Capítulo vinte: Um pássaro livre

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Algum tempo depois....

Conforme o tempo passava e Isabella continuava da mesma forma, em sono profundo, minha preocupação diminuiu. Eu e Conrado estávamos mais próximos que nunca, e, éramos enfim um casal de verdade.

As vezes, me pego pensando se um dia seria capaz de lhe contar a verdade, será que Conrado me perdoaria? Será que ele continuaria me amando? Eram tantas dúvidas, mais com o passar dos meses aprendi a lidar com todas essas inseguranças e isso me ajudou a relaxar. Tudo estava como deveria estar.

Papai com o apoio de Conrado conseguiu reerguer a fábrica, os negócios da família estavam a salvo. Isabella continuava em coma mais sempre acompanhada pelos melhores médicos do país. Papai tentava lhe dar o máximo de conforto possível.

E eu e Conrado, vivíamos nosso amor da forma mais intensa.

- Quatro dias de atraso! - digo a mim mesma olhando o calendário do celular.
- Falando sozinha amore mio? - ouço a voz de Conrado. Me viro ainda sentada na cama e o vejo saindo do closet apenas com sua calça moletom.
- Nada, estou pensando alto. - digo com um leve sorriso. Ele sorri em resposta.
- Estou indo malhar um pouco. - diz ele, faço que sim e ele sai do quarto.
- Não deve ser nada, coisa da minha cabeça, estou trabalhando tanto ultimamente. - digo outra vez em voz alta e então me acomodo na cama e rapidamente pego no sono.

Percebo os braços de Conrado me apertarem forte no escuro do quarto, me ajeito em seu peito e volto a dormir. Assim tem sido todas as noites, durmo em seu peito que descobri ser o melhor e mais confortante lugar para se estar. Mais ultimamente, percebo que estou mais próxima dele, é como se algo me puxasse sempre pra querer ficar perto dele, estar com ele. Era algo mais forte que eu. Seu cheiro, sua pele, seu abraço, me faziam tão bem. Eu não queria me desgrudar dele.

Acordo no dia seguinte como de costume sozinha na cama. Conrado já havia saído pra trabalhar. Era segunda-feira e eu estava de folga. Olhei no relógio do celular e vejo que dormi demais, era quase meio dia. Me levanto com o quarto ainda escuro pelas cortinas que estavam fechadas, e ao levantar, uma tontura misturado com um forte enjôo me dominam, só dá tempo de correr, e vomito tudo o que comi na noite anterior no vaso sanitário. Aperto a discarga e sinto meu estômago e garganta doerem. Me olho no espelho e vejo que estou mal, muito mal. Minha feição é de uma pessoa que não dorme direito a dias, o que é estranho pois, dormir é o que mais tenho feito quando posso.

- Algo está errado. - digo a mim mesma me olhando no espelho.

Depois de fazer minha higiene matinal e trocar de roupa, tento comer alguma coisa na cozinha, e a única coisa que desce sem que eu a repugne são algumas frutas. Depois de comer, peço pra farmácia me trazer um teste, preciso saber se minhas suspeitas estavam certas.

E lá estou eu, parada ainda sentada no vaso sanitário  com o teste de gravidez nas mãos.

Eu precisava esperar. Mais aquela espera estava me matando. Que aflição.

E bingo! Duas riscas.

Meu coração quase salta pela boca. Não havíamos programado, na verdade, nunca conversamos sobre ter filhos, mais aconteceu. Eu estava grávida, e segundo as minhas contas, quase dois meses. Após me acalmar um pouco, começo a pensar com racionalmente, preciso contar a Conrado que em breve, ele será pai. Me arrumo depressa movida pela emoção do momento, e peço para Antônio me levar até a empresa.

Chego na empresa já no começo da tarde, após me anunciar na recepção, sigo para o andar indicado, o último andar, onde ficava a sala de Conrado.

Conforme o elevador subia os andares, com uma pequena caixinha branca nas mãos, tento me conter, eu estava tão feliz, tão radiante, que só queria contar a Conrado o motivo da minha alegria, eu queria que ele sentisse o mesmo que eu.

— Boa tarde senhora Lions, como vai? — pergunta uma simpática senhora que por certo era a secretária de Conrado assim que as portas do elevador se abrirão, ela parecia estar esperando por mim.
— Boa tarde, vou bem, e você? — pergunto com um sorriso.
— Vou bem, obrigada por perguntar. — diz ela gentilmente.
— Eu gostaria de ver meu marido, ele está disponível? — pergunto ao sair do elevador.
— Sim, ele está conversando com o dr. Moreira, mais acredito que pode lhe receber. — diz ela se dirigindo a sua mesa que ficava logo a frente do elevador.
— Não, não precisa avisar que estou aqui. Quero fazer uma surpresa. — digo prontamente. Ela sorri.
— Claro, seguindo o corredor, última sala. — diz ela. Faço que sim e sigo conforme ela me orientou.

O andar era muito bonito e grande, tinha quadros espalhados por toda a parte e os móveis eram rústicos. Ando a passos lentos pelo corredor sentindo meu coração acelerar, eu estava eufórica. Quando chego próximo a penúltima sala, ouço vozes. A porta da última sala estava aberta, e a cada passo que dou me aproximando, as vozes ficam mais claras e evidentes. Paro de andar assim que chego próximo a porta, consigo ver Conrado de costas pra porta olhando pela janela, seu advogado, estava sentado numa poltrona em frente a uma mesa enorme e também estava de costas pra mim. Eles não me viram mais eu os vi.
Quando respiro fundo e levanto minha mão para dar uma leve batida na porta aberta e mostrar minha presença ali, me contenho quando ouço uma frase.

— Você sabe Conrado que precisa gerar uma criança com sua esposa se quiser tomar posse do restante da herança. — diz o advogado. Nesse momento, fico sem reação, sem entender.
— Eu sei. — ouço sua voz que saí como um susurro. Meus olhos se enchem de lágrimas.
— Como seu avô deixou claro no testamento, a primeira parte da herança já foi lhe dada quando vocês se casaram, falta a segunda, que virá com a chegada do herdeiro. — continuou o homem.
— Eu não sei porque meu avô fez isso comigo. — disse ele ainda de costas.
— Ele sabia que se dependesse de você, você não casaria nunca. Sempre levou uma vida livre, você sempre foi um pássaro livre Conrado. Seu avô construiu todo esse império pra deixar a seus herdeiros, ele só tinha você. E você precisa ter alguém. — disse o homem.
— Eu não sei se quero ter um filho Morreria. Eu não queria nem me casar. — disse Conrado. As lágrimas desceram de meus olhos de forma espontânea. Eu não as controlava mais.
— Eu sei. Mais não podemos mexer no que seu avô deixou registrado, foi a vontade dele, e eu estou aqui para fazer cumprir sua vontade. Mais pelo o que vejo, você e sua esposa estão se dando bem.
— Sim, estamos bem. Parece que o plano do vovô deu certo. Mais, sobre filhos... — não terminei de ouvir a conversa, saí dali o mais rápido que pude.

Ao entrar no elevador, enquanto o mesmo descia os andares, todas as emoções e sentimentos que eu havia prendido dentro de mim para que a secretária não percebesse, vinheram a tona. E ali, chorei amargamente, desejando sumir da vida de Conrado para sempre.

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