo voltar para a boate.

― Ninguém pode ir embora, quero geral lá em cima ― fez um gesto com o dedo para circularem.

Estava há poucos minutos sentada no salão, Maitê não desgrudava de mim, estava aflita, roía as unhas sem parar.

― É o seguinte ― um policial quebrou o silêncio. ― Tem fortes indícios de que o caso de Ipanema tenha ligação com o da Central. Se souberem de alguma coisa, essa é a hora de desembuchar.

Uma menina levantou a mão. Maitê, Hugo, Kevin e eu nos olhamos. Eu não podia deixarem fazer ligação entre os dois casos, minha amiga responderia por assassinato. Eu tinha que me entregar. Como se lesse meus pensamentos, Hugo balançou a cabeça negativamente.

― O que aconteceu na Central? ― ela perguntou.

Ufa. Se os policiais estivessem me olhando agora, perceberiam um enorme peso sair dos meus ombros.

― Parece que uma mulher assassinou um cara em um motel ― Maitê soltou.

Olhei para ela incrédula. Queria manda-la calar a boca, mas não podia.

― Uma mulher? ― o policial deu um passo mais perto. ― Nunca dissemos o gênero do suspeito ― deu mais um passo, com os olhos semicerrados e inclinou a cabeça para o lado, curioso.

― Foi o que ouvi um repórter dizer ― respondeu rápido.

Ele a encarou por um momento e virou as costas.

― Já que ninguém me diz nada. Podem trazer ele ― ordenou.

Quando Ricardo atravessou a porta, Maitê soltou um gemido alto de susto. Apertei seu braço. Quando nos olharam, fingi que havia pisado em seu pé, dei um sorrisinho de desculpa.

― Eu não vou deixar nada acontecer com você, prometo ― cochichei entre os dentes.

O desgraçado, viciado em cocaína, passava os olhos em todos. Discretamente, puxei minha amiga e a coloquei atrás de mim. Seus olhos encontraram o meu. O encarava com promessa de morte estampado no rosto. Eu sairia dali presa, mas todo o sangue dele iria junto comigo.

O policial acompanhou os olhos dele até os meus, não consegui parar de encara-lo.

― Você o conhece? ― me perguntou.

― Não ― respondi. Meus olhos continuavam fixos em Ricardo. ― Mas é engraçado. Um cara rico é encontrado desacordado em um luxuoso hotel. A princípio, vocês pensam na possibilidade de uma overdose, o que indica que ele estava visivelmente drogado e em posse de alguma droga. Então, ele diz que foram duas prostitutas e todos acreditaram nele. E você quer que qualquer um de nós engula essa história de que duas garotas tentaram matar um filho da puta viciado a troco de nada? ― lentamente, olhei de Ricardo para o policial, esperando resposta.

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