Capítulo 02: A Perda.

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Em pleno único e sincronizado som das máquinas presentes ao redor da sala em aspecto cirúrgico, se dita de fundo, a vinda de uma voz em tom fraco, o hesitante soltar do horário das 02:47 da manhã, que viera em conjunto dos desfibriladores sendo desligados, e o som metálico dos instrumentos enquanto guardados.

Dentre as trovoadas do lado externo, saem da sala em passos fracos, enquanto que em seus olhos vazios, cada indivíduo se dirige sem deixar queixas dos sons de seus lábios, algum ato feito para despistar as lágrimas. A decepção agoniante os segue, e em cada passo, vinha os seguir com o silêncio ardo..frio e escuro. -"Plaf" e "plaft".. - Era o que se ouvia dos mais agoniados, que jogam frustrados, consigo mesmos, suas luvas ao começo do andar até onde se direcionam em silêncio.

Não havia palavras por ali, não era necessário explicações ou alguma revisão sobre o ocorrido. Já deixava se passar a vista do quanto forçaram-se ainda a andar..até porquê.. - ele se foi.

[...]

A chuva vinha-se fortemente na companhia de uma neblina densa, visando as nuvens pesadas e escuras no céu escurecido. E dentre envelopes de pesquisas inacabadas -Que agora se vinham como perdidas - se fazia exposta a vista pelo chão, a cor vibrante de brinquedos recreativos, os famosos blocos de ABC, gizes de cera quebradiços, e carrinhos com suas rodinhas desmontadas pelos cantos sem conserto. Lápis de cores e canetinhas também podiam ser percebidos por ali, sendo visados melhor como rabiscos por todos os lados, pela cerâmica branca as paredes em tons nude.

Este cenário com certeza passava uma dor de cabeça para aquele escolhido para a reposição de tais objetos em seus devidos lugares, não? Pergunto me o que ainda fazem ali..- Continuam ali, com o único propósito de me trazer ainda aquelas lembranças boas..que não pude aproveitar da forma certa.- Um hipócrita, vêm falando suas desculpas oportunas perante seu estado, de uma forma tão profunda que a mim não trazia nada menos que desprezo. Ganhará nada a menos que o fim de tudo o que lhe restava. As íris claras que um dia brilharam por se encontrar as suas, agora se veem vazias, por debaixo de um pano fino, sem a necessidade de um dia voltar a brilhar...a capacidade na verdade, nem disto tem mais.

O cinza representa não apenas o tom gélido deste cômodo sério, desorganizado, mas também a cor vazia que se transparece por seus olhos, a sua alma. Tudo o que tinha, tudo o que um dia existia, dela, fora perdido.

Por minha causa.. - Realmente acreditou na possibilidade de trazê-la de volta? Não pensará com lucidez antes de colocar a vida de quem carregava seu próprio sangue, se deitar em uma maca e experimentar o arque da morte..? Acha que não o fez sentir dor? acha que não o fez sofrer?Acha que.. ele não gritava por ti?

Pois sabes que eles ouviram, voltavam entre sussurros a quebrar seu silêncio, dizendo entre si.. - "ele ainda o chamava de "pai".

[...]

De um modo forte, repercutiu -se o ecoar os raios da tempestade, que nem aos olhos se esgueiravam das pessoas ao interior do vasto local. Como se de alguma forma, está se posse a se formar propositalmente para agredir a si.

As nuvens carregadas, que vêm se formando por vossa sala, a neblina que cobre o chão, assim como os brinquedos ainda intactos... dá-se medo de olhar para o céu. O carregar dos raios estrondosos, aparentando cada vez mais próximos de seus pensamentos, que se formam como as gotas da chuva, que caem sem parar..como lágrimas.

Lágrimas.- Lágrimas que traziam para si apenas duas coisas, a culpa, e tristeza. Juntas, vinham agarradas a uma única corda. - A culpa.- amarrou a corda. - É a tristeza?- Me fez ser sufocado por ela.

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