{ supere }

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05/Julho/2005 02:15 PM

Sua casa era a mesma que ele se lembrava; grande demais para uma única pessoa. 

Takemichi, agora ou antes, sempre teve um problema com isso. 

Sua casa estava num bairro residencial muito bom na verdade, era, na maior parte do tempo, um bairro seguro e tranquilo para se viver, repleto de idosos curtindo sua aposentadoria tranquilamente e famílias bonitas vivendo suas vidas pacificamente. Tudo meio que parecia saído de um daqueles comerciais de imobiliárias que clamavam sobre os lares perfeitos e tudo mais. A residência Hanagaki não era muito diferente, se encaixando perfeitamente na arquitetura do bairro.

Era simples, mas requintado, parecia uma casa familiar comum; o jardim da frente estava bem cuidado, a grama estava bem aparada em volta da pequena estrada da garagem, onde um carro popular japonês descansava. A entrada da garagem estava bem cuidada, mas haviam brinquedos por perto; uma bicicleta, um skate, um taco de baseball. Na grama, alguns metros a frente, uma caixa de correio bonita estava junto de uma pequena cerca de flores. 

Hanagaki, ele pensou com um sorriso irônico, os olhos queimando com a visão. 

Sua mãe havia colocado ali, uma piada de mal gosto sobre o significado de seu sobrenome. Seu pai a odiou, mas ainda assim comprou um par correspondente para o outro lado da grama, colocando lá com uma carranca concentrada e um olhar indiferente, mas orelhas vermelhas e coradas. Sua mãe não disse nada, ele se lembra, ela apenas sorriu, os olhos estreitos de felicidade e pequenas risadinhas suaves. 

Takemichi, de oito anos, os encarou distraidamente enquanto ponderava se deveria ou não ir lá e mastigar algumas daquelas flores rosas. 

Takemichi, de vinte e seis anos, não pensava nisso há quase quatorze anos. Evitando pensar em qualquer coisa ligado ao seu eu do passado.

Takemichi, de quinze anos, havia perdido a mãe, e consequentemente o pai, há quase dois anos. Então ele entrou em brigas e agiu como um idiota egoísta, porque ele não se machucaria se deixasse as pessoas antes que elas pudessem deixá-lo.

Hm, provavelmente foi daí que veio a ideia genial de fugir para o outro lado da cidade, deixar a escola, os amigos, a casa e se tornar um fracassado deprimido que chorava por absolutamente tudo.

Takemichi de quinze anos era confiante e grande, ele odiava sua casa aconchegante mas fria, mas manteve isso no fundo do peito, com olhares vazios e grunhidos de raiva. 

Ele tinha quinze anos de novo, mas nenhuma habilidade para agir como antes. Imediatamente, ao abrir a porta, a familiar sensação de lágrimas escorrendo por seu rosto o saudou juntamente com a visão do corredor escuro e gelado, sem nenhuma vida. Pelo menos, ele decidiu enquanto fungava, estava limpo, era alguma coisa. 

A primeira coisa na qual seus olhos encontraram foi na pequena moldura oval na parede do fim de corredor, havia três figuras ali, um homem, um menino e uma mulher. Takemichi não olhou demais, tirando seus sapatos e os acomodando cuidadosamente no genkan ao lado da porta. Ele empurrou o shoji para o lado e finalmente entrou na sala de estar, o tatame afundando sob seus pés. 

Cheirava a macarrão instantâneo e suor, estava quente e abafado, as janelas estavam fechadas e havia poeira em todos os cantos possíveis, exalta como ele se lembrava. 

A casa era grande, com cinco quartos, uma sala e dois escritórios, porque sua mãe sempre sonhou em ter muitos filhos. Havia um banheiro em cada quarto, mas também havia um lavabo perto da sala. Na sala, espaçosa e bonita, havia a mesa de centro de mogno e um kotatsu caro, um longo sofá creme e uma poltrona de couro. Havia uma TV, a mais nova no mercado, cortesia de seu pai. Caminhando alguns passos para a direita, ele poderia entrar na cozinha, era padrão; você poderia encontrar inúmeras cozinhas configuradas daquele mesmo jeito no bairro, com balcões e uma mesa baixa com uma luminária no centro. 

( glass heart )Onde histórias criam vida. Descubra agora