Capítulo 2

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Emma Willians

A manhã de domingo chega depressa, e assim que acordo me sinto um desastre. Meus olhos pesam por ter dormido pouco e meus ossos doem pela quantidade de vezes que me virei na cama durante a noite. Eu poderia dizer que acordei no meio da madrugada, assustada por ter sonhado outra vez com o mesmo cara, porém nem sei se cheguei a dormir. 

Dessa vez, não foram necessárias tantas noites para que ele voltasse a aparecer em meus sonhos. Eu consigo senti-lo, como se ele estivesse perto de mim. Mesmo sem saber seu nome ou paradeiro, de alguma forma, ele já faz parte de mim. 

Mais tarde, Susan chega para me fazer companhia. Estamos sentadas no telhado de casa, próximas da janela do meu quarto. Nunca gostei de coisas fáceis, e sempre acreditei que alguém que vive constantemente sem desafiar-se não detém muito crédito. Acho que é por isso que, de todos os lugares da casa, o meu favorito é o mais complicado. 

Compartilhei meu lugar favorito com Susan quando ainda éramos crianças, e ela veio morar a umas cinco quadras da minha casa. Nos tornamos melhores amigas imediatamente, talvez porque eu a tenha atropelado com meus patins. Naquela época minha visão ainda era perfeita, mas não vi quando Susan cruzou meu caminho com seu skate, e o resto é só uma longa história que envolve machucados e pais desesperados por pouca coisa. 

— Onde você conseguiu todos esses livros? 

Estou passando a mão pela pilha de exemplares que ela deixou no batente da janela atrás de nós. 

— Ah, eu meio que conheço o novo atendente da biblioteca pública...

— É o Lucas, na verdade. 

— Ficou muito obvio, não é?! — ela solta um risinho, e escuto-a folhear algumas páginas, até que encontra algo que parece agrada-la. — Como você imagina... a Muralha da China?

— Sério? Essa é fácil demais... — olho para o horizonte e penso no lugar. — Um grande muro sem fim, talvez com uns quatro metros de altura?

— Quatro metros de altura, Emma? — Susan ri — Isso é o tamanho do muro da minha casa. 

— Tá, okay... Uns vinte metros então. 

— Também não precisa exagerar! 

Desisto de fazer suposições de algo que nunca vi. 

— Você está com uma imaginação péssima hoje, hein? A Muralha da China tem quase oito metros de altura. 

Um silêncio ridículo me envolve. Não ter um dos sentidos já é o suficiente, então não preciso de algo mais faltando em minha vida. Gosto de barulhos e sons, porque isso sempre me aproxima mais do mundo real. 

— Susan?

— Ok. Eu estava somando seus pontos. 

— Fui muito mal?

— Cinco pontos pela leve aproximação com a altura do muro, menos dez pela história toda das árvores, e mais quinze pelo céu sem nuvens. Dez pontos é o seu total. 

Pego um dos livros atrás de mim e percebo que ele está em baile. Aprendi a ler de maneira codificada, entendi que é muito mais rápido do que usar a lupa, apesar de eu preferir tentar enxergar as letras como elas verdadeiramente são.

Passo com rapidez as páginas do livro recheadas com pontos turísticos de vários lugares e acabo parando do outro lado do mundo. Está é a minha pior pontuação em todas as nossas partidas até agora. 

— O que você tem hoje? — ela pergunta. 

Viro o rosto para ela como se pudesse vê-la perfeitamente. Enxergo o contorno do rosto, o cabelo curto impecavelmente penteado, com cachos perfeitos. Percebo os movimentos de seus lábios, mas não distingo a cor dos seus olhos. 

Quebrando as regras do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora