Capítulo nove: Amélia e João

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Mais tarde naquela noite, enquanto observava da janela do meu quarto a vista da noite serena, não deixo de pensar em como minha vida está um caos. A única coisa que era certo, era meu emprego, mais nem isso era meu, afinal, eu estava ali como Isabella.

Toc, toc.

Ouço batidas de leve na porta.

— Entre. — digo e Conrado surge entrando no meu quarto.

Tento não deixar visível meu cansaço tanto físico quanto mental, a verdade era que eu não queria me desentender com mais ninguém, eu estava cansada. Conrado entra e vem em minha direção. Ele estava um pouco suado, vestido em uma calça moletom e regata, com certeza estava malhando.

— Você está bem? — pergunta parando a minha frente. O olho atentamente e percebi que Conrado as vezes tem um certo brilho no olhar. Algo que não sei bem como descrever.
— Sim. — respondo sem muito entusiasmo.
— Não é o que parece. — diz ele parecendo preocupado. Mas o que eu sabia sobre alguém se preocupar comigo? Nunca tive esse tipo afeição de ninguém a não ser de mamãe e vovó mais já faz muito tempo que elas não estão aqui para me proporcionar esse tipo acalento.
— Eu só, estou um pouco cansada. O dia foi longo. — falei tentando justificar minha feição de  tristeza. Eu estava cansada sim, mais não era por esse motivo.
— Eu sei, o restaurante do Pepe é bem movimentado. Eu já vou, vou deixar você descansar, mas, antes gostaria de lhe perguntar algo.
— Pergunte. — digo.
— O que aquele italiano de araque disse a você no restaurante? — perguntou atentamente.
— Conrado, acho melhor deixarmos isso pra lá, pelo o que entendi vocês estavam num almoço de negócios, e, não quero atrapalhar seja lá o que estiverem fazendo.
— Isabella, por favor, me responda. — suplicou ele gentilmente. Vencida, falei.
— Ele me perguntou se eu queria lhe fazer companhia depois do expediente. — falei sem graça. Conrado me olhou seriamente.
— E você? O que respondeu?
— Que não entendi, não sabia como responder não queria ser grossa com seus amigos.
— Ele não é meu amigo, é apenas um possível sócio mas já não sei se merece trabalhar comigo.
— Por isso não queria te contar, não quero que isso que aconteceu influencie nas suas decisões... Acredito que já tenha ficado bem claro pra ele que não estou disponível. — falei firmemente.
— Tudo bem... Quero lhe pedir um favor.
— Claro, se eu puder...
— No final de semana teremos um evento na empresa, gostaria que me acompanhasse. — fico sem reação. — Bom, todos sabem que agora sou um homem casado, ficaria estranho se eu fosse sozinho com tão pouco tempo de casado. — frisou ele.
— Tem razão, eu vou sim.
— Obrigado... Agora vou deixar você descansar, boa noite.
— Boa noite. — e assim, Conrado saí, e pude finalmente descansar do dia longo e agitado que tive.

*****

— Pepe? — digo ao entrar em seu escritório.
— Isabella, entre entre. — diz ele e então entro e fecho a porta. — Aconteceu algo?
— Não, quer dizer, com o restaurante não, é que, preciso de um favor. — falo sem graça.
— Pode dizer. — me sento a sua frente.
— Preciso que me libere mais cedo no sábado, sei que o final de semana é bem corrido num restaurante, mas, preciso acompanhar Conrado num evento. Sei também que estou no meu segundo dia de trabalho, e não poderia estar te pedindo isso, mas, é importante pra ele.
— Tudo bem ragazza, pode sair mais cedo no sábado. Não posso negar um favor desse a meu amigo.
— Obrigada Pepe, Grazie. — digo aliviada.
— Bom, já que estávamos aqui e que o restaurante está sem movimento, vamos conversar um pouco ahn?! — faço que sim.
— Io so ( eu sei) que o casamento de vocês non  e vero ( não é de verdade) e que tudo isso foi arte de meu amigo João. — fico sem reação. — Scusa ( desculpa) invadir sua vida pessoal, mas, conheço Conrado desde que era um ragazzo. Conheci sua avó Amélia também. — fico surpresa.
— Conheceu?
— Si, era uma ragazza mui bela, ela e João eram perdidamente apaixonados. Os dois viviam pra cima e pra baixo juntos, era mui belo de ver. — diz ele olhando para o alto como se estivesse pensando longe. — Um amor como aquele, nem Shakespeare seria capaz de descrever...  Mas João estava prometido a outra, a família apoiava e naquela época era muito diferente de hoje. Os ragazzi obedeciam os pais em tudo, e bem assim foi com João. Abriu mão de seu amor por obediência aos pais... Mas João nunca esqueceu sua Amélia. Nunca. Tempos depois, depois que ele já tinha se tornado pai, ele reencontrou Amélia, ela estava mais linda do que nunca, chegou a vir me ver aqui no restaurante, e por coincidência ou obra do destino, ela encontrou João aqui, da mesma forma que você e Conrado se viram ontem. Curioso no e? ( Não é) eles passaram a tarde aqui, conversando e bebendo, colocando os assuntos em dia, até que no final da tarde saíram juntos. Eu cheguei a pensar que agora eles iriam se acertar, que João iria largar tudo pra finalmente viver seu grande amor, e acredito que Amélia também pensou isso. Mas não, João não tinha força o suficiente para fazer tal coisa, e depois de passarem a noite juntos, João saiu da vida de Amélia da mesma forma como entrou, como um furacão, deixando para trás um coração ainda mais ferido. Amélia me contou tudo. Estava desesperada, amava João mais que tudo, palavras dela, mais ele não quis abrir mão da vida que tinha por ela, e a única coisa que foi capaz de lhe propor, foi que ela se tornasse sua amante... Amélia claro que no aceitou,  brigou com ele, ficou revoltada, e aquela foi a última vez que os dois ficaram juntos... Por isso o acordo, por isso essa fixação de que Conrado repare um erro do passado. Um erro dele. Quando João ficou sabendo que a empresa da sua família estava indo de mal a pior, teve essa ideia, e fez Conrado aceitar. João era tudo pra Conrado, ele no diria no ao avô, e então aceitou. E agora vocês estão ai, por mais que cada um de vocês tenham tido seus motivos para concordarem com esse casamento, eu vejo ragazza, que algo bom pode surgir no meio de tudo isso. É como se o velho João estivesse dando uma força para vocês, e quem no da certo?! — engulo em seco. Nunca pensei nisso. — Nunca vi Conrado ficar tão bravo e irritado como vi ontem, ele claramente estava mostrando aquele sujeito que você era dele. — diz Pepe por último. Fico sem palavras. Eu era de Conrado? — As vezes ragazza, a vida dá uma volta ao mundo, mas para exatamente onde começou, pra mostrar que por mais que nós possamos andar e rodear essa terra, se o que é nosso estiver ao nosso lado, será nosso. No adianta querer fugir nem rodear o mundo, você vai parar no mesmo lugar. O que é seu, é seu. — diz ele me olhando atentamente, me arrepio só de ouvir suas palavras.
— Eu, vou voltar ao trabalho. — falo sem graça, Pepe faz que sim e então me levanto saindo dali ainda com suas palavras em minha mente, e assim fiquei o resto do dia. Pensando em como poderia ser a minha vida se eu estivesse encontrado Conrado em outro momento, de outra forma.

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