Capítulo seis: O jantar

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Após o banho, vesti um roupão que estava num móvel do banheiro. Segui para o quarto, e fechei todas as janelas, e ao me deitar na cama, adormeci. Eu estava cansada tanto fisicamente, quanto emocionalmente.

Acordei já era noite. Olhei por uma das janelas do quarto e vi várias luzes acesas por todo o condomínio. Vesti um shorts jeans curto e rasgado acompanhado por um blusão de cobria quase todo o shorts. Fiz um coque em meu cabelo e desci, estava com fome.

Aparentemente, meu marido não estava em casa, a casa estava vazia e silenciosa, o que me deixou aliviada. Preferia ficar sozinha. Comecei a andar pela casa na tentativa de achar a cozinha. Segui pelo lado direito da escada andando pelo corredor. Logo percebi que não era  por ali que ficava a cozinha. O corredor dava acesso a algumas sala, que em sua maioria estava com as portas fechadas. Apenas uma, já no meio do corredor, estava aberta. A curiosidade foi aumentando conforme ouvi alguns ruídos vindo de lá. Me aproximei lentamente e cuidadosamente, para não ser percebida, mas ao parar ao lado da porta e observar discretamente, vejo uma cena pra lá de inusitada. Meu marido estava malhando, vestindo apenas uma bermuda.

Pisquei os olhos várias vezes pra me certificar que não estava vendo demais, mas sim, era ele ali bem a minha frente.

Conrado estava em sua academia particular que por sinal era muito bem equipada, com fones nos ouvidos e fazendo esteira, de frente para o espelho que ia de canto a canto na parede, vi o quanto meu marido era musculoso e atraente. Seus braços eram bem definidos, seu peitoral e barriga, exibia muitas curvas, curvas essas que as gotas de suor que por ali passeava, chegou a me dar inveja. Suas coxas e pernas eram de tirar o fôlego, Conrado era um homem muito bonito e atraente. Antes que ele pudesse perceber minha presença lhe admirando ali, saí. Voltei pelo caminho que fiz, e ao chegar na sala, de frente para a escada que havia sido meu ponto de partida, segui na direção contrária de  antes, e dessa vez consegui encontrar a cozinha.

A cozinha da casa era como eu imaginei. Grande, moderna e sofisticada. Segui em direção a geladeira e armário e encontrei alguns ingredientes para fazer um espaguete a bolonhesa.

Enquanto cozinhava, me perdi em pensamentos. Eu amava cozinhar nas horas vagas, me sentia conectada comigo mesma nesses momentos. Cozinhando eu conseguia aliviar meus medos, estresses, angústias e dores. Era como uma terapia. Eu não cozinhava nada sofisticado, eu e minha avó tinhamos uma vida tranquila e sem muitos luxos enquanto morei com ela. Mas sabia me virar. Remexendo em algumas coisas na geladeira, encontrei uma garrafa aberta de vinho, e pensei, por quê não? Abri a garrafa e peguei uma taça no armário, me servindo de um pouco de vinho. E assim, o clima na cozinha ficou leve e despreocupado, cozinhando e tomando vinho, nem vi a hora passar, muito menos, pude perceber que meu marido estava a me olhar.

Tomei um susto ao ver Conrado parado a porta da cozinha. Ele já não estava sem camisa, usava uma blusa regata que ainda deixava seus braços a mostra. Ao menos o peitoral estava coberto, pensei.

- Desculpe, não quis te assustar. - disse ele andando alguns passos em minha direção.
- Tudo bem. Eu só, não esperava te ver aqui. - ele me olhou erguendo uma sobrancelha. - Bom, eu sei que a casa é sua, é que, não costumo ver homens frequentando a cozinha, - falei tentando me justificar. Ele continuou me olhando. - Na verdade, nunca vi meu pai frequentando a cozinha, não que eu tenha, contatos com outros... - parei de explicar, estava ficando constrangedor já.
- Está cozinhando? - perguntou ele indo em direção a geladeira. Agradeci aos céus por ele ter mudado de assunto.
- Sim, é espaguete a bolonhesa. Espero que não se incomode.
- Essa casa também é sua Isabella. - disse ele colocando água em seu copo.

Enquanto ele tomava todo o líquido que estava no copo, me senti culpada. Conrado estava confiando sua casa a mim, ele estava abrindo as portas de sua casa, de sua vida para uma estranha e usurpadora. Não era eu quem deveria estar ali. Aquilo não estava certo.

- Tem o suficiente para dois? - perguntou ele. Voltando meus pensamentos para ele, balancei a cabeça tentando expulsar esses pensamentos.
- Sim, claro.
- Ótimo, vou tomar um banho e já volto. - disse ele. E antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele saiu me deixando sozinha novamente.

Arrumei a mesa na sala de jantar para dois. Tentei deixar tudo o mais prático possível, afinal, era apenas um jantar a dois, e no cardápio, espaguete a bolonhesa.

- O cheiro está muito bom. - ouço a voz de Conrado vindo por trás de mim. Termino de colocar os talheres na mesa e me viro.
- Espero que o gosto também esteja. - falei meia sem jeito. Ele sorriu e nos sentamos.
- Definitivamente o gosto também está muito bom... - diz ele depois de levar uma garfada de macarrão a boca. Sorri em resposta. - Não sabia que sabia cozinhar. - diz ele apreciando a comida.
- Ah, sei sim. Aprendi com minha avó. - digo sem pensar, mas logo em seguida, caí a ficha de que falei demais. O olho e ele está me observando, engulo em seco.
- Interessante, eu realmente não sabia. - frisa ele me olhando mais atentamente. Ótimo, coloquei tudo a perder nas primeiras horas de casada.
- E como poderia saber? Não sabemos nada um do outro! - digo tentando contornar a situação, falo de forma calma e segura para não demonstrar meu nervosismo.
- Eu sei tudo sobre você, Isabella! - diz ele seriamente. O olho surpresa. Nesse momento, uma dúvida ficou no ar, será que ele realmente sabia tudo sobre Isabella minha irmã, ou será que ele sabia de mim, Isadora, a forma convicta que ele falou, o jeito como me olhou, era como se Conrado soubesse mais do que ele dizia saber. E isso me deixou tensa. Mas não tinha como ele saber, meu pai planejou tudo nos mínimos detalhes, ninguém sabia sobre mim, não éramos de ter amigos na cidade, nossa família sempre foi muito reservada. Os segundos depois daquela afirmação de Conrado foram tensos, ele me olhava seriamente como se tentasse enchergar além de meus olhos.
- Sabe? - perguntei na intenção de descobrir mais. Eu sei que aquele jogo era arriscado, mas, eu tinha que ter certeza das minhas suspeitas, precisava descobrir o que Conrado sabia de mim.
- Sim, Isabella ventura, 27 anos, terminou os estudos mais não fez faculdade, não trabalha, gosta de viver a vida intensamente, já teve mais namorados do que poderia imaginar, confesso, - disse ele me fazendo sentir vergonha. Aquela não era eu, mas tinha que fingir ser. - Gosta de praia, sol e não sabe cozinhar. Bom, agora vejo que essa parte não é verdade. - diz ele me olhando seriamente. Me senti entre a cruz e a espada. Como eu conseguiria lidar com aquela situação? A minha vontade era de gritar, de dizer que não, nada daquilo era verdade. Eu era formada em administração, odiava praia e aglomeração, amava cozinhar e nunca tive um namorado. Mas eu não podia dizer, ou estaria perdida.
- Vejo que andou se informando sobre mim. - falo tentando mudar o foco.
- Você não?
- Não. - digo como se fosse o óbvio.
- Então eu direi. Me chamo Conrado Lions, tenho 30 anos, sou formado em administração, atualmente sou ceo da multinacional Lions, como deve saber, gosto de malhar, correr e praticar esportes físicos, gosto também de gatos, tenho um inclusive, está no meu quarto, não sai de lá. Não sei cozinhar, mas não passo fome, e tive algumas namoradas, mas, me casei com a única mulher que não conhecia. - diz ele me olhando. Engoli em seco. Me senti sem graça diante dele. Por toda essa conversa.

Então, sem dizer mais nada, voltamos nossas atenções para o jantar e jantamos em total silêncio.

Aquele jantar foi só uma prévia de que não seria fácil ser minha irmã. Aquela vida não era minha, estar ali não era pra mim.

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