Capítulo 04: O cheiro.

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Escuro. Me sinto mais pesado, fraco, não tenho como me mover, como se estivesse mole, meus membros já não correspondem aos meus comandos. Talvez seja a fome, talvez esteja morto, até poderia, mas...me sinto estranhamente seguro. Algo me leva entre solavancos, deixo meu corpo indo balançar. Tento abrir os olhos, mas o lacrimejo que desce deles pela poeira, se mistura nas feridas ralas de meu rosto e brecha dos olhos, me obrigando a fechá-los novamente, estou fraco.

Minha mente está em branco, me sinto dormente, não consigo ao menos pensar na situação ou o que ocorre ao meu redor com clareza, esta tudo uma desordem, quero me levantar desta posição presa, me soltar desses braços que me seguram firme e poder formular algo que coaja com a volta de uma resposta compreensível, mas apenas me agonio tentando entender.. tentando entender, entender tudo o que ouve, tudo o que está acontecendo, ainda não consegui guardar em minha mente o que me fez chegar até aqui.. - Como ele sabia chegar até aqui?

Depois de finalmente ter consumido algo comestível, meu estômago começou a fazer cetose, isto é, pedir por mais. Estou em estado de desnutrição, meu corpo sofre e ataca minha mente pois sabe que é onde dói mais..

E de tantos anos que isto já vinha aos poucos abalar meu físico, finalmente meu limite veio, e na hora mais pretensiosa que vi. Acho que desmaiei. Não tenho como ter noção do quanto de tempo que durei assim, só sei que de tudo o que via da imagem grotesca que me atacou o psicológico, daquela que em minha mente se fixará com aqueles fios em nós, com o aspecto de palha grosso, bagunçado como um ninho em sua cabeça junto a pele ressecada, suja, parecendo já estar até mesmo mofada, vindo até mim com aqueles.. olhos! olhos cuja cor era imprescritível dar descrição, uma silhueta escura circulava suas orbes, parecia uma aberração. Aberração. Aberração esta que viera a desaparecer de minha mente no ápice de sua fala. E que me trouxe para o local onde me intrigo em questionar como conseguiu chegar..

Até aqui, por instantes, ouvi gritos, tiros, zoadas de barulhos para todos os lados, me fechei, me reprimi o quanto pude, sabia, pensava, acreditava em minha morte. Era este o coveiro, ele me leva para o meu abismo, e iria jogar-me na cova atirando terra por cima. Via esta cena como uma metáfora dele me esfolando, talvez ameaçando, não tinha como isto ser real, muito menos chegar a dar algo benéfico para mim. Mais de tudo o que ouvi, tudo o que senti chegar a se esgueirar, grunhir, tudo.. se cessou. Se calou. Por um momento foi como se o mundo tivesse se calado, de uma hora para outra, chego a sentir novamente aquele odor cuja já me familiarizo rotineiramente..

Eu o ouvi passar por minha fachada, passar por minhas armadilhas, chegar ao bloco o qual me fixei, abrir a porta de meu apartamento. Seja vivo ou morto, demônio ou assombração, este ser sabe quem eu sou, e com certeza viu a oportunidade de se aproveitar disto. E não é como se eu estivesse na melhor hora para tentar não contrariar suas condições.

Pelos seus braços, que me carregam por cima dos ombros, logo sou deixado ao chão, despejado. Do trinco da maçaneta, ouço-o a fechar, não tenho forças para me mover, falar, minha respiração está fraca, e como se meus pulmões, peito, estivessem entrando em um pane, sentia que meu corpo iria me abandonar mais uma vez. Isto enquanto meus olhos me enganam, tudo o que vejo e este embaço, transitando pelo cômodo, tudo está tão esfumado.. nem sei distinguir se e ele com certeza.

Quero acreditar que ao menos viria acabar logo com este meu sofrimento, "bote um ponto final nisto, atire em minha cabeça, meu peito, o que for mais rápido." Era o que eu queria dizer mas meus comandos sobre mim mesmo não funcionam, minha mente insiste em ir contra. Quero correr desta silhueta assombrosa, a voz rouca me faz suar frio, tanto quanto sua imagem se espreitando novamente para perto de mim.

Sinto meu estômago doer impiedosamente, os borbulhos dentre o interior de minha carne me deixam louco. A loucura aparenta ser o que me condena antes da morte, de uma hora para outra estou em casa, isto, isto é uma visagem, não a como ser real. A imagem à minha frente não tem como estar viva, consciente, não há como algo neste cenário ser plausível a realidade, eu deveria morrer! - Eu deveria já ter morrido, eu deveria estar morto! não era para eu continuar vivo..isso, isso não faz sentido!

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⏰ Última atualização: Dec 01, 2023 ⏰

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