ZAHIR

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Seis anos depois, o príncipe órfão de mãe havia se tornado uma criança com extrema inteligência e talento para as artes. Sua facilidade em aprender era notável, o que deixava o imperador despreocupado quanto ao seu herdeiro. Mas ainda como a criança que era, durante as tardes livres em que não acompanhava seu pai em reuniões políticas, era possível vê-lo brincando por todo o palácio.

O pequeno Hua Cheng sempre esteve sobre vários olhares ansiosos desde seu nascimento, ainda que ele mesmo não entendesse o que esperavam de si. Vez ou outra era possível ouvir murmúrios ao seu redor, matar algo e ser adorado por isso no futuro não parecia algo que pudesse fazer. Mas era o certo a se fazer?

Nesta tarde de verão, o sol exuberante estava se pondo no oeste. Os raios alaranjados lançavam sombras entre os pilares de mármore e, pelo corredor aberto e silencioso, a leve brisa balançava os cabelos compridos de Hua Cheng. Caminhando de mãos dadas com a criança, o imperador deixava sua alta posição de lado, sendo agora apenas o pai do pequeno Hua, sendo isso mais importante do que qualquer outra coisa.

– Papai, o que vamos fazer hoje? – Os olhos pequenos e escuros brilhavam, entretanto, ele usava uma de suas mãos para tirar os fios insistentes de cabelo do rosto por causa do vento, não querendo largar a outra mão da do pai de forma alguma.

Vendo a luta do filho, o maior gentilmente se ajoelhou, retirando uma longa fita vermelha de seu punho e prendendo o cabelo rebelde que já passava da altura dos ombros.

– Tenho uma história nova para contar a você, ela é muito importante então você deve prestar muita atenção. Entende?

– Hm, eu entendo.

– Muito bem – acariciou a cabeça da criança – Venha.

Mais a frente, o grande corredor que ligava duas partes do palácio como uma ponte, terminava com uma enorme sala ao fundo, as portas douradas com flores entalhadas e pedras preciosas incrustadas se abriu pesadamente com o empurrar do homem. Dentro, várias estantes de madeira branca estavam completamente lotadas de livros, pergaminhos e baús, como um jardim de informações em uma montanha alta. Os tons variam de vermelho marsala, dourado e marrom terra.

O pequeno Hua Cheng admirou o grande salão que se estendia em sua frente, era a primeira vez que seu pai o levava ali, normalmente, ele apenas recebia livros escolhidos por seu professor de vez em quando, era tudo encantador. Em um dos cantos, havia uma espécie de altar com flores em vasos decorados e incenso queimando no ar, uma pintura de paisagem estava pendurada pelo gancho e os detalhes eram realmente bonitos e bem trabalhados.

O livro com a capa dura possuía uma flor prateada ilustrada levemente sobre o branco, quase imperceptível, se não fosse pelo brilho. O pai estava posicionado sobre o pedestal baixo que ficava em uma altura adequada para o filho, este que se ajoelhou sobre uma das almofadas ao seu lado e esperou que iniciasse o que quer que fosse contar.

– Há muito tempo um poderoso deus da guerra se cortou ao pegar uma flor no campo de batalha, uma gota de seu sangue sagrado escorreu pelas pétalas, e a vitalidade dourada fez com que ela crescesse e se tornasse um bebê humano. – Contou, com o livro aberto na primeira página, onde havia uma pintura em aquarela preta e vermelha que mostrava um pequeno bebê com raízes douradas, serpenteando por seus braços pequenos e rechonchudos – Sendo o deus um senhor da guerra, ele criou aquela pequena criança como um filho legítimo de seu sangue e o transformou em um grande general.

Passando as páginas, muitas outras gravuras eram mostradas e o pequeno Hua se encantava com os detalhes bem ilustrados, sua imaginação não conseguiria os mesmos resultados sozinha.

– O general meio deus possuía imenso poder e inteligência, a humanidade também brilhava em seu coração. Deuses e humanos são distintos como vinho e água, no entanto, o general foi como uma ponte entre os dois. Ainda que fosse pacífico, uma provação caiu sobre ele – passou outra página – Um enorme dragão surgiu nas montanhas, trazendo tempestades furiosas e amedrontando o povo comum. Enviando suas preces ao grande general, imploraram que ele se livrasse do monstro e impedisse a calamidade sobre a terra. Então, o general bravamente subiu as montanhas empunhando apenas uma cimitarra negra, após trinta luas, ele retornou com uma pedra preciosa do tamanho de seu punho, transparente como a água e brilhante como um arco-íris após a chuva. Aquele era o coração do dragão branco.

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