Capítulo Quatro - Tesouro no Lago

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   – Isso mesmo. Irei comandar todo o exército e marcharemos até o fim do universo!

   – Me desculpa. Foi um engano – a robô voltou a segurar a caixa e a andar.

   Fahad riu baixinho da situação e logo se indagou o motivo da pergunta. Nem sabia que existia alguém fora do Conselho que comandava o exército.

   A robô, usando blusa e calça de flanela cinza, subiu numa das asas da nave, essa nave que era semelhante a um trailer espacial. A tinta da cosmonave estava gasta e parecia faltar uma ou duas peças importantes do casco, assim como o da robô.

   No meio da indagação, ele ficou parado no meio do jardim do templo que ficava no meio de uma floresta que cobria meia parte de um planeta, e nem ficava no meio da galáxia, e sim perto da borda.

   Um bom lugar para se questionar sobre ser uma das pessoas mais importantes que muitos não fazem nem ideia que exista.

   Ou só sobre ser alguém.

   – Posso perguntar – Fahad tentou, porém foi interrompido na fala.

   – Você é Fahad Caelum, certo? Irmão de Dahlia Caelum? – disse enquanto parecia consertar o casco da asa com peças da caixa.

   — Talvez eu seja sim – falou se aproximando para ouvir melhor.

   — Talvez? Então talvez eu, que possivelmente me chamo Nazára, e provavelmente o Pluniano Laen tenhamos, por acaso, vindo aqui por vocês. E, porventura, vocês dois façam parte dos Cartografistas para, quem sabe, se tornarem membros de nossa guilda.

   — Ok. Você é bem articulada para um robô, mas acho que só entendi uma ou duas palavr – e foi interrompido de novo.

   — Laen falou com vocês? – parou de girar parafusos e olhou o garoto com olhos amarelo brilhantes – nós precisamos de mais.

   — Mais educação?

   — Mais humanos. Para experimentos específicos.

   Fahad lembrou das histórias da mãe, onde discos voadores com luzes piscantes puxavam os humanos para dentro de naves e enfiavam sondas dentro das–

   — Por que essa cara de nojo? É tudo dentro da lei, moral e eticamente correto.

   —  Não me convenceu – o garoto deu meia volta e foi em direção as pessoas lá de dentro – sei que eu não entro nessa sucata velha. E Dahlia muito menos.

   — Sucata? – Nazára falou consigo mesma – sarcasmo? Provocação – voltou a concertar a cosmonave, agora cantarolando uma canção estranha, parecendo um sintetizador.

   Fahad olhou uma última vez a nave, e para a surpresa dele, não foi a nave que lhe chamou a atenção. E sim uma torre distante na floresta.

   — Fahad, vêm aqui um momento! – um velho senhor chamou a atenção do garoto e ele se virou e acenou com a mão, voltou a olhar para a floresta e não viu mais nada além da flora.

   Alta e pálida torre que não estava lá antes, e subitamente não estava lá depois, pois sumira de repente. O garoto não pôde perceber detalhes, foi rápido e bizarro demais.

   Ficou parado de olho na floresta, muitas coisas eram novas para os humanos e aquilo não era diferente... Era só que parecia ser de outro tipo, se tratar de outra coisa. Desistiu por enquanto e voltou ao salão.

   Talvez depois fosse ver de perto o local? Era de uma bizarrice peculiar o que aconteceu, lhe causou um frio na barriga, mas também uma curiosidade lhe desperto como nenhum cálculo ou experimento de escola havia feito.

   — Oi Ben, problema na maquina de refrigerante de novo?

   O velho Ben era amigo de Altair, e cuidava do armazém do templo. Cabelos brancos e roupas simples, era um simplório nato.

   — Essa caixa dos infernos vive parando. E você sabe, meu jovem, que não sou bom com essas coisas... Sou bom em outras! Na minha época, tive que–

   — que o senhor combateu as feras daqui bravamente, o grande Sem Carne morreu pelas suas mãos e a cidade foi salva.

   — Isso mesmo, meu rapaz. Não teve nem chance!

   O grande Sem Carne é uma espécie de bípede parecido com um macaco da Terra, mas com carapaça feita de osso. Pacífico, ele cuida da floresta e de seus semelhantes. Sempre atento, qualquer ameaça à natureza é destruída por esse guardião honrado e gentil.

   Ou era, até levar um disparo de laser de Ben, um colonizador, no olho e morrer.

   – Grandes batalhas de um minuto e trinta segundos... – Fahad disse, mexendo na fiação atrás da máquina vermelha

   – Trinta e seis, meu jovem. Trinta e seis.

   Fahad soltou os fios e bateu as mãos como se tirasse muita sujeira imaginária dos dedos.

   – Problema resolvido! Terá seus refrigerantes – o velho se animou – assim que a energia voltar – o velho desanimou.

   Depois de tomar banho e se trocarem, Fahad conseguiu um pequeno trabalho de trazer água para lavar roupas, limpar comida e qualquer outra utilidade aquática.

   Não esperaria coisa nenhuma.

   Dahlia pediu o rifle emprestado ao antigo padastro e Altair se alegrou com a possibilidade de finalmente a menina se interessar por matanç- digo, artigos de caça.

   — ... então, sim. Acredito eu seria perfeito para o cargo - Fahad falava com um brilho no olhar.

   — Olha, eu não disse que não seria - Dahlia abraçava desajeitada o rifle de alta voltagem - eu só acho que essas pessoas são malvadas demais. Sempre pensando em guerra e tanques de guerra e naves de guerra.

   Os dois seguiam uma trilha no bosque, perto do templo. O garoto puxava um carrinho de metal com um garrafão vazio nele.

   Nem pareciam parentes. Enquanto Fahad se vestia com roupas largas e monocromáticas, Dahlia vestia mais formal com blusa de botão.

   — Malvada é você com esse rifle, cuidado para não ser um Velho Ben 2 com essa mira haha - o garoto ficou rindo baixo da própria piada enquanto procurava algo por entre as árvores. Dahlia tentou segurar o rifle como fazia seu antigo padastro Altair. Não conseguiu.

   — Eennfiim. Fahad Al-Hashid, Comandante do Exército do Conselho seria irado - os dois chegaram nas margens de um lago circular - na verdade, te trouxe aqui pela torre branca que eu vi mais cedo. Estava em algum lugar por aqui, tenho certeza.

   A garota hesitou por um segundo, mas logo começou a olhar para os lados, procurando.

   — Que tamanho tinha mesmo? — ela subia o pequenho pier do lago, Fahad já começara a encher o garrafão na água — Você não disse.

   — Ahn, acho que — ele olhou para trás e vio o templo por entre os galhos das árvores — maior que o templo. Não tanto, talvez?

   Dahlia estava na beira do pier e mirava o fundo das águas.

   — Talvez para muito ou talvez para pouco? — e antes de Fahad retrucar o que "não tanto" significava — achei!

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