Capítulo 3

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Matt Hunter

Dois anos antes...

Sempre achei engraçado o fato de as pessoas usarem a expressão "azul como o céu". Quer dizer... não que seja mentira, mas será que elas se esquecem de que o céu na verdade muda de cor todos os dias? Do azul para o laranja. Do laranja para o salmão. Do salmão para o roxo, depois para o azul-marinho, e para o laranja mais uma vez. Além da infinidade de tons entre cada uma dessas cores. 

Se olharmos mais a fundo, vamos perceber que isso lembra um pouco a forma  como nós enxergamos as pessoas. Montanhas de sentimentos e características são ignoradas e, em um piscar de olhos, passam a ser resumidas em palavras fúteis ou estereotipas. Alto ou baixo. Gordo ou magro. Branco ou negro. Bonito ou feito. Rico ou pobre. Doente ou saudável. 

Por que a aparência física de alguém influencia no que as pessoas pensam sobre ela? Ou melhor: porque o fato de uma pessoa ser pobre, portadora de alguma deficiência, ter pele de uma cor ou outra, ter uma orientação sexual qualquer a torna inferior aos sujeitos considerados " normais" por esta sociedade de mente atrofiada? Eu não me lembrava de ter lido essas regras em lugar nenhum, nem de ter aprendido na escola. 

Nem todos acreditam no que eu estou dizendo. A maioria acha que isso não passa de uma bobagem sem sentido. Se você é uma dessas pessoas, sinta-se à vontade para me chamar de politicamente correto, louco, lunático, idealista ou qualquer outro adjetivo que seja do seu agrado. 

Mas tem uma coisa que você não pode negar de jeito nenhum, porque já foi provada e comprovada — e a prova se repete todo dia, mas nós cometemos o grande erro de esquecer:

O céu não é só azul. 

E as pessoas não são só que parecem ser.

Sentados à mesa em silêncio, encarando os nossos pratos intocados do café da manhã, parecíamos estátuas de mármore melancólicas numa escultura de banquete. Ouvíamos nossa mãe no andar de cima, quebrando coisas e gritando de raiva e desespero. 

Olhei para Tyler esperando alguma reação, e de repente um barulho mais forte. Ela devia ter quebrado um objeto bem grande. Não houve reação. Nós dois continuamos inertes, perdidos. 

Mais um grito e eu quase pude ouvir meu coração se partir em mil pedaços. O pior sentimento do mundo é o da impotência diante do sofrimento de uma pessoa que amamos. 

Eu queria estar lá para consolar nossa mãe. Não... para protegê-la. No fundo o que eu queria mesmo era poder estar no lugar dela, sentindo aquela dor, aquela revolta. Mas não poderia. 

Quando ela deu o primeiro grito de desespero, eu tinha feito menção de correr para o seu quarto, mas meu irmão me impediu. Ela precisava de um tempo para respirar, assim como todos nós, mas... não me parecia certo simplesmente ficar ali escutando minha mãe chorar como se o mundo tivesse acabado. De certa forma, tinha acabado mesmo. 

— Perdi o apetite — Tyler disse, se levantando de repente. 

Eu o encarei enquanto me dava as costas e se dirigia a escada que levava para o seu quarto no sótão. Fiquei ali por alguns segundos, olhando para o vazio, até que me levantei. Não aguentava mais ficar parado em silêncio enquanto minha mãe chorava no andar de cima. Ela era a alegria da casa. A nossa luz, que agora parecia prestes a se apagar. 

Quebrando as regras do amorOnde histórias criam vida. Descubra agora