Capítulo 4

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Matt Hunter

Faço uma curta viagem de carro me sentindo levemente enjoado. Havia deixado minha mochila bem acomodada no banco do carona no Harold. Harold era um Toyota Corolla de dezesseis anos, pintado de um turquesa brilhante e com um motor que zunia em ritmo constante, como se fosse seu imaculado coração metálico pulsando. Assim como o meu coração, o de Harold não andava muito bem. Que ironia. 

Harold pertencia, antes, ao meu pai; foi ele quem o batizou, aliás. Minha mãe não quis vendê-lo, e por isso o carro ficou parado na garagem. Mas não é o motor do meu carro que me deixou enjoado. Nunca tinha trabalhado como professor particular. As informações que havia conseguido diziam que se tratava de uma garota que possuía algum tipo de deficiência. 

Não me lembro de ter conversado com sr. Walter sobre isso. Ele havia apenas comentado que os pais dessa garota viajam com uma certa frequência e que precisam ou melhor "necessitam" de alguém para auxilia-la nos estudos, e discutimos sobre o dinheiro também, seria um valor semanal, concordei. 

Estava usando uma camisa listrada de botões e uma calça jeans surrada, utilizava tanto que já havia alguns buracos pequenos espalhados pelo seu comprimento. Minha mãe não concordou com meus trajes, mas expliquei a ela que fazia parte do meu estilo único. 

Minha mente martela: seja lá quem for, é apenas uma pessoa comum. Uma pessoa que precisa de ajuda nos estudos. Não há nada com o que se preocupar. Tento acreditar em mim mesmo. 

Peguei a I-74, o cinturão rodoviário que contorna Nort Gateway. Segui na direção da casa dos Willians. Acelerei até a velocidade máxima. Eu nunca dirigia além do limite. Amava demais Harold para isso. Mas eu estava tão ansioso que decidir infringir a lei pelo menos uma vez, com certeza chegaria antes do horário marcado. 

Parei o carro na frente da casa. O endereço do emprego, ficava do outro lado da cidade, perto do Lake Pleasant Regional Park, numa comprida trilha sem pavimentação que continha apenas quatro casas e a loja do Regional Park. 

Fiquei ainda um tempo dentro do carro, tentando controlar a minha respiração e podia sentir meu coração artificial batendo descompassado. Tentei relembrar algum livro que eu tivesse lido, que falasse sobre como controlar ansiedade. Sem sucesso. Literalmente, os dezoitos livros que eu havia lido até agora, não falava nada sobre ansiedade, apenas romance água com açúcar. Ri de mim mesmo. 

Respirei fundo, ainda sentido o odor do motor de Harold no ar, mesmo que eu já tivesse desligado há muito tempo. Desço do carro, tirando a chave da ignição. A propriedade dos Willians parecia tão majestosa. Na entrada possuía um jardim, que apesar de estar totalmente maltratado, ainda tinha um certo charme. As paredes externas possuía tijolinhos em tom de vermelho amadeirado, as portas e o pilar em branco. 

Tudo ali era silencioso, me questionei se realmente estava no endereço certo. Caminhei até a porta de entrada, procurando o botão da campainha e toco. Ouço algum barulho vindo de dentro da casa, mas logo em seguida o silêncio retorna. Decido tocar novamente a campainha. Depois de alguns segundo vejo a porta se abrir lentamente revelando uma garota muito bonita. 

Ela mantinha o olhar um pouco distante. Dei mais alguns passos, me aproximando da porta, e então a garota ergueu o olhar até mim. Os olhos eram castanhos, quase cor de mel. O rosto era indescritível, tão lindo quanto uma daquelas modelos de revista. Ela tinha o cabelo comprido liso, levemente ondulado nas pontas em um tom castanho escuro. 

— Boa tarde. — cumprimentei, já imaginando que ela saberia quem eu era. 

— Boa tarde. — ela respondeu, olhando para o chão parecendo querer esconder algo em seu rosto. Fiquei sem entender. Sr. Walter havia me falado, que a menina com quem eu trabalharia possuía uma deficiência. Mas eu não conseguia perceber, qual era. — O escritório que agora é a sala de estudos fica no final do corredor, é só seguir e abrir a última porta. 

Quebrando as regras do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora