Tudo por você
Capítulo 11
Quando Julia chegou em casa, não viu Renata, pensou em bater na porta e lhe dar o recado do irmão, mas desistiu, se ela que não tinha ligação nenhuma com o rapaz havia ficado extremamente mexida com a situação, imagina Renata. Provavelmente Renata também iria atrás do rapaz fazendo com que ela e o marido brigassem, então Julia decidiu que pela manhã falaria com Renata sobre o ocorrido, tentaria falar da melhor maneira possível, de um jeito que não a chocasse se é que era possível.
O silêncio no quintal era algo muito estranho, nada habitual, Julia fez um chá, sua cabeça estava doendo, tomou um comprimido e tentou assitir a sua série, não tinha concentração alguma, acendeu um cigarro. O último, precisava dormir antes que lhe desse vontade de fumar novamente, mas não tinha sono algum, seu coração estava acelerado, parecia estar com medo, fechava os olhos pra dormir quando não se lembrava de Renata chorando, se lembrava de Felipe, e para piorar, ansiosa começou a se lembrar de fatos isolados de sua vida, como no dia que perdeu sua mãe, e no dia que foi mandada embora da empresa, sua cabeça começou a doer mais ainda, e o coração bater mais acelerado.
Andava de um lado para o outro da pequena casa, o nó na garganta agora pareciam duas mãos apertando-lhe o pescoço.
Eram mais de 11 da noite quando Julia decidiu sair para comprar um maço de cigarros e "dar uma respirada"
- Se eu ficar aqui sem cigarros do jeito que eu tô eu vou surtar - pensou
Assim que Julia saiu de casa, e respirou fundo, sentiu uma grande melhora, treinou a respiração assim como a psicóloga havia lhe ensinado. 1, 2, 3.. 10 vezes puxando pelo nariz soltando pela boca, foi se acalmando, de pouco em pouco, foi sentindo seu coração desacelerar, já estava melhor precisava mesmo sair de casa, e precisava mais ainda parar com a mania de sofrer a dor dos outros, de tomar pra si problemas que não eram dela.
Chegou no bar, já bem calma, o lugar era bem típico "boteco de bairro", pediu o cigarro e olhou ao redor, de fundo tocava algumas músicas no estilo "brega", um casal dançava, outro conversava, e mais algumas poucas pessoas bebiam cerveja
- Mais alguma coisa?
- Não, orbigada
Julia pagou e se foi, colocou as mãos no bolso e procurou pelo isqueiro, havia esquecido em casa, virou-se para voltar até o bar e pegar um emprestado, mas não deu tempo
- Da o dinheiro e o celular agora! - Foi abordada por um rapaz Julia se assustou
- Eu, eu não tenho celular, e nem dinheiro, tenho só o troco do cigarr- antes de terminar a frase o rapaz tomou o maço de cigarros e os trocados da mão de Julia com força
- Vagabunda, anda me dá o dinheiro
- Eu já disse que eu não tenho
O rapaz foi se aproximando, estava com a mão debaixo da camiseta e apresentava um volume, Julia não conseguia distinguir se era uma arma
- Anda vadia eu já tô perdendo a paciência
- eu já disse que eu não tenho
O rapaz então segurou nós cabelos de Julia e antes que pudesse puxar, um outro rapaz chegou e o empurrou
- Deixa a moça em paz tá maluco?
Os dois começaram a discutir, até que o que estava tentando assaltar Julia se foi, Julia estava estática, as lágrimas escorriam, e ela não sabia o que fazer
- Ele não machucou você não né?
Só então Julia percebeu que quem a havia defendido era Felipe, o irmão de Renata
- Não
- Noia filho da puta, ele levou alguma coisa sua?
- Só os meus cigarros, e uns trocados, nada demais
- Você também é bem maluca de ficar andando sozinha a essa hora
- Meu cigarro acabou, e eu vim comprar outro
- Ah, o vício ele faz a gente fazer tanta coisa né?
Julia não gostou do comparativo, mas não tinha o que falar, Felipe havia salvado a sua vida
- Orbigada, eu pensei que ele ia...
- Te matar? Não ele queria só te assustar, ele não tinha como te matar não
- Eu pensei que ele estava com uma arma
- Arma? - Felipe deu risada, não, ele não tem arma não, ele só queria um dinheiro pra fumar uma pedra.
- hum, se eu soubesse
- Você iria fazer o que? - mais uma vez Felipe sorriu, mesmo sorrindo seu olhar era vazio, e triste, Julia ficou olhando por alguns segundos
- Eu preciso ir embora, obrigada
- Eu vou com você até perto, vai que você é assaltada de novo
- Mas você acabou de dizer que não tem perigo
- Não, foi isso que eu disse, eu disse que ele não tem arma, mas na loucura a gente faz coisa que até Deus duvida
- Acho que não precisa,- Julia colocou a mão no bolso, - droga, fiquei sem o cigarro, e sem dinheiro aqui pra comprar outro
- Vai lá no bar, explica pro cara quem sabe ele te deixa pagar depois
Foi o que Julia fez, o dono do bar lhe vendeu o cigarro, com a promessa de pagamento no dia seguinte, quando saiu do bar, Felipe ainda estava no mesmo lugar lhe esperando
- Quer um?
- Vou aceitar, obrigada
- eu quem agradeço mais uma vez
- Não precisa agradecer não Julia - ela estranhou ele sabia o nome dela - eu sei que foi você quem pagou a fiança pra eu sair da cadeia, e eu sei o tanto que você ajuda a minha irmã, ela me contou tudo, ela gosta muito de você - Felipe suspirou - o que eu fiz não paga nem 1% do que você fez, a Renata é uma pessoa de coração muito grande, pode ter certeza que o que você precisar ela vai fazer por você, eu amo a minha irmã
- E porque você não volta pra casa?
Felipe ficou em silêncio, nesse meio de conversa eles estavam caminhando sentindo para a casa de Julia.
- Eu tô aqui conversando com você , mas a minha cabeça tá pensando onde vou arrumar um dinheiro pra comprar droga, se eu for pra casa da Renata agora, vou ficar a noite toda em agonia, não vai ser bom
- Mas na rua não é pior?
- Não sei, na rua a gente sempre encontra alguém que fortalece a gente
- Na casa dela você encontra amor Felipe, sua irmã te ama
- Eu sei
- Quer fortalecimento maior que esse?
- Não é tão fácil assim
- Talvez seja, você que complica
Felipe olhou nos olhos de Julia
- Você deu o recado que eu mandei pra ela hoje de tarde?
- Não, eu não a vi, deixei pra falar amanhã cedo
- então você pode dar outro?
Julia assentiu com a cabeça
- Diz a ela que eu voltei, e que estou aqui no portão esperando ela