Capitulo 99

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Capitulo 99
Julia permaneceu ali em posição fetal por alguns minutos, tinha vontade de chorar, de gritar, mas não tinha forças para isso, sentia muita dor, falta de ar e uma revolta tão grande que não conseguia mensurar.
Mais uma vez a vida dela se passou em sua mente como um filme, sua infância com seus pais, sua adolescência, a morte dos pais, o tempo que viveu com a sua irmã, o nascimento dos sobrinhos, seu relacionamento frustrado com Rafael e o quanto aquilo lhe doeu e a marcou, de como foi dificil pra ela se recuperar, do emprego na empresa do pai do Dimas, e a sua tensa saida de lá, seu historico  com depressão, as madrugadas maratonando series sem de romances agua com açucar, os calmantes, a terapia, seu intenso relacionamento com Dimas, o não saber sequer onde ele estava, se vivo, morto, se recuperando.
Mas todas as lembranças a mais dolorida era Felipe, mesmo tendo amado Rafael, mesmo que seu recente envolvimento tenha sido muito intenso, ela sabia que no fundo o verdadeiro amor que sentiu foi o de Felipe. Mesmo sendo viciado, Felipe tinha uma alma pura, e se via isso nos olhos dele. E agora ali naquela situação, Julia via o quanto foi injusta , incompreensiva e egoísta, agora ali naquela situação, ela sabia que poderia ter ajudado mais, insistido mais, lutado mais por ele, ali naquela situação ela sabia que era humanamente impossivel sair daquele buraco sem fundo sozinha, a dor do remorso e do arrependimento era tão grande, que se tornava fisica.
Depois de alguns minutos chorando, Julia se levantou com dificuldade, sentia muita dor nas costas, no peito, na barriga, seu rosto também estava ferido. Saiu cambaleando, entre os demais moradores daquele lugar, a lucidez naquele momento a fazia mal, pode perceber o quão horrivel era aquele lugar, as pessoas perambulando de um lado para o outro, um cheiro horrivel de sujeira, misturada com urina, fezes e esgoto. Julia não parava de pensar em como foi parar ali, como se deixou chegar nesse ponto? E pior de tudo era: Como sairia disso? Julia não tinha onde e nem em quem se apoiar, não tinha familia, amigos, não sabia sequer por onde começar a ir atras de ajuda. Não tinha solução para ela.
Saiu caminhando sem rumo até que chegou proximo a um viaduto, embaixo dele mais uma porção de viciados, alguns usando drogas, outros andando de um lado para o outro devido a abstinência. Julia, caminhou para cima do viaduto, parecia que não estava sabendo o que estava fazendo, parecia que uma força a guiava pra aquele lugar, então ela só foi. Chegou proximo ao parapeito do viaduto e olhou pra baixo. Centenas de carros passavam, sempre em alta velocidade, Julia imaginou que uma queda dali seria fatal, e mesmo que se sobrevivesse de uma queda, jamais a um atropelamento que com certeza ocorreria.
Mais uma vez ali, olhando para baixo voltou a se lembrar de sua vida e quando ela estava sendo medíocre, se morresse quem sentiria falta dela? Sua irmã talvez, mas com o tempo passaria, e pelos ultimos acontecimentos não demoraria a esquecer. Então pensou que talvez a melhor solução para toda aquela angustia que estava sentindo era pular, talvez doesse muito, mas talvez não, mas por mais que doesse não seria pior do que aquela angustia que estava sentindo.
Julia passou uma perna, e em seguida a outra, abriu os braços e em forma de prece pediu perdão a Deus, e ao universo, respirou fundo e se preparou para pular. Quando se sentiu pronta, escutou seu nome, ela conhecia aquela voz, era a voz de Felipe, imaginou que estivesse tendo algum tipo de alucinação, seja pela abstinência, seja pelo que estaria prestes a fazer, mas mais uma vez escutou seu nome, mais alto, em seguida ouviu de novo, dessa vez mais alto e mais perto, então quando se virou viu Felipe correndo em sua direção, seu rosto era de desespero, e quanto mais ele chegava perto, mais alto ele gritava o nome de Julia e implorava para que ela não fizesse aquilo.

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