Maldito amor

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Recuperações costumam ser motivos de alegria, de comemoração. Entretanto, tudo que sentia era um enorme nada.
Fechou os olhos com força, sentindo a dor se espalhar por seu ante braço, quando a fisioterapeuta Lola, uma simpática jovem - não aparentando ser muito mais velha que ele, de cabelos acobreados cortados de forma charmosa num Chanel de bico - apertou seus dedos ao redor da pequena bolinha verde.
Há quatro dias, Alex havia recebido alta e deixado o New York Presbyterian Hospital, o que seria um dia feliz se não fosse pela maldita carta que Martha lhe entregou. Ele não podia ser mais grato a babá/governanta, Martha assumiu para si todos os cuidados para com ele e a pequena Aurora. Enquanto sua mãe,  Helena James se afogava em seu luto num refinado SPA na Geórgia.

- Você precisa se concentrar nos movimentos, se quiser melhorar logo. - Lola o repreendeu de uma forma suave, como quem fala com uma criança.

Alex abriu os olhos, as orbes esverdeadas opacas e desanimadas, fitaram a jovem médica.

- Pro inferno com isso, eu não posso mais jogar. - Alex puxou a mão abruptamente, pouco se importando com o semblante chocado da mulher. - O que é um jogador de Lacrosse, se ele  não pode mais sequer segurar um bastão? Você não entende não é? Eu lutei muito para entrar em Yale, para conseguir jogar no time da faculdade, esse era meu sonho. E até morto aquele maldito conseguiu tirar de mim.

O rapaz mordeu os lábios tentando conter o bolo amargo que se formava em sua garganta. Hugh James podia estar morto, mas ele sabia que o pai estava provavelmente comemorando sua desgraça no inferno.

- Alex, suas lesões são extensas e isso é ruim, você só não pode desistir. - A fisioterapeuta sentou ao lado de Alex e segurou sua mão de forma amável. - Você passou por muitas coisas, não deixe que isso afete quem você é.

- Você não sabe de nada, Lola. Terminamos por aqui. - Alex tornou a puxar as mãos e se afundou no colchão, não deixando espaço para respostas. Lola suspirou pesado e se levantou juntando suas coisas. Ela gostaria de tratar não somente seus músculos, mas também seu coração.

Quando fora contratada por Martha a um mês atrás, para ajudar na recuperação de Alex, ela nunca poderia imaginar que seu paciente seria tão intrigante. Os olhos verdes escuros, os lábios bem desenhados em sorrisos irônicos, o constante mal humor. Ela sabia que era totalmente anti ético de sua parte, mas não pode evitar chegar em casa algumas noites depois e imaginar como seria tocar aqueles lábios com os seus. Porém seus sentimentos pouco importavam, visto que o coração de Alex pertencia a uma garota, cujo o fígado o salvara. Não havia como competir com isso.

Lola não sabia exatamente o que havia acontecido, mas sabia que a jovem havia partido logo após ser liberada deixando apenas uma carta para Alex. A jovem olhou mais uma vez para seu paciente, que a ignorava deliberadamente, antes de sumir porta fora.
Alex não se moveu pelo que pareceram horas, pedindo para que quaisquer que fossem as forças que regiam o universo que o deixasse morrer. Ele havia experimentado o inferno e o paraíso naquele ano. Era final de junho e ele sabia que se ousasse olhar para fora veria o sol, quente como a pele de Adeline. A lembrança dela pairava em sua mente como um fantasma, o assombrando dia após dia.

Soube por Ella que a garota havia passado para Princeton, em Nova Jersey. Eram quase duas horas de distância, entretanto a sensação era que um oceano os separava. Malaika e Boumani os visitavam pelo menos duas vezes na semana, lhe davam doces e abraços fraternos, porém pouco mencionavam a filha. Boumani disse que o ajudaria a entrar em qualquer faculdade que escolhesse agora que não poderia mais jogar. Sentia gratidão, mas não havia sentido continuar pensando num futuro longe do Lacrosse. A empresa da família James, ainda estava de pé apesar de todo o caos. O enorme prédio em Wall Street seria o futuro de Alex, o legado maldito de sua família. Passaria a vida enfiado em terno, sentado atrás de uma mesa.
Não poderia ser egoísta, precisava cuidar da empresa por Aurora, pelos tantos funcionários e profissionais. O rapaz suspirou, levantando com dificuldade e caminhou até o banheiro onde os pequenos frascos laranja o chamavam como pequenos pecados.

Alex e Adeline Onde histórias criam vida. Descubra agora