Capítulo Quatro

175 16 1
                                    

“Suponho que já saiba das novas, Basil”, disse lorde Henry na noite seguinte, enquanto Hallward era levado à pequena sala particular no Bristol, onde o jantar fora posto para três.

“Não, Harry”, respondeu Hallward, entregando seu chapéu e seu casaco ao reverente garçom. “O que é? Nada sobre política, espero. Isso não me interessa. Não há uma única pessoa na Câmara dos Comuns que valha a pena pintar; embora que para muitos deles fosse melhor um pouco de caiadura”.

“Dorian Gray está comprometido a se casar”, disse lorde Henry, olhando-o enquanto falava.

Hallward ficou perfeitamente pálido e um olhar curioso pulsou por um momento em seus olhos, e então sumiu, deixando-os embotados.

“Dorian comprometido a se casar!”, ele exclamou. “Impossível!” “É completamente verdade”.

“Com quem?”

“Com alguma atriz dessas”.

“Não posso acreditar. Dorian é bem mais sensível que isto”.

“Dorian é bem mais esperto para não fazer tolices de vez em quando, meu caro Basil”.

“O casamento é dificilmente algo que se possa fazer de vez em quando, Harry”, disse Hallward, sorrindo.

“Menos nos Estados Unidos. Mas eu não disse que ele estava casado. Disse que ele estava comprometido a se casar. Há uma grande diferença. Tenho uma lembrança distinta de ter me casado, mas não tenho nenhuma lembrança de um dia estar comprometido. Estou inclinado a pensar que nunca estive”.

“Mas pense no berço, na posição e na riqueza de Dorian. Seria absurdo se casar com alguém tão abaixo dele”.

“Se você quer que ele se case com esta garota, diga-lhe exatamente isto, Basil. Ele está disposto a fazê-lo. Toda vez que um homem faz uma coisa completamente estúpida, é sempre a partir dos mais nobres motivos”. “Espero que essa garota seja boa, Harry. Não quero ver Dorian preso a uma criatura vil, que poderia degradar sua natureza e arruinar seu intelecto”.

“Oh, ela é mais que boa... ela é bonita”, murmurou lorde Henry, bebericando um copo com vermute com laranjas amargas. “Dorian diz que ela é bonita; e ele não se engana frequentemente com coisas deste tipo. O retrato que pintou dele apressou nele a apreciação das aparências pessoais de toda a gente. Teve este excelente efeito, dentre outros. Iremos vê-la esta noite, se aquele garoto não se esquecer do seu compromisso”.

“Mas você aprova isso, Harry?”, perguntou Hallward, caminhando pela sala e mordendo os lábios. “Você não pode aprovar isso, evidentemente. É alguma paixão tola”.

“Eu nunca aprovo ou desaprovo coisa alguma. É uma atitude absurda com relação à vida. Não fomos enviados a este mundo para divulgar nossos orgulhos morais. Nunca me apercebo do que as pessoas comuns dizem e nunca interfiro nas coisas que as pessoas encantadoras fazem. Se uma personalidade me fascina, seja o que for que esta personalidade decida fazer é absolutamente prazeroso para mim. Dorian Gray se apaixona por uma bela garota que interpreta Shakespeare e a pede em casamento. Por que não? Se ele se casasse com Messalina, ele não deixaria de ser menos interessante. Você sabe que não sou um defensor do casamento. O verdadeiro problema do casamento é que ele elimina o egoísmo de alguém. E pessoas altruístas não têm cor. Elas perdem a individualidade. Ainda, há certos temperamentos que o casamento torna mais complexos. Eles retêm seus egoísmos e acrescentam a ele muitos outros egos. São forçados a ter mais de uma vida. Tornam-se altamente organizados. Além disso, cada experiência tem seu valor e, seja o que for que alguém diga contra o casamento, certamente é uma experiência. Espero que Dorian Gray faça desta garota sua esposa, adore-a apaixonadamente por seis meses e então se torne subitamente fascinado por alguma outra pessoa. Ele seria um estudo maravilhoso”.

O Retrato De Dorian GrayOnde histórias criam vida. Descubra agora