Capítulo -6- Tempo

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UM ANO DEPOIS....

Íris Morgan Ford 🥀

Por favor Deus me ajuda ! Falo quase num sussurro , me encolho no canto do quarto como uma borboleta num casulo . Tapo meus ouvidos pela milésima ou talvez a centésima vez tentando não mais ouvir aqueles gritos . Crianças chorando , e aqueles gritos agoniantes aterrorizantes , era difícil eu ainda conseguia ouvir o barulho das correntes sendo arrastada , o soar dos chicotes açoitando os corpos quase desfalecidos , as gargalhadas insanas em meio a tanto sofrimento , a tanta dor .

Não aguento mais esse inferno PAREM POR FAVOR PAREMMMMM .

Porque Deus esqueceu de mim porque porque ?

Acordo mais uma vez suada e ofegante pego o celular e vejo as horas .

Marcava três horas da madrugada !

Mais uma noite , será que vai ser sempre assim ?

Será que nunca terei paz ?

Essas lembranças vem quase todas as noites , parecendo um pesadelo sem fim , um looping eterno .

Minhas noites são regadas de pesadelos e mais pesadelos , ou pior lembranças de tudo que vivi naquele lugar imundo , naquela podridão .

Se eu fechar meus olhos ainda consigo sentir o toque daquele asqueroso em minha pele

Consigo sentir o cheiro do seu charuto ,
Consigo ouvir suas gargalhadas , eu só queria esquecer tudo e tentar seguir minha vida sem medo , sem tristeza sem dor .

Nesses um ano muita coisa mudou , para nossa segurança tivemos que nos mudar de casa . Sei que tudo que papai faz é sempre para o meu bem , foi difícil ter que deixar a casa que por muitos anos vivi , em cada pedacinho daquela casa havia lembranças , boas lembranças

Recuperei os movimentos da perna , não foi fácil mais consegui .
Enfim voltei a dançar de novo . E graças a fono minha voz voltou ao normal ou quase !

Tive que fingir para muitos que perdi parte de minha memória , algo que nunca aconteceu .

Papai e vovô são os únicos que sabem não achei justo não contar . Papai sempre esteve ao meu lado segurando minhas mãos , sei que foi o certo a fazer .

Eu até pensei em contar para as autoridades mas o medo fez me calar .

Se até hoje ninguém sabe o que realmente aconteceu comigo

O que existe são apenas teorias e mais teorias .

Com toda certeza há pessoas com muita influência por detrás disso .

Coloquei na balança os prós e contra quem levaria a pior seria eu independente do que eu fizesse .

Se eu queria vingança , eu teria que agir pelas sombras e estar dois passos a frente deles eu já até sabia por onde deviria começar .

Nesses tempo dançar tem sido meu refúgio minha válvula de escape .

Fiquei muito feliz quando consegui fazer um Plié , um Tendu , um Jeté .

Tive que dar um passo de cada vez , não foi nada fácil mas com muita persistência , força de vontade e incentivo do meu pai eu consegui .

Voltar a fazer o que sempre amei alivia um pouco minha alma e principalmente meu coração . Com isso minha inspiração estar a mil , talvez seja o jeito que meu celebro arrumou para extravasar toda essa dor que queima no meu peito .

Porque não transformar minha dor em arte ? Pelo menos algo de útil consegui fazer com essa maldita insônia .

Quando vi já tinha colocado toda minha dor no papel .

Quem diria que eu faria do limão uma limonada , eu nunca me imaginei escrever uma peça teatral , nem tão pouco pensei em fazer parte do elenco , nada mais justo incluir a música que papai colocou para que eu ouvisse quando estava em coma .

Aquela música ! Sua sinfonia mexeu tanto comigo que não consegui mas tirar da minha mente , porém minha maior inspiração é um homem de quase dois metros que me ama acima de tudo , dedicarei a ele meu pai meu herói meu amigo .

Quando enfim consegui contar ao papai sobre tudo que aconteceu , ele ficou com muito medo de que algo podesse voltar a me acontecer se ele não estivesse por perto . Por medo ele me fez aprender a me defender .

Vovô também me ajudou e muito . Ele era do exército me ensinou tudo que ele sabe ele foi linha dura comigo , tive que aprender tudo na marra .
Quando eu queria desistir ele falava :

__ O que não te mata te fortalece minha filha ! Então se fortaleça .
E foi isso que fiz !

Hoje consigo me passar despercebida e por isso estou conseguindo reunir muitas informações .

Por consequência das contusões que tive , meu rosto não é mais o mesmo passei por algumas intervenções cirúrgicas ao longo desse um ano .

Ainda é muito difícil me olhar no espelho e ver esse meu novo eu , não há mais cicatrizes em meu rosto , nem tão pouco em meu corpo , mas as cicatrizes em minha alma não poderiam ser retirada nunca , essas cicatrizes sei que terei pelo resto da minha vida .

Tento colocar na minha mente que o importante é que eu estou viva . Sinto que ainda falta algo para poder me reconciliar comigo mesma .
Talvez se eu podesse ter o sangue daqueles que me machucam em minhas mãos eu teria minha vingança , minha justiça minha paz de espírito .

É difícil , é doloroso recordar quase todas as noites dos gritos daquelas pessoas , dos choros das crianças , dos pedidos desesperados de socorro , me pergunto quantas Íris passaram por alí ?
Quantas vidas foram destruídas ?
Quantas famílias foram desmanteladas ? Quanto sangue inocente já foi derramado ?
Quantos ?

FERIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora